"Nunca critiquei": o torcedor pode fazer isso, jornalista não

Marcelo Cirino, Ruy, Thiago Lopes e Jenison: nunca critiquei. Fotos: Albari Rosa/Arquivo, Isaac Feitosa/Foto Digital e André Rodrigues/Arquivo

“Nunca critiquei”. A frase é usada todos os dias em que há futebol rolando – como temos jogos todos os dias… É o resumo que torcedores fazem para falar de um jogador que é sempre criticado, mas que faz um gol decisivo (ou, no caso do goleiro, uma defesa de pênalti, por exemplo). Não se fala isso para apagar o que se disse antes, mas sim como uma ironia ao fato de ‘queimar a língua’ com determinado atleta.

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Quando trabalhei com o Edílson de Souza na 98 FM (trabalhamos juntos na Transamérica também), ele sempre sacaneava os comentaristas – eu, Guilherme de Paula, Carneiro Neto e Leonardo Mendes Júnior. A gente passava o jogo todo descascando um jogador e, do nada, ele decidia a partida. “E a língua do comentarista faz tsssssssssssss!”, ele dizia, meio que verbalizando o que o torcedor que nos ouvia deveria estar pensando.

É do jogo. Tivemos vários casos assim. Neste domingo (2) foi o dia de Ruy. A entrada dele já não foi aceita pela maioria da torcida do Coritiba e por muitos analistas. Ele foi lá, fez dois gols e agora tenta escrever uma nova história dentro do clube. No Athletico, houve jogador mais questionado do que Marcelo Cirino nos últimos dois anos? E no final, quem é que faz a jogada de antologia para o gol do título da Copa do Brasil? “Nunca critiquei”.

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Dois lados

O torcedor tem todo o direito de cobrar – com respeito, sem ofensa -, vaiar, ironizar, transformar o boleiro no problema maior do seu time. Também neste domingo, Lucho González foi o protagonista das redes sociais por conta dessa irritação dos atleticanos. Ano passado, Jenison foi alvo da galera do Paraná Clube – claro que principalmente por causa da entrevista do ‘trampolim’. Mas a galera tá na dela, e não há nada errado em ser assim.

Só que o analista não pode. É obrigação nossa saber que há muitas variáveis que ajudam ou prejudicam um jogador na sua atuação em campo. E que em um sem-número de vezes o cara que não jogou nada num dia pode virar o dono da partida seguinte.

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Nós não temos o direito de colocar o carimbo de ruim num atleta com base em um jogo. O tempo diz se ele é bom ou ruim (e é claro que tem jogador ruim), se vai ser útil ou não, se está encaixado no sistema de jogo ou não. Pode ser que esse tempo seja curto, mas não pode ser por birra ou por ‘não ir com a cara’ de um jogador que vamos basear uma análise.

Quer dizer que fazemos isso sempre? Claro que não. Mas não quer dizer que não esteja sempre errado. Afinal, nunca critiquei.

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