Fotos: Valquir Aureliano em Recife e Ciciro Back – torcida no Couto Pereira
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No apagar das luzes, Henrique Dias tirou o grito que estava entalado na garganta da nação coxa-branca. Os guerreiros alviverdes agora querem receber o carinho da torcida em casa.

Pode sair do chão, torcedor do Coritiba! É campeão! O grito estava na garganta de todo mundo desde a vitória sobre o Criciúma. Poderia ter saído contra o Marília, mas com os 3 a 2 de ontem sobre o Santa Cruz, não tem para ninguém. O Coxa conquista o título da Segundona 2007 e volta para a primeira divisão com honras de vencedor. E que vencedor. Apesar de ser na última rodada e com sofrimento, o Alviverde mostra que não perdeu a grandeza após dois anos penando na Série B e já projeta um 2008 bem melhor para a torcida, que empurrou o time o tempo todo e foi o 12.º jogador na campanha vitoriosa na competição.

Se após a partida contra o Vitória a comemoração foi pela volta à primeira divisão, ontem a festa foi pelo caneco conquistado para a coleção do Alto da Glória. Apesar do maior título do Coritiba ser o Brasileirão de 1985, o time mostrou que está de volta entre os grandes. E para ficar. Prova foi o poder de superação ao longo do ano com crises técnicas e políticas que passaram na frente de todos e foram superadas uma a uma. Isso sem contar com a torcida que nunca abandona, que foi se incendiando ao longo das rodadas, praticamente lotou o Couto Pereira no segundo turno inteiro da Segundona e gritou a plenos pulmões: ?Sai do chão, sai do chão, é a torcida do Verdão!?

Com um apoio desses ficou até difícil para os jogadores não se contagiarem. De um grupo formado pela piazada da casa e vários veteranos, a liga poderia ter desandado, mas o capitão Ânderson Lima conseguiu unir o grupo e formar uma irmandade em busca da ascensão. Mesmo na reserva na partida decisiva. Como Pedro Ken, Henrique e Keirrison mostraram futebol de craque, não tinha jeito. E o título veio contra o Santa Cruz, já rebaixado, mas tradicional no futebol brasileiro, depois da decepção da derrota em casa para o Marília e diante de 43 mil pessoas presentes no Couto Pereira.

Foi esse mesmo MAC que o Alviverde venceu fora de casa e garantiu a tranqüilidade e o comando do técnico René Simões. Chamado até de ?professor Pardal? por gente do clube, ele provou que estava correto ao deixar certos jogadores no banco e puxar a orelha de outros. Ao tirar o pijama contra esse mesmo Marília, o Coxa despontou como sério candidato a uma vaga na Série A e rumou para o topo da tabela. Nem isso garantiu a tranqüilidade no Alto da Glória, que passou um semana turbulenta com acusações da oposição, troca de farpas entre o treinador e o coordenador João Carlos Vialle e a reserva do capitão.

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Mas com a vitória de ontem, tudo isso fica para trás e o Coritiba enche de orgulho seu torcedor, que passou aperto com a queda em 2005 após o desmonte de uma equipe vencedora, da revolta em 2006 contra a diretoria e jogadores pelo fracasso na Segundona e pelo início difícil este ano, com contratações equivocadas e eliminações no Estadual e na Copa do Brasil. Mas não tem nada, não. Quem é coxa-branca não pode ficar calado e tem que gritar ?é campeão!?, porque no ano que vem tem mais emoções para a empolgante torcida.

E em 2009 será o centenário do clube mais vitorioso do Paraná.

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Pra história

Rodrigo Sell

Foto: Valquir Aureliano
Henrique abriu o placar do jogo, que ficaria dramático pro Coxa.

Ao mesmo tempo em que ficava na torcida pelo Paulista-SP contra o Ipatinga-MG, o Coritiba entrava em campo para tentar fazer sua parte e garantir o título pelas próprias forças. E mesmo já rebaixado, o Santa Cruz-PE deu trabalho. A pequena torcida presente para apoiar os pernambucanos mostrou que

o amor continua, mesmo que o time já tenha ido para a Série C. E os jogadores da Cobra Coral entenderam o recado e foram para cima do Coxa. Principalmente com Carlinhos Paraíba que obrigou o goleiro Edson Bastos a fazer boas defesas. O domínio era do time pernambucano, mas melhor distribuído em campo, o Alviverde foi se achando no gramado.

