Walter Alves / O Estado |
Nascimento, que volta ao time, |
É muito provável que o Couto Pereira seja palco, esta tarde, de alguns dos momentos mais inusitados da história do futebol paranaense.
O Coritiba enfrenta o Santos a partir das 16h, e grande parte de sua torcida (no estádio ou fora dele) estará torcendo contra o próprio time, já que o Peixe é o rival direto do Atlético na luta pelo título brasileiro. No pensamento dessas pessoas, uma derrota coxa pode dificultar o caminho rubro-negro, e evitar a conquista do bicampeonato nacional.
Durante toda a semana, foram realizadas pesquisas em jornais, emissoras de rádio e TV e em sítios da internet. E em todas elas percebeu-se a tendência de muitos torcedores do Cori em apoiar o Santos. No estádio, são esperadas reações estranhas: coxas gritando "Santos" ou "entrega", vaiando possíveis gols alviverdes e vibrando quando Fernando for vencido pelos paulistas, além dos normais gritos contra o técnico Antônio Lopes. Como haverá torcedores apoiando o time, são imprevisíveis as conseqüências nas arquibancadas. Pessoas ligadas à direção temem brigas e até mesmo um inédito quebra-quebra. A segurança será reforçada.
Os jogadores não conseguem conceber o fato de torcedores "virarem a casaca’ no jogo de hoje. "Eu acho que a nossa torcida não vai gritar pelo Santos. Em primeiro tem que estar o Coritiba", espera o capitão Reginaldo Nascimento, que confessa que o elenco alviverde conversava há tempos sobre a possibilidade de ser o "fiel da balança" do brasileiro. "Entre a gente, tínhamos consciência que isso podia acontecer, mas não temos que pensar nisso, e sim no que nos interessa", comenta.
A palavra mais citada durante a semana no CT da Graciosa e no Alto da Glória foi "profissionalismo". "Nós somos atletas, estamos colocando nosso profissionalismo em jogo", diz o zagueiro Flávio. "Aqui existe profissionalismo, essa história de entregar jogo não pode nem passar pela nossa cabeça", reitera outro zagueiro, Miranda. "O elenco é muito profissional, e está bem consciente do que tem que fazer no jogo", completa o atacante Aristizábal.
Para Lopes, o assunto começou sendo "tabu’ e acabou na brincadeira. No início da semana, ele reagiu com irritação quando perguntado sobre a polêmica, mas depois acabou admitindo que a situação existe. "Não vamos ficar pensando nessas coisas. É assunto da torcida, e não do time", resume o Delegado, que exigiu muito dos jogadores durante a semana, realizando quatro coletivos e cobrando com veemência.
Isto, segundo ele, para que o Coxa entre "mordendo" na partida desta tarde. "Nosso interesse é buscar o resultado para continuar pensando em uma vaga na Copa Sul-Americana", afirma o técnico, que inclusive sabe qual a combinação que interessa para a aproximação alviverde vitória sobre o Peixe e, ironia do destino, uma vitória do Atlético sobre a Ponte Preta.
Lopes não anuncia a escalação
Talvez desde o Atletiba (que marcou a queda do Coritiba no Brasileiro) não se vê tanto mistério do técnico Antônio Lopes. Ele não só deixou de anunciar a equipe que enfrenta o Santos como abriu várias opções de sistema e de jogadores para a partida. Mas, se a tendência for seguida, pela primeira vez o Coxa jogará em casa e pela segunda vez no campeonato, com o esquema tático preferido da crítica e da torcida, com três zagueiros.
Só que a adoção do 3-5-2 não implica em equipe oficialmente escalada. Mesmo assim, é neste sistema que se imagina com mais clareza como o Coxa vai jogar. Pela capacidade de voltar para ajudar a marcação, Laércio seria escalado ao lado de Tuta no ataque, até para fazer o trabalho ofensivo pela direita, tal como um ponta. Na marcação, um rodízio Miranda, Ataliba, Roberto Brum e até Luís Carlos Capixaba podem ocupar o setor. Não haveria um ala fixo, já que Jucemar ficaria como opção para o banco.
A tônica do 3-5-2 coxa é a movimentação constante. Há troca de posições, alterações de ritmo e agressividade. A intenção é marcar o Santos na saída de jogo, contando com a participação dos atacantes. Apesar de ter funcionado bem nos treinos, Lopes não confirma nada. "Eu já defini, mas vocês vão ficar sabendo na hora do jogo", avisa o Delegado. "Para nós, não importa o sistema, e sim a forma de jogar", corrobora o zagueiro Miranda.
