20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Uma data sempre importante, mas que ganhou forte significado neste 2020 insano que estamos vivendo. Em meio a uma pandemia, acompanhamos momentos dramáticos nas ruas pelo mundo. Mas vimos o poder transformador do esporte nas atitudes afirmativas de atletas.
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Este ano tem muitas caras, mas duas delas são de Lewis Hamilton e LeBron James. No período crítico da contaminação pelo novo coronavírus (se não cuidarmos, a segunda onda chega rapidinho no Brasil), com a crise econômica mundial afetando os mais pobres, o piloto e o jogador de basquete fizeram o mais difícil mas o mais certo – se posicionaram.
“E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos”
(Caetano Veloso e Gilberto Gil, Haiti)
Ambos já vêm de ações antirracistas, não é de hoje. Mas quando George Floyd foi morto numa rua dos Estados Unidos, os dois lideraram uma mobilização inédita no esporte. De um lado, LeBron comandou uma tomada de posição que chegou até os cartolas da NBA, fazendo com que todo o retorno da temporada tivesse como tema a frase “vidas negras importam”. E Hamilton, o único negro entre os pilotos da Fórmula 1, empurrou um sistema retrógrado até conseguir chamar a atenção do mundo para o racismo.
E por aqui?
O Brasil, e em especial o futebol brasileiro, precisava ter um papel essencial na discussão do racismo estrutural e em ações antirracistas de vulto, e não só neste Dia da Consciência Negra. Somos o que somos, uma potência do esporte, por conta da presença negra – de Friedenreich até Pelé, o Rei do Futebol. Mas somos tímidos nesse posicionamento. Por conta de uma visão antiquada e errada. Por conta das vistas grossas que CBF e clubes fazem a atos de racismo. E pela falta de mobilização dos nossos atletas.
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A discussão sobre o racismo não deve ser feita no futebol. A imprensa discute seu papel de forma atrasada mas bastante corajosa, expondo a ausência de negros em cargos de chefia, em protagonismo na tela e em posições majoritariamente ocupadas por brancos. A sociedade, movida às vezes pelo ódio e pela necessidade de politizar tudo (até o que devia ser algo de nação, e não de governo), também engatinha no tema.
Luta negra demais / (Luta negra demais!) / É lutar pela paz / (É Lutar pela paz!)
(Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli, Tributo a Martin Luther King)
Mas, como já disse outras vezes em outras situações, o futebol brasileiro tem uma relevância enorme e tem servir como exemplo positivo. Abraçar em definitivo a causa antirracista não significa ser extremista – pelo contrário, é uma atitude de encontro com o Brasil profundo – que fica a cada dia mais necessário, por fatos como o da noite desta quinta-feira (19), quando um homem negro de 40 anos foi espancado até a morte por seguranças de um supermercado em Porto Alegre. Que esse Dia da Consciência Negra sirva para abrir a consciência de todos nós.