Apesar do Paulista manter o jogo contra o Ipatinga controlado, o Coxa sentiu que não poderia dar sopa para o azar e se assanhou um pouquinho. Um bom chute de Gustavo prenunciou que Gottardi não ficaria apenas assistindo ao jogo. Ivo também tentou, mas foi dos pés de Túlio que o marcador se movimentou.

Ele bateu falta com precisão na cabeça de Henrique, que desviou. Coxa 1 a 0. Parecia fácil, mas só parecia.

No 2.º tempo, a partida ficou dramática, principalmente porque os mineiros conseguiram virar o placar pra cima do Paulista.

O resultado favorecia o Coxa, mas o Santa não estava morto e foi para cima. O empate veio num jogada polêmica. Após cruzamento da direita, Nildo tirou das mãos de Edson Bastos e tocou para a rede. Santa 1 a 1. Não adiantou a reclamação, os mineiros estavam sendo campeões, mas a garra alviverde prevalecia. Ainda mais quando Jéci foi expulso. Max colocou os pernambucanos na frente e o título estava indo embora. Santa 2 a 1. Pouco depois, Túlio, do Coxa, e Nildo, do Santa, também recebiam o vermelho.

A situação se complicava ainda mais pro alviverde.

Mas Henrique Dias entrou para mudar a história. Primeiro, cruzou na cabeça de Keirrison que empatou. Coxa 2 a 2. Faltavam poucos minutos, dois jogadores a menos e o Coritiba não desistiu. A pressão era forte e o gol questão de tempo.

E acabou saindo, chorado, mascado, sofrido, de título.

Após cruzamento, a defesa se atrapalhou e o predestinado Henrique Dias tentou duas vezes até furar o bloqueio pernambucano e correr para a festa. Coxa 3 a 2.

Torcida fez a diferença e merece comemorar o título

Ontem, em frente ao Couto,
vários torcedores foram festejar
a conquista inédita do Coritiba.

Ninguém merece mais este título do que a torcida do Coritiba.

A nação coxa-branca literalmente empurrou o time rumo ao topo e foi fundamental nesta conquista. Na reta final da Segundona, os torcedores alviverdes mostraram toda sua paixão e lotaram o Couto Pereira ajudando a equipe na dura caminhada. A cada partida, mais de 30 mil pagantes, num verdadeiro espetáculo em verde e branco.

No último confronto no Couto, diante do Marília, quando bastava o Coxa vencer para dar a volta olímpica, mais de 40 mil pessoas lotaram o estádio, mas o time decepcionou. E ontem, no Estádio Arruda, em Recife, mesmo a mais de três mil quilômetros, a torcida sorriu, vibrou, sofreu, se assustou, chorou e delirou. O título estava escapando por entre os dedos e tudo parecia perdido.

O Coxa saiu na frente e colocou a mão na taça, mas o Santa Cruz, mesmo rebaixado pra Série C e sem treinador, não deu moleza e empatou o jogo. Enquanto isso, em Jundiaí, o Ipatinga estava fazendo e sua parte com uma goleada em cima do Paulista. O desespero tomou conta da turma alviverde, ainda mais quando os pernambucanos fizeram 2 a 1. Os torcedores que foram a Recife, já pareciam conformados com o vice-campeonato.

Só que a estrela criada nas categorias de base do Coritiba deu novo ânimo à equipe. Keirrison fez o segundo gol do Coxa aos 45 minutos do segundo tempo. Aí foi na base da raça, do coração na ponta da chuteira. E foi desse jeito que o atacante Henrique Dias deu o título ao Alviverde. Aos 48?, num bate e rebate dentro da pequena área, Henrique, mesmo no chão, tocou com o bico da chuteira e empurrou a bola pro fundo da rede.

