Outubro de 2012 em Wroclaw, no interior da Polônia. No lobby do hotel da seleção brasileira, que se preparava para dois amistosos, jornalistas aguardavam pelos jogadores, enquanto torcedores rezavam para que pudessem ter a sorte de tirar um foto com um dos craques do País. Mas, na recepção do hotel, dois intermediários de bancos de Genebra também faziam plantão. Eles estavam esperando a chance de conversar com os jogadores e oferecer seus serviços financeiros. Nenhum deles jogava na Suíça. Mas isso era o que menos importava.

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Nos últimos meses, casos de suspeita de fraude fiscal foram abertos contra Lionel Messi, Neymar, Suárez, Xabi Alonso e dezenas de outros craques, além de Luis Felipe Scolari, dirigentes, agentes e clubes como o Barcelona e a Juventus.

A onda de casos não ocorre por acaso. Autoridades fiscais da Espanha, Itália, Reino Unido, Alemanha, Croácia, Portugal e outros países decidiram fechar o cerco contra o futebol depois que, em 2009, um levantamento feito pela OCDE alertou aos governos que o esporte havia se transformado em um “veículo ideal” de fraude fiscal e lavagem de dinheiro, evadindo milhões de euros em impostos.

Procuradores se puseram a trabalhar e, poucos anos depois, começam a revelar a criação de verdadeiros esquemas para camuflar a renda de jogadores, com a criação de empresas em paraísos fiscais, contratos falsos e a manipulação de acordos de exploração de imagem.

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A engenharia financeira consiste em reduzir o valor do suposto salário do jogador, garantindo que tanto o atleta como o clube paguem menos impostos. Para isso, contratos fictícios de direitos de imagem são assinados com empresas em outros mercados, fugindo do fisco e legitimando pagamentos.

Nos últimos cinco anos e antes dos atuais casos eclodirem, o Tribunal Supremo da Espanha já havia dado sentença contra Luis Figo, Luis Enrique e Kluivert, acusados de montar estruturas para esconder parte de suas rendas obtidas com a TVC, a televisão catalã.

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Em fevereiro de 2014, Rivaldo foi condenado a pagar 2,7 milhões de euros ao fisco espanhol por impostos atrasados de quando jogou no Barcelona entre 1997 e 2002. Nos documentos do tribunal, o brasileiro aparece como tendo fechado um contrato com o time espanhol em 15 de agosto de 1997.

Mais recentemente, o argentino Mascherano passou a ser investigado e, em seu caso, o que chama a atenção é a abertura de duas empresas em seu nome na Ilha da Madeira – um paraíso fiscal – e outra em Miami.

Fontes no Ministério Público da Espanha, porém, indicaram que houve uma mudança de estratégia nas investigações. A partir de agora, os clubes também serão indiciados, em um esforço de mudar o comportamento das entidades. Clubes de elite da Espanha devem mais de 317 milhões de euros ao fisco. A suspeita é de que, com esses acordos paralelos com os atletas, os clubes teriam ainda milhões a pagar em impostos.

Os escândalos passaram a afetar também a relação entre clubes e patrocinadores. Para esta temporada, o Espanyol havia fechado um acordo de US$ 45 milhões com a empresa de tecnologia Power8. Em troca, ela colocaria seu nome no estádio e camisas. Mas uma investigação conduzida em Taiwan alertou que a companhia está usando o patrocínio para fraudar investidores. Depois de atrair empresário para apostar na empresa diante de sua exposição no Campeonato Espanhol, a companhia simplesmente fechou suas portas e deixou de pagar ao fisco local e aos investidores. O clube não recebeu o que esperava e agora inicia um processo legal contra a empresa.

Na Alemanha, o ex-presidente do Bayern de Munique, Uli Hoeness, foi condenado a três anos e meio de prisão por fraudar o fisco em 18 milhões de euros em impostos não pagos. “Eu evadi impostos”, declarou Hoeness diante do tribunal em 2013.

O Fisco italiano abriu investigações contra 41 clubes em 2013. Todos são suspeitos de fraudar o estado, incluindo Juventus, Milan e Napoli. A operação começou quando o MP de Nápoles suspeitou das atuações de 12 agentes, entre eles Alejandro Mazzoni e Alejandro Moggi, envolvidos na manipulação de resultados na Itália.