O final da semana passada teve uma grande polêmica, e não foi a ação do VAR ou um resultado específico no Campeonato Brasileiro, e sim o plano de retorno dos jogos com torcida. A iniciativa partiu do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, mas parece ter sido feita sob encomenda para o Flamengo – assim como uma lei que anda gerando discussão nos últimos meses. É uma ideia maluca, pra não dizer outra coisa.
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Do nada – repito, do nada – veio o prefeito Crivella na quinta-feira (18), ao lado do presidente da Federação do Estado do Rio de Janeiro, anunciar um “plano de retomada” dos jogos com torcida. Tudo tratado como se fosse lindo, afinal era preciso “tirar as pessoas da praia” e com data marcada: o dia 4 de outubro, no jogo Flamengo x Athletico, no Maracanã. E por uma incrível coincidência, começaria por aí e sem data de realização nos outros estádios da Cidade Maravilhosa.
A reação demorou, talvez pela surpresa que foi a tomada de posição oficial de uma autoridade, mas veio. O Corinthians ameaçou não entrar em campo e foi seguido por Botafogo, Vasco, Fluminense, São Paulo, Grêmio, Internacional e Atlético-MG. No sábado (20), o UOL informou que conseguiu contato com 17 clubes do Brasileirão e 16 eram contra os jogos com torcida neste momento. Só o Flamengo era a favor, e três não tinham se manifestado, entre eles o Athletico.
Jogos com torcida: a quem interessa?
É claro que abrir um estádio sem receita não é bom para os clubes. Tá todo mundo gastando dinheiro sem receber nada nas quatro séries do Campeonato Brasileiro. Mas é um problema de todos, e que só poderia ser resolvido em conjunto. A CBF já estudava um protocolo de retorno aos estádios, e tentava fazer o meio-campo com prefeituras (através dos clubes) e com o governo federal, que é – que surpresa – favorável à medida.
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Cautelosa com essa situação, mas nem tanto, a entidade pensava em retomar os jogos com torcida em novembro – em todo o País, ao mesmo tempo, se possível no início do segundo turno da Série A. Mas aí surge a decisão da prefeitura do Rio, que acabou sendo brecada por um decreto do governo estadual, que proibiu a presença de público nos estádios de futebol. Só um maluco vai achar que consegue juntar 23 mil pessoas (30% da capacidade do Maracanã) e separá-las com um metro e meio de distância por 90 minutos.
Mas por que isso? Porque sabemos que o Flamengo tem um ambiente tremendamente favorável nos jogos em casa com torcida – lembrando que a medida permitiria apenas torcedores do time mandante. Sem apoio e com um time em reformulação, o campeão brasileiro e ainda favorito ao título desta temporada vem sofrendo com a irregularidade. E pediu ajuda aos políticos, como fizera meses atrás com a MP do Mandante – por sinal, alguém ainda acredita que haverá negociação em bloco de direitos de transmissão no futebol brasileiro?
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Quem se daria bem?
Claro que o principal beneficiado seria o rubro-negro carioca. Mas a medida política vai mais longe. O prefeito do Rio de Janeiro acha que ganhará popularidade com a maior torcida do País, o que poderia lhe ajudar na busca pela reeleição. E também dá uma ajudada na relação com o governo federal, que pelo jeito acredita mesmo que está cuidando bem da pandemia do novo coronavírus.
E, como você pode perceber, ninguém tratou do tema com os especialistas. Com os médicos, com os infectologistas, com quem está na linha de frente. E duvido que os que vieram com a ideia de voltar já com os jogos com público tenham um plano decente para evitar aglomerações dentro e fora dos estádios. O papel aceita tudo, mas quero ver funcionar na prática.
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Discussões sobre a vida das pessoas sem ouvir especialistas é quase um esporte nacional. Sabendo que há quem compartilhe dessa ideia de “gripezinha” que é espalhada por aí, jogam com a saúde de dezenas de milhares de torcedores por causa de votos em uma eleição, ou por causa de três pontos na tabela. Mas sei que, como foi com a volta em si do futebol, eles vão empurrando até a porta ceder. E, certamente antes do que se deve, teremos partidas com público no Campeonato Brasileiro.