Nem euforia quando ganha, nem terra arrasada quando perde. É assim que o Coritiba está tratando o lado emocional do elenco, que entrou numa maratona de jogos e precisa manter o equilíbrio no Brasileirão e na Copa Sul-Americana, que começa no dia 13.
Para tanto, independente dos jogadores alviverdes estarem atuando, na reserva, serem “invisíveis’ ou até estar em tratamento, recebem acompanhamento psicológico para estar sempre motivados e preparados para as dificuldades das partidas.
“O meu trabalho sempre foi mais direcionado à parte individual. Então, eu trabalho a preparação emocional do atleta. Faço esse equilíbrio emocional para quando o atleta vai estrear, quando vai para o banco. Isso é uma coisa que o René (Simões, técnico) frisa muito, que o atleta mantenha a motivação”, informa a psicóloga Flávia Focaccia.
De acordo com ela, esse trabalho é diário, antes e depois dos treinamentos. “Quando tinha essas semanas cheias, era fácil, porque estávamos todos os dias no CT e, agora, devido a dois jogos na semana, o acesso começou a ficar meio difícil e faço plantão no hotel”, destaca.
Essa foi uma das mudanças que a comissão técnica teve que fazer para o time suportar a desgastante maratona de jogos. “Eu chamo (o atleta), o René indica ou eles mesmos, por conta própria, me procuram. E quando é necessário fico à disposição para acompanhar a equipe numa viagem. Foi esse o planejamento que a gente fez nesses jogos corridos que temos para que não prejudicasse o acompanhamento com eles”, aponta a psicóloga.
Todos são obrigados a conversar com você? “Ninguém é obrigado e nunca tive problema de forçar, de pedir, insistir para um atleta vir falar comigo”, diz. De acordo com ela, essa conversa varia muito de jogador para jogador.
“Às vezes, eu chamo o atleta e digo “tenho percebido isso, tá acontecendo isso, como é que está? você está atingindo o seu desempenho no jogo? o que faltou para os 100%?’. A técnica e o físico eles não perdem, mas quando cai o desempenho, muitas vezes pode ser por uma questão emocional. Então eu chamo e nunca tive resistência”, revela. E até por telefone. “Tenho meu telefone que fica ligado 24 horas e qualquer coisa que eles precisam me ligam”, destaca a psicóloga alviverde.
Mas especificamente, ela fala sobre o que mais acontece com um atacante. “Um atacante, por exemplo, tem a necessidade e a cobrança interna de que tem que fazer gol e quando passa um jogo, passa outro e ele não marca, internamente a cobrança é muito grande. Isso pode abalar a confiança dele, a auto-estima. Ele me procura e diz que “está faltando alguma coisa que eu não sei o que é’ e a gente senta, troca uma ideia”, finaliza.
Flávia procura manter auto-estima em alta
E não é que os jogadores do Coritiba até gostam desse contato com a psicóloga Flávia Focaccia? “Estou há uns 11 anos no Coritiba e há cinco a Flávia está com a gente. A gente sempre conversa. Nas derrotas não pode deixar cair muito e nas vitórias também não pode erguer demais. Tem que manter o equilíbrio e aí tende a tudo dar certo”, aponta o volante/zagueiro Dirceu.
Ele é um dos casos de jogadores que recebem esse tipo de acompanhamento desde as categorias de base. “A gente conversa bastante, principalmente nos momentos mais difíceis, que é quando nós não estamos sendo muito aproveitados”, destaca.
Ele, por exemplo, passou a maior parte da temporada apenas treinando e jogando muito pouco até voltar como titular no Atletiba. “O jogador acaba desanimando, quando fica fora da relação de duas, três partidas, duas, três semanas sem ir e acaba dando uma desanimada. O trabalho dela é excepcional e sempre ten,ta jogar o atleta para cima, deixar a auto-estima lá em cima, o ego lá em cima para quando aparecer a oportunidade estar preparado”, revela Dirceu.
É o que também pensa o lateral-direito Rodrigo Heffner. “O trabalho dela é excelente. Ela tem me ajudado muito. Às vezes, tu quer falar alguma coisa que não deve e desabafa com ela. Ali o que tu conversa com ela, fica com ela e, em cima disso, ela procura entender o jogador e fazer com que o jogador também entenda situações, entenda o momento do próprio jogador, do treinador”, avisa. E sempre é possível esse contato? “Se procurar ela está sempre disposta e, às vezes, tem uma fila pra falar com ela”, finaliza Heffner.