Além do prejuízo pelo revés dentro de campo, a derrota por 1×0 do Coritiba para o Vitória, na noite de segunda-feira (28), no Couto Pereira, protagonizou mais um capítulo triste de racismo no futebol. O zagueiro Márcio, expulso ao revidar uma agressão do atacante Tréllez, do time baiano, foi xingado em uma comunidade de torcedores do Coxa em uma rede social e registrou um boletim de ocorrência na manhã desta terça-feira (29).
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O defensor do Alviverde ficou bastante abatido com toda essa situação e o caso agora virou de polícia. Na postagem da página Coritiba M1L GR4U, do Facebook, que tem 47 mil curtidas, o administrador postou a seguinte mensagem quando o zagueiro Márcio foi expulso: “Vai tomar no c*** Márcio, seu afrodescendente de merda do c***. Tomara que pegue eterno banco seu lazarento. F*** nosso gol porra”.
O zagueiro viu a postagem e decidiu registrar um boletim de ocorrência. A polícia passará a investigar o caso para que os responsáveis sejam punidos.
“Venho publicamente pedir desculpas à nação coxa-branca pela minha atitude no jogo de ontem, sou ser humano também falho e erro. Assumo a responsabilidade. Mas isso não justifica falar da cor da minha pele, sou afrodescendente sim e isso não me faz diferente de ninguém, afinal somos todos carne e osso. #naoaorascimo”, publicou Márcio, em seu perfil no Instagram.
O Coritiba também se manifestou nas redes sociais. No twitter, o clube lembrou de uma postagem feita em 2015. “Racismo, preconceito, discriminação em geral é uma burrice coletiva sem explicação”, postou.
O caso aconteceu quando Márcio, aos 34 minutos do segundo tempo, depois do cruzamento na área, deu um chute no atacante Tréllez, do Vitória no momento em que o volante Alan Santos empataria a partida, de cabeça. Porém, o árbitro apitou a falta, anulando o gol e expulsando o camisa 76 do alviverde.
Triste realidade
Em 2017, o número de casos de discriminação racial no futebol é muito superior que no ano passado. Até o final de julho, foram relatadas 35 ocorrências, 40% a mais que em todo 2016. Os casos vão desde ataques nas redes sociais, como o sofrido por Márcio e também por Rafael Vaz, zagueiro do Flamengo, após uma falha numa partida da Libertadores, até situações de jogo, como a que Elton, do Ceará, acusou Victor Cuesta, do Internacional.
O caso mais rumoroso de todos foi o do goleiro Aranha, hoje na Ponte Preta, numa partida Grêmio x Santos pela Copa do Brasil. Alvo de ataques de torcedores do time gaúcho, ele denunciou o caso, que foi ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva e acarretou na eliminação do Grêmio da competição.
Até a última compilação, o Observatório contra a Discriminação Racial no Futebol havia somado 115 atos de racismo no futebol brasileiro em apenas quatro anos – nos campos, nas torcidas ou pela internet.
Alguns jogadores preferem evitar a denúncia. Rafael Vaz, que teve a filha atacada nas redes sociais, escolheu o silêncio. Já Michel Bastos, que sofreu com o racismo quando estava no São Paulo, pede que os atletas se manifestem. “A coisa não vai mudar assim de uma hora para outra. Não vai. Se você não agir, não vai. Se agindo já é difícil das coisas mudarem como estão”, resumiu o meia do Palmeiras.
Pedido de desculpas
Os administradores da página Coritiba M1L GR4U chegaram a postar um pedido de desculpas, retiraram-no do ar, mas no final da tarde de ontem publicaram nova nota dizendo que estão à disposição das autoridades.