Pandemia, racismo, ignorância e a necessidade de desabafar

Roger Machado e Marcão deram o recado há quase um ano. A luta contra o racismo é de todos. Foto: Mailson Santana/Fluminense FC

Eu adoraria estar aqui falando todo dia só sobre bons momentos do futebol. Sobre uma partida realizada no final de semana, sobre tática, técnica e história, sobre o que para muitos é paixão e para outros tantos é a vida. Queria ter os domingos de jogos, de trabalho, de vida normal. Queria voltar a encontrar quem me faz bem – meus colegas, meus amigos, minha família, meus amores. Mas não tá fácil.

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Vivemos em um período de extremos e de ignorância. Abandonamos o diálogo, a ponderação e a compreensão para, armados de todos os insultos possíveis, duelar pela (falta de) razão nas redes sociais. É um tempo em que ainda vemos condutas arcaicas, atrasadas e inomináveis. Tempo em que negros ainda morrem apenas pelo fato de serem negros.

E também um momento de enfrentamento da pior crise sanitária das nossas vidas. Precisamos tourear o invisível, mas somos obrigados ainda a encarar o negacionismo, a falta de crença na ciência, a ignorância multiplicada em mensagens de aplicativo, o descompromisso com a verdade em nome de uma pretensa política. Ouvimos pessoas que não se importam com a morte de desconhecidos, de idosos, de integrantes de grupos de risco.

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Nesse reino de mentira e barbárie, é preciso se manifestar. É levantar a bandeira do respeito e da igualdade. Chega desse cenário em que vidas negras valem menos. Vidas negras importam. Nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil. Olhando pro nosso canto, foram e são os negros responsáveis por criar a unidade desse povo tão distinto e ao mesmo tempo tão parecido. Somos o que somos por causa de Machado de Assis, de Pixinguinha, de Pelé. O mais universal dos brasileiros é negro, como George Floyd.

E não podemos permitir que a ciência e a medicina sejam negadas. Graças aos estudos e a competência de cientistas, médicos, enfermeiros, biólogos e professores, podemos hoje pensar em viver 80, 90, 100 anos. São os médicos, apoiados na ciência, na tecnologia e em tantos profissionais de apoio, que salvam vidas tão próximas ou tão distantes. E que lutam para a criação de remédios e vacinas que nos protejam do coronavírus.

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No futebol, no direito, na política e na comunidade, precisamos nos manifestar. Pra sonhar com um futuro melhor, às vezes é preciso ajustar o presente.

Somos maiores que a mentira. Somos maiores que a barbárie. Somos maiores que o arbítrio.

Somos mais.


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