O dia 24 de fevereiro não marca apenas um simples aniversário de relação trabalhista. Para Dirceu Krüger, é como se fosse o segundo dia de nascimento. Para o Coritiba, é a data que marca o início da transformação do clube. Krüger virou titular, fez gols, conquistou títulos, ganhou o status de ídolo, passou a fazer parte do cotidiano alviverde. O time ganhou seis campeonatos estaduais em sequência, representou o Paraná no futebol brasileiro, viajou o mundo em excursões, foi campeão brasileiro. Em cinquenta anos, completados exