Dezoito pessoas feridas, entre elas 7 policiais militares; 11 detidos, um preso e 33 ônibus destruídos em diversas regiões da cidade. Esse foi o saldo da pancadaria que teve início no Estádio Couto Pereira, após o final do jogo entre Coritiba e Fluminense, que terminou com o time paranaense rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

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Os 11 torcedores que foram internados estão sendo identificados e poderão ser responsabilizados pela baderna. A polícia também informou que já identificou mais dez pessoas que promoveram a confusão.

Logo depois da pancadaria dentro de campo e que tomou as ruas da capital, o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) e a Polícia Militar montaram operação para identificar e responsabilizar os envolvidos.

“Não podemos chamar os culpados de torcedores, mas é uma turba desvairada”, disse o coronel Jorge Costa Filho, comandante do Policiamento da Capital (CPC), em coletiva à imprensa na manhã de ontem.

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Dos sete policiais feridos, três foram hospitalizados, e dois estão em estado grave. O soldado Luís Ricardo Gomides, do 12.º Batalhão da Polícia Militar, ferido na boca em campo, passa bem.

O suspeito de tê-lo atacado quando já estava caído foi preso na manhã de ontem, numa academia no Capão da Imbuia. Gilson da Silva, 20, foi encaminhado ao Cope e autuado por tentativa de homicídio. Os outros quatro policiais foram encaminhados ao Instituto Médico-Legal (IML) para fazer exame de corpo de delito.

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Segundo o delegado Miguel Stadler, do Cope, há indícios de que a confusão foi planejada. “Temos informações de que na viagem para Minas Gerais, onde o Coritiba jogou contra o Cruzeiro, torcedores foram incentivados a promover o tumulto”, afirmou.

Na manhã de ontem, o presidente da torcida organizada Império Alviverde foi interrogado no Cope. Os 11 torcedores feridos na confusão foram detidos e liberados após depoimento. “Já tomamos providência no sentido de identificar e qualificar os responsáveis e aqueles que incitaram as ações criminosas”, disse Stadler.

Segundo o delegado, um dos torcedores foi vítima de disparo de arma de fogo na saída do campo e outro, filho de PM, foi ferido com uma bala de borracha. De acordo com a PM, foram danificados os terminais do Cabral, Boqueirão, Pinheirinho, Santa Cândida e Fazendinha.

Policiamento

O coronel foi contundente em afirmar que a PM armou um fortíssimo esquema de segurança, com 700 policiais, e todas as medidas necessárias foram tomadas. “Começamos com uma varredura, na manhã de domingo, na sede da Império, e até o início da tarde não havia registro de tumulto”, contou o oficial, que culpou o clube pela falta de segurança. “Os 240 agentes contratados pelo Coritiba não deram conta do recado”, disse.

Segundo Costa Filho, 400 policiais ficaram dentro de campo, sendo 50 na primeira linha. Quando a baderna tomou conta, o primeiro esforço da polícia foi garantir a segurança dos árbitros, jogadores e imprensa dentro do campo. “Quando a invasão tomou conta, um segundo esforço foi aplicado para que houvesse um recuo”, contou.

Torcedor morto a tiros

Janaina Monteiro

Aliocha Maurício
Olympio: “São selvagens e não torcedores”.

Vestido com a camiseta do Coritiba, Ronaldo Erdmann, 42 anos, foi encontrado morto a tiros, na manhã de ontem, em Almirante Tamandaré. O corpo estava num matagal, às margens da Estrada do Juruqui, na área rural do município.

A polícia foi acionada por volta de 7h30 e encontrou o homem com a cabeça encostada numa árvore. Segundo o perito Daniel Preti, do Instituto de Criminalística, havia três ferimentos de arma de fogo na cabeça. No bolso da bermuda havia uma carteira América Latina Logística em nome de Ronaldo, que trabalhava como motor,ista carreteiro na empresa.

Além do documento, havia uma nota de R$ 10 e uma carteira de cigarro vazia. Logo depois de ouvir a reportagem numa rádio local, a irmã da vítima ligou para a emissora e confirmou a identidade de Ronaldo, que morava no Barreirinha, em Curitiba.

O perito também notou sinais de arrastamento no mato, o que indica que a vítima foi desovada no matagal. Como o local é ermo, o sargento acredita que o crime tenha sido praticado de madrugada. O caso será investigado pela delegacia do município.

MP entra “de sola” e quer soluções

Márcio Barros

Na tarde de ontem, o procurador-geral de Justiça Olympio de Sá Sotto Maior Neto, e procuradores e promotores de Justiça ligados à área criminal e do consumidor informaram que, além de outras medidas, já pediram a interdição do Estádio Antônio Couto Pereira.

Segundo ele o episódio registrado depois do jogo, deixou tanto a instituição quanto a sociedade com vergonha e indignação. “Estes envolvidos não são torcedores, são selvagens”, disse.

Para combater a violência o MP-PR atuará em três frentes. A primeira delas, na área criminal, vai buscar a punição para as pessoas que cometeram ilícitos penais logo após o jogo.

Esta frente terá o auxílio do procurador de Justiça Ernani de Souza Cubas Júnior, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais, do Júri e de Execuções Penais. Dois promotores de Justiça que atuam na Assessoria Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça serão designados para acompanhar, junto com o promotor natural, todos os inquéritos policiais sobre o caso. Também será apurado se os responsáveis pelos crimes após o jogo têm ou não vínculo com torcidas organizadas.

Estatuto

A segunda frente trabalhada será o cumprimento do Estatuto do Torcedor e do Código de Defesa do Consumidor e contará com o auxílio do procurador de Justiça Ciro Expedito Scheraiber, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Defesa do Consumidor.

“Precisamos entender como o Estádio Couto Pereira, vistoriado recentemente e certificado como um estádio seguro, foi invadido em questão de segundos”, comentou.

A Promotoria do Consumidor instaurará inquérito civil para verificar as condições de segurança e apurar as falhas. Solicitará apoio técnico do CREA para apontar as soluções, e vai recomendar a imediata interdição administrativa do estádio.

Ainda na área do consumidor, o MP proporá às torcidas da capital a assinatura de um termo de ajustamento de conduta (TAC) para o cadastramento das agremiações. Se não houver interesse, poderá propor ação para a extinção dessas agremiações.

O MP-PR proporá ao Tribunal de Justiça que o Juizado Especial Criminal funcione em plantão durante todos os jogos e assegurou que a ação da polícia será averiguada, assim como a estratégia adotada da Secretaria de Segurança Publica.