No futebol brasileiro pós-moderno, em que o Campeonato Brasileiro adquiriu enfim sua real importância, as competições estaduais minguaram – de tamanho, de interesse e até de viabilidade comercial.
Para mantê-las vivas, é necessário alimentar a rivalidade entre os principais clubes de cada região. É difícil, pois os clássicos também acontecem em menor número.
Mas quando chega o dia de um deles, tudo para. É o que vai acontecer hoje. Há muito tempo não havia uma expectativa tão grande para um confronto entre Coritiba e Paraná Clube como para o jogo das 16h, no Couto Pereira.
A motivação se explica. De um lado, está o Coritiba, líder do Campeonato Brasileiro da Série B, com o melhor aproveitamento e o melhor ataque entre todos os participantes de competições nacionais neste ano.
Após a tragédia de 6 de dezembro do ano passado, o clube se reergueu e hoje está muito perto de conquistar uma vaga na primeira divisão – o que muitos não acreditavam que fosse acontecer em 2010, por conta das punições, da crise financeira e da desconfiança geral.
Com mais de 17 mil sócios, uma equipe em alta e um técnico no melhor momento da carreira (Ney Franco deixará o clube para assumir a Seleção Brasileira sub-20 ao final da Segundona), o Coxa está em estado de graça.
De outro lado, está o Paraná, vivendo uma recuperação para muitos improvável. Após começar o campeonato na liderança, em uma arrancada irresistível, o Tricolor caiu tanto de produção que acabou obrigado a mudar de técnico – saiu o desgastado Marcelo Oliveira, assumiu Roberto Cavalo.
Em meio à crise técnica, havia o atraso dos salários, o distanciamento dos dirigentes, a fuga dos “cardeais’… Mas o risco de rebaixamento para a Série C e as insinuações de que o Paraná “não tinha solução” fizeram com que ex-dirigentes voltassem à Vila Capanema, justamente para mostrar que a união poderia recuperar o clube.
Com a chegada de Cavalo, a equipe melhorou – e muito – dentro de campo, conquistando dez pontos dos últimos doze e sofrendo apenas um gol. E a torcida ainda viu o surgimento de um candidato a ídolo, o jovem Kelvin.
Allan Costa Pinto |
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Roberto Cavalo é o responsável pela melhora do Paraná Clube nas últimas rodadas. |
Em campo, os dois times precisam da vitória. O Cori joga para acelerar seu retorno à primeira divisão. Se o “número mágico” proposto pelos matemáticos é de 65 pontos para que uma equipe se garanta na Série A de 2011, faltam apenas seis para que o Alviverde possa comemorar.
Uma vitória no clássico de hoje faz com que a possibilidade de confirmar a volta à primeira divisão ainda em outubro aumente. A rigor, para os estatísticos, a probabilidade já é enorme – segundo Tristão Garcia, do Infobola, o Coritiba tem 99% de chances de subir; os professores da USP, responsáveis pelo site Chance de Gol, dão ao Coxa exatos 99,94% de possibilidade de acesso.
Ao Paraná, cabe vencer o jogo – e os seguintes – para surpreender os matemáticos. Quando assumiu, Roberto Cavalo deixou claro que seu trabalho tinha como foco afastar o time do risco de rebaixamento.
Hoje esta hipótese praticamente inexiste. E as últimas três vitórias seguidas reabriram, mesmo que remotas, as chances de acesso. Será necessário um feito, a conquista de pelo menos 22 dos 24 pontos em disputa (o ideal seria vencer os oito jogos restantes).
O Infobola dá apenas 1% de chance de acesso ao Tricolor, enquanto o Chance de Gol é ainda mais “pessimista”, dando 0,5% de possibilidade. Mas derrotar o ,líder, conseguindo a quarta vitória seguida, e tendo América-MG e Bahia em casa nas próximas rodadas, representaria para o Paraná a crença no quase impossível.
Ingredientes não faltam, portanto, para que tenhamos neste oitavo clássico do ano em Curitiba o melhor de todos em 2010. Vencendo, além de encaminhar o acesso, o Coritiba fecha a temporada com o melhor retrospecto contra os rivais (por ora, tem três vitórias, um empate e uma derrota).
Já o Paraná se igualaria ao Atlético em número de triunfos nos clássicos de 2010 (até agora, tem uma vitória e três derrotas, contra duas vitórias, um empate e uma derrota do Furacão).
E esta rivalidade agita ainda mais o confronto de hoje. Com festa e responsabilidade dos torcedores – é dia de darmos exemplo de civilidade – e com a expectativa do bom trabalho de Paulo César de Oliveira na arbitragem, tudo conspira para um espetacular Paratiba no Alto da Glória.