Só que a utilização do esquema com três zagueiros pelo Santos pode fazer Antônio Lopes querer pregar uma "peça" em Vanderlei Luxemburgo. O Coxa poderia, como grande surpresa, entrar com três atacantes (Tuta, Aristizábal e Alemão) para tentar complicar a marcação adversária. Seria uma tática ousada talvez demais para o conservadorismo do técnico alviverde. (CT)
E Luxemburgo também adere ao 3-5-2
Sanches Filho
Santos (AE) – Até Vanderlei Luxemburgo, técnico do time de melhor ataque do campeonato brasileiro, com 91 gols, adere à moda do 3-5-2 para enfrentar hoje o Coritiba. Sem Robinho, o seu principal jogador, e Elano, que respectivamente marcaram 21 e 14 gols, e são responsáveis por mais que um terço dos gols da equipe na competição, o treinador resolveu adotar o esquema mais defensivo: Ávalos, pela direita, e André Luís, na esquerda, com o veterano Antônio Carlos na sobra, formarão o trio de zagueiros, enquanto Fabinho e Zé Elias, volantes de contenção, vão proteger a entrada da área. Ricardinho (cumpriu suspensão contra o Goiás) será o único meia.
"É melhor começar com essa formação para não desgastar os meninos Marcinho e Luís Augusto no começo", explicou o técnico, após o último coletivo, admitindo que pretende soltar mais a equipe, pelo menos com a entrada de mais um meia para ajudar Basílio e Deivid na frente, no segundo tempo. A idéia é segurar o Coritiba na primeira etapa, para depois buscar a vitória, acreditando na repetição do que aconteceu domingo passado, em Presidente Prudente (SP).
O Santos está com 76 pontos, dois abaixo do líder Atlético-PR (enfrenta a Ponte Preta, em Campinas), e precisa vencer para não se distanciar ainda mais da ponta. "Gostei da produção da equipe nesse esquema contra o Goiás e no treino. O fato de jogarmos com três zagueiros não significa o que o time será menos ofensivo. Os volante Fabinho e Zé Elias terão liberdade para ir à frente, o mesmo acontecendo com os laterais", antecipou o treinador.
Apesar de Luxemburgo estar convencido de que o melhor para o momento é o time abrir mão de sua principal característica, que é o futebol ofensivo, tomando cuidados especiais mesmo diante de um adversário fraco como o Coritiba – 13.º colocado, não correndo o risco de cair e com remotas chances de se classificar para a Copa Sul-Americana -, sem levar em conta que o esquema foi testado pouco tempo e não aprovou contra o Goiás.
Logo depois da expulsão de Renato, aos 30 minutos do primeiro tempo, William entrou no lugar de André Luís e a equipe passou a jogar no 4-3-3. E mesmo com o adversário atuando dois terços da partida com um jogador a menos, o Santos não conseguiu se impor e achou a vitória no final, com um gol de Basílio e outro de William.
A desculpa dos jogadores e de Luxemburgo para a má atuação em Presidente Prudente foi o cansaço, em razão do jogo contra a Liga Deportiva Universitária, do Equador. "Tivemos uma semana importante de recuperação. Durante a disputa simultânea do campeonato brasileiro e da Copa Sul-Americano, os nossos jogadores ficaram mais concentrados do que massa de tomate e praticamente não viam a família", afirma Luxemburgo. "O maior ganho foi a recuperação física e mental, além do trabalho técnico que pudemos fazer em campo, o que não era possível antes de sair da Sul-Americana. Sem contar que agora, como os nossos adversários, estamos com as atenções voltadas apenas para o campeonato brasileiro", concluiu.
Nos três primeiros treinos da semana, o preparador físico Antônio Melo procurou melhorar o condicionamento dos atletas. Quinta e sexta-feiras Luxemburgo trabalhou o time na parte tática e técnica. Embora tenha treinado todos os dias e sido o melhor do coletivo da sexta-feira, Robinho não viajou com a delegação e, segundo informações extra-oficiais, só voltará a jogar quando o seqüestro de sua mãe, dona Marina, estiver solucionado.
CAMPEONATO BRASILEIRO
CORITIBA X SANTOS
Coritiba: Fernando; Miranda, Flávio e Reginaldo Nascimento (Jucemar); Ataliba, Roberto Brum, Adriano, Luís Carlos Capixaba e Ricardo; Tuta e Laércio (Alemão). Técnico: Antônio Lopes
Santos: Mauro; Cristiano Ávalos, Antônio Carlos e André Luís; Paulo César, Fabinho, Zé Elias, Ricardinho e Léo; Basílio e Deivid. Técnico: Vanderlei Luxemburgo
Súmula
Local: Couto Pereira
Horário: 16h
Árbitro: Wagner Tardelli Azevedo (FIFA-RJ)
Assistentes: Aristeu Leonardo Tavares (FIFA-RJ) e Hílton Moutinho Rodrigues (FIFA-RJ)