Rosario – “É provável que o Coritiba saia mais para o jogo, pois não parece que eles conformariam em sair daqui com apenas um ponto”. A frase é de Pablo Sánchez, o articulador das jogadas do Rosario Central. Se ele estiver externando a opinião de seus companheiros e do técnico Miguel Angel Russo, o Coxa vai surpreender os donos da casa esta noite. O pensamento tático alviverde é justamente o contrário: atrair os argentinos para jogar no contra-ataque.

Depois de avaliar os dois jogos do Central na Libertadores, contra Olimpia e Sporting Cristal, o técnico Antônio Lopes confirmou o que pensava desde que chegou à Argentina: os “canalhas” vão partir para cima, na empolgação do público que lotará o Gigante de Arroyito. E a torcida (assim como aconteceu contra os peruanos) vai se irritar se o gol não sair cedo – ou não sair. Aí será a vez do Coritiba usar a pressão a seu favor.

Os jogadores concordam com a tese de Lopes. “Acho que não podemos sair para o jogo desesperadamente. Temos que ter cautela, e buscar jogar em velocidade, usando muito o Luís Mário”, ensina o meia Luís Carlos Capixaba, que será um dos “arcos” alviverdes – o “Papa-léguas”, liberado pelo departamento médico, terá a incumbência de ser a “flecha”, assim como Laércio, que mais uma vez começa jogando.

E Lopes sabe que o Coritiba não pode desperdiçar oportunidades como no jogo contra o Olimpia – tanto que o fundamento mais treinado na Argentina foi o arremate. “Estamos melhorando, e isso é bom porque vamos precisar muito de eficiência. Em jogos difíceis como esse não surgem muitas oportunidades, e quando estivermos na frente do gol temos que colocar para dentro”, explica o treinador coxa.

Na defesa, a atenção (também bastante treinada) é com as bolas alçadas. Além do gol em empate contra o Sporting Cristal, o Rosario teve um sem-número de oportunidades em jogadas aéreas, até porque forçaram os cruzamentos no segundo tempo. “A gente tem que ficar atento a tudo. Percebemos o quanto é diferente jogar uma Libertadores, e não podemos mais falhar em detalhes básicos”, resume Reginaldo Nascimento.

Treino

A última movimentação do Coritiba aconteceu na noite de ontem, quando foi feito o reconhecimento do Estádio Gigante de Arroyito. O técnico Antônio Lopes mais uma vez preferiu um treino leve, para evitar o desgaste do elenco, que veio de uma longa viagem de ônibus entre Buenos Aires e Rosario. O departamento médico autorizou a participação de Adriano (recuperado de uma gripe) e Márcio Egídio (sem dores no tornozelo) para a partida de hoje.

A visita de um goleiro muito ilustre

Rosario – “Este é o melhor goleiro que o Vasco já teve”. A frase do técnico Antônio Lopes é para Andrada, que estava ao seu lado no saguão do Hotel Riviera, concentração do Coritiba em Rosario. O ex-goleiro, hoje funcionário da Prefeitura, foi visitar o treinador coxa e o auxiliar Miguel Ferreira, que como zagueiro foi campeão brasileiro de 1974 ao lado do argentino.

A passagem de Andrada pelo Brasil é, talvez, a mais vitoriosa de um goleiro estrangeiro pelo país – mais que Rodolfo Rodríguez, que García (do Flamengo dos anos 50) ou que Cejas. Contratado pelo Vasco no final de 1968, ele impressionava pela segurança, frieza e pela audácia nas saídas do gol. “Isso ele ensinou. Ninguém saía como ele, com uma tranqüilidade incrível”, conta Lopes, que começou a trabalhar em São Januário nesta época.

O goleiro foi um dos heróis do título carioca de 70, quando o Vasco acabou com um jejum de 12 anos. “Era ele no gol e o Silva no ataque”, lembra o técnico alviverde. “Foram tempos muito bons, porque formou-se um grupo muito bom, que depois foi campeão brasileiro”, resume o goleiro, já citando a conquista que teve com Miguel. “A gente ficava calmo, porque sabia que ele estava lá atrás”, comenta o auxiliar-técnico.

Depois, Andrada passou pelo Vitória, mas sua referência de futebol é o time de São Januário. “Eu me identifiquei com o clube. Cheguei a jogar com a perna fraturada”, dramatiza o ex-goleiro. “Ele estava com uma fissura no perônio, mas mesmo assim atuou em duas partidas. Quando foi confirmada a lesão, o médico Arnaldo Santiago (que depois trabalhou na seleção brasileira) foi demitido”, esclarece Antônio Lopes.

Além de conversar por quase duas horas com Lopes e Miguel, Andrada foi presenteado com brindes e uma camisa do Coritiba, e conheceu Fernando. “Sei que ele é um dos melhores do Brasil. Que continue assim”, elogia o goleiro, que pretende estar hoje no Gigante de Arroyito. Só não pergunte para ele sobre o milésimo gol de Pelé, que está marcado como uma tatuagem em sua vida. “Eu fiquei sabendo que ele não gosta de falar no assunto”, diz Fernando, que preferiu não arriscar.

Fernando, o mais experiente

Rosario – O goleiro Fernando é o jogador com maior “experiência” em Argentina no atual elenco do Coritiba. Foram dois torneios disputados por aqui, ainda nas categorias de base, mas que segundo ele já mostraram que os argentinos disputam qualquer competição para valer.

A primeira foi em 1989, e Fernando ainda era uma criança. “O time da cidade onde eu morava veio jogar contra algumas equipes da região de Buenos Aires”, conta o goleiro, que morava na época em Viamão, Região Metropolitana de Porto Alegre (onde ele nasceu).

Foi com a camisa gremista que Fernando passou pela Argentina em 1993. “Ainda estava nas categorias de base, e o Grêmio foi convidado para um torneio em Buenos Aires”, relembra, confessando que faz um certo tempo que ele passou pela Argentina. “Agora estou maior, mais forte, mais velho…”, brinca.

Mas aquelas viagens, que muitos tomam apenas como brincadeira, ecoam forte na memória de Fernando nesses dias. “A gente precisa sempre tomar cuidado com eles, porque para eles não tem jogo perdido”, resume o goleiro.

continua após a publicidade

continua após a publicidade