Uma matéria dos meus queridos colegas da Gaúcha ZH me chamou a atenção: a dois dias de um Grenal eliminatório, o gremista Éverton Cebolinha e o colorado Rodinei fizeram – juntos – uma surpresa para crianças que estão em tratamento de câncer. Um espetáculo de solidariedade. E fiquei pensando se seria possível acontecer algo semelhante por aqui – de ações humanitárias a posicionamentos estratégicos. E, ao mesmo tempo, qual seria a reação das torcidas. Será que interessa uma união entre Athletico, Coritiba e Paraná Clube?
Histórico
Já vimos algumas tentativas de ação em conjunto. Esses tempos, o nosso Ayrton Baptista Júnior, o Tusquinha, lembrou no podcast De Letra que em 1989 houve uma espécie de ‘clube dos 13’ paranaense – com apenas seis clubes, mas tentando dar uma organizada no Campeonato Estadual. Não deu certo, assim como em outras situações.
+ No podcast De Letra especial, as seleções da década do Trio de Ferro
Em 2015, houve uma forte aproximação entre Athletico e Coritiba, gerando inclusive patrocínios compartilhados. Mas a relação se esfarelou depois do Coxa romper unilateralmente o contrato de cessão do Couto Pereira ao Furacão em 2017 – havia um acordo que os clubes cederiam seu estádio caso necessário, e o conselho deliberativo alviverde pressionou a diretoria a não liberar o Alto da Glória para a partida atleticana contra o Santos pela Copa Libertadores. O caso foi parar na Justiça, e nos anos seguintes houve também brigas por espaço para torcida visitante na Arena da Baixada.
Athletico e Paraná também tiveram uma relação próxima recentemente, que foi mais forte quando Carlos Werner era ainda o mecenas tricolor e conseguiu, diretamente com Mário Celso Petraglia, o aluguel da Baixada para o jogo contra o Internacional pela Série B. Os empréstimos de jogadores nos últimos dois anos mostram que, apesar de ter esfriado, o relacionamento entre os clubes ainda existe. Entre Tricolor e Coritiba, apesar de um ou outro tropeço, as coisas também se resolvem bem.
A aliança decisiva
Mas falta mesmo essa conexão entre Furacão e Coxa. E nessa hora não dá apenas para jogar pra torcida – se você fizer uma pesquisa, é possível que os torcedores não queiram nem ver o adversário pintado de ouro. Só que institucionalmente não pode ser assim. É preciso ter cada vez mais força para negociações com patrocinadores, Federação Paranaense e grupos de mídia. E se Athletico, Coritiba e Paraná estiverem fechados, tem poder para mudar nosso futebol – se não no comando da FPF, que depende dos clubes amadores, mas em uma profissionalização maior dos nossos campeonatos. E inclusive combaterem a violência que afasta os torcedores dos estádios.
Gaúchos e paulistas mostram que é possível fazer isso. Grêmio e Internacional vivem a maior rivalidade do futebol brasileiro, disparado, mas institucionalmente tem uma série de ações conjuntas, inclusive em algumas negociações de direitos de transmissão. Os presidentes de São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Santos têm reuniões constantes, impõem sua vontade no cenário local e, como grupo, estão mais fortes – tanto que os quatro conquistaram vagas na Libertadores (o Timão, como se sabe, já foi eliminado).
Há tanto tempo queremos um futebol paranaense forte – teve cartola que usou isso como slogan de campanha, apesar de querer só o bolso dele forte. Temos dirigentes no Trio de Ferro com inteligência suficiente para perceber que sozinho não se chega tão longe. Se os momentos de Athletico, Coritiba e Paraná são distintos, para o mercado publicitário e para a mídia nacional ainda estamos distante de um ‘outro patamar’. Unidos, os três clubes podem mudar essa história. E o começo pode ser uma simples ação para crianças carentes.
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