Foi o sinal pra festa começar.

A torcida saiu às ruas comemorando e vibrando com o título. Nos arredores do Couto Pereira, vários torcedores exibiam bandeiras e faixas de campeão. Fogos de artíficio por toda cidade pra exorcizar de vez a segunda divisão e abrir as portas da elite do futebol brasileiro para receber o Glorioso Verdão.

Técnico divide conquista com a torcida

Rodrigo Sell

Foto: Valquir Aureliano
René Simões, emocionado, abraça Henrique Dias
após o jogo.

Pivô de uma ?briga? com o coordenador de futebol João Carlos Vialle, o técnico René Simões ofereceu o título da Segundona para a torcida, elogiou o grupo de jogadores e garante que não leva mágoas de sua passagem pelo Coritiba. ?O título é alguma coisa no meu currículo, mas o que vale mesmo é a caminhada, as pessoas que conheci nessa caminhada, os amigos que fiz, as pessoas que me ensinaram, as pessoas que pude ouvir, e as pessoas que pude ensinar. Só levo coisas boas de Curitiba, das pessoas e me sinto muito orgulhoso de ter trabalhado no Coritiba?, disse o treinador.

De acordo com ele, a conquista foi um prêmio pela persistência. ?Há pessoas que pensam, falam, mas não tentam e fracassam. Há pessoas que sonham, tentam, falam, planejam, falham temporariamente, replanejam e acabam tendo sucesso. Nós todos tínhamos essa meta, algumas vezes falhamos, mas nunca tivemos medo de tentar?, analisou. Por isso, ele oferece o título aos jogadores. ?Esse grupo não merecia nada diferente do que o título. Agora, como tudo este ano, veio com muito sacrifício e quase uma repetição da batalha dos Aflitos, que a gente falou tanto?, apontou René.

No entanto, ele sabe que não foi fácil e a equipe passou por dificuldades. ?Corremos risco, o Kuki poderia ter feito aquele gol (antes do Coxa ter feito 3 a 2), mas futebol é assim mesmo e quem não tenta não consegue. Parabéns para os jogadores, foram leões, o Henrique entrou muito bem, o Caíco entrou muito bem, legal, isso é bom e eles merecem?, destacou. Na visão do treinador, os jogadores foram se superando até a dramática vitória sobre o Santa Cruz. ?Esse grupo se juntou muito. Ficaria muito triste pelo que a torcida fez este ano todo com o time e com o que o time fez com a torcida. Seria muito injusto, embora no futebol a gente saiba que a justiça no futebol é relativa?, finalizou.

Amanhã e na terça-feira, René encaixota suas coisas na cidade, faz as malas e volta ao Rio de Janeiro para passar o final de ano antes da mudança para a Jamaica, onde irá dirigir a seleção principal daquele país.

Santa Cruz 2 x 3 Coritiba

Santa Cruz

Gottardi; Aldo (Genalvo, 1 do 2.º), Adriano e Josemar; Carlinhos Paulista, Romeu, Amaral (Tiago Almeida, 12 do 2.º), Carlinhos Paraíba, Nildo e Russo (Max, 32 do 2.º); Kuki.

Técnico: Adriano

Coritiba

Edson Bastos; Ivo, Henrique, Jéci e Fabinho (Edmílson, 27 do 2.º); Careca, Túlio, Pedro Ken e Ricardinho (Caíco, 20 do 2.º); Keirrison e Gustavo (Henrique Dias, 20 do 2.º).

Técnico: René Simões

Local: Arruda (Recife)

Árbitro: Paulo César de Oliveira (Fifa/SP)

Assistentes: Osny Antônio Silveira e Rafael Ferreira da Silva (SP)

Gol: Henrique aos 34 do 1.º tempo; Nildo aos 14, Max aos 36, Keirrison aos 43 e Henrique Dias aos 48 do 2.º tempo

Cartão amarelo: Amaral, Genalvo

Expulsão: Jéci aos 35 e Túlio e Nildo aos 42 do 2.º tempo

Renda: R$ 4.795,00

Público pagante: 1.005

Público total: 4.641