O Coritiba iniciou na noite de ontem a sua intertemporada. Em tese, é um período (no total, são onze dias) ideal para a recuperação física dos atletas e para o aprofundamento dos trabalhos técnicos e táticos.
Mas, em seu pior momento no ano, o Coxa busca a reclusão e a união do elenco. A diretoria espera que os jogadores dêem respostas para a má fase, e se estas não vierem, ou não forem satisfatórias, haverá mudanças.
Não se fala abertamente em reforços ou dispensas. O técnico Antônio Lopes (que se integrou ao grupo no final da noite, vindo do Rio) chegou a chamar de “especulação” a possibilidade da contratação de jogadores. Mas a direção alviverde não esconde a preocupação, e já se admite a abertura de um novo período de negociações.
Só que está difícil. As primeiras conversas mostraram um mercado restrito. “Não é fácil fazer esse tipo de coisa. Os jogadores que estão aí, na sua maioria, não serviram para ninguém. Não vamos trazer simplesmente para encher prateleira”, afirma o vice-presidente Domingos Moro. Daí a possibilidade de o Cori não trazer ninguém – e por isso a fixação dos dirigentes no nome de Tcheco. Da mesma forma, não se abre o jogo sobre dispensas.
Com este cenário, a primeira posição do clube é tentar entender o que está acontecendo. E, para isso, os jogadores serão ouvidos. “Vamos falar com eles, mas o mais importante é que eles conversem entre si. Eles precisam buscar essas respostas, porque não dá para explicar a queda de produção do time”, diz Domingos Moro. O vice-presidente garante que não há problemas financeiros no elenco. “Está tudo em dia. O problema não é dinheiro”, afirma. Os últimos vencimentos atrasados foram pagos na quinta-feira.
Para os jogadores, é mesmo a hora de conversar. “Apesar de ser cedo, nós temos que encontrar respostas. Vai ser bom ficar concentrado esse tempo, porque aí a gente conversa mais abertamente”, comenta o lateral Jucemar. Para o atacante Aristizábal, que ficou três semanas em recuperação, o rendimento do time realmente caiu. “Nós não estamos jogando bem, e isso é claro. Mas não podemos esquecer que não jogamos sozinhos. Enfrentamos adversários de qualidade, e que foram melhores que a gente”, afirma o colombiano, que é realista do futuro alviverde. “Nós precisamos melhorar logo, porque perdemos muitos pontos, e a partir de agora não podemos mais fazer isso”, finaliza.
Números mostram toda a diferença das campanhas
Quando perdeu seis pontos no STJD (depois recuperados), todos no Coritiba mantiveram a calma. Afinal, a campanha era igual à do Campeonato Brasileiro de 2003, com o atenuante de ter conquistado os pontos que lhe foram tolhidos pelo tapetão. Agora, com oito rodadas, o Coxa 2004 fica para trás na comparação com o time do ano passado – que tinha três pontos a mais, e estava oito posições à frente.
Em 2003, depois de um início claudicante, o Coritiba de Paulo Bonamigo venceu três jogos seguidos (Figueirense, Atlético-MG e Paraná Clube), deixando a zona de rebaixamento. Na oitava rodada, jogando no Estádio Olímpico, foi derrotado pelo Grêmio por 1×0, freando a subida mas mantendo-se no grupo intermediário. Mesmo sendo o pior dos paranaenses até aquele momento, o Coxa era o 13.º colocado, com dez pontos.
Agora, o Cori de Antônio Lopes começou invicto o Brasileiro, vencendo o Guarani e empatando com Fluminense, Internacional e Atlético. Nos quatro jogos seguintes (já com os pontos recuperados no tapetão), apenas um empate – com a Ponte Preta – e três derrotas. Com isso, após os jogos do final de semana a equipe caiu para a 21.ª posição, dentro da zona de rebaixamento, com sete pontos.
Para efeito de comparação, no ano passado o Figueirense, que era o 21.º colocado, tinha os mesmo sete pontos que o Coxa tem agora. E o Goiás, que está na 13.ª posição, tem onze pontos, contra os dez alviverdes de 2003. A diferença mais sensível está na ponta da tabela. O Brasileiro deste ano prima pelo equilíbrio (a distância do primeiro até o 11.º é de apenas dois pontos), enquanto ano passado Cruzeiro e Internacional estavam disparados.
E, para piorar, o Coritiba não conseguiu aproveitar a proximidade entre as equipes. Há duas rodadas, o time tinha sete pontos de desvantagem para o então líder São Paulo. Agora, a frente do Criciúma é de oito – enquanto os primeiros são irregulares, o Coxa prima pela regularidade às avessas. Tirando os três piores da competição (Flamengo, Botafogo e Paysandu, que ainda não venceram), a campanha alviverde é a mais fraca até agora.