Não é de hoje que se fala no fim dos campeonatos estaduais como nós conhecemos. Mas o que era uma conversa que sempre parava porque precisava ser “no final do contrato” de direitos de transmissão ganhou força nos últimos dias. E é a realidade que vai atropelando os torneios locais. Tudo em nome de um calendário mais racional e por competições mais atraentes.
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Acho que todos têm a sensação de que não dá mais para ter campeonatos estaduais como eles são realizados atualmente. São torneios deficitários, com média de público muito baixa, normalmente com disparidade técnica gigante e com fórmulas desinteressantes. O valor dos regionais é ainda movimentar um grande número de clubes e atletas (trato mais disso no fim do post). Mas será que só isso justificaria?
Nesse momento não. Querendo ou não, o futebol é negócio e é produto. E quem se interessa em comprar os direitos de transmissão quer um produto de qualidade para exibir – na TV aberta, fechada, no pay-per-view ou no streaming. Por que cada vez mais jovens se voltam para o futebol europeu e desprezam os campeonatos estaduais? Porque lá os jogos são mais emocionantes, há mais talento, o produto é de boa qualidade.
Fim dos campeonatos estaduais?
Esse fenômeno de queda de interesse dos estaduais não vem de agora. As audiências só aumentam quando são mostrados clássicos ou as finais. E mesmo assim longe do que uma partida normal de Campeonato Brasileiro pode atingir. E aí mora o ponto principal do que pode acelerar o processo de no mínimo uma transformação dos campeonatos estaduais.
A série de alterações no modelo de negócio das empresas de mídia e a medida provisória que muda a forma de venda de direitos de transmissão fazem com que o Campeonato Brasileiro precise ser ainda mais valorizado. Se a intenção é permitir que haja maior concorrência, é fundamental cuidar direito do Brasileirão. Só com uma competição realmente interessante é possível arrecadar mais em direitos.
E uma das questões decisivas envolve o calendário. O Brasileirão precisa ter mais tempo, ser disputado por todo o ano. Isso inclusive permitiria aos clubes receber as verbas de TV em todos os meses, e não apenas em um determinado período. E para ter mais tempo de campeonato, não dá para continuar com quatro meses de campeonatos estaduais.
Efeito coronavírus
Faltava talvez um ‘empurrão’ para colocar os estaduais na parede. E veio com os efeitos da pandemia do novo coronavírus no calendário do futebol brasileiro e principalmente no caixa dos clubes. Sem dinheiro à vista com a suspensão dos pagamentos das empresas de mídia e com menos datas disponíveis, os clubes das séries A e B do Brasileirão largaram mão dos regionais.
Esse movimento, somado à crise sanitária que parece só pior, gera esse risco de vários campeonatos estaduais serem encerrados antes do final. O que parecia ‘apenas’ lógico quando da parada do futebol agora começa a se tornar possível. As federações estão desesperadas pra manter suas competições, até porque elas também esperam a parte delas dos direitos de transmissão. Por aqui, já se estuda um ajuste da fórmula do mata-mata pra salvar o Paranaense.
Com o Brasileirão indo provavelmente até fevereiro, os campeonatos estaduais passam a ser um empecilho para o acerto do calendário do futebol também em 2021. E por mais influência política que as federações tenham, algo que ficou claro na entrevista do presidente da CBF, Rogério Caboclo, para O Globo, o poder do dinheiro e a decisão dos clubes em ‘largar’ as competições pode provocar uma mudança radical no esporte.
Outro lado
Mas não podemos simplesmente achar que os campeonatos estaduais acabam e tá tudo certo. É preciso criar mecanismos para que os clubes menores tenham calendário. Transformar as competições em seletivas para a Série D é a primeira e obrigatória decisão a ser tomada. Pensando em campeonatos sem os times das séries A e B, você cria dois atrativos aos estaduais: a chance de ser campeão e a classificação para uma disputa nacional (ou duas, pensando na Copa do Brasil).
Para termos um futebol brasileiro organizado, competitivo e valorizado, precisamos cuidar do topo sim, mas não podemos esquecer a base. A indústria do esporte não se restringe a 40 clubes, e pensar na modernização do calendário e na valorização do Brasileirão exige dar resposta e oportunidade para quem não está na elite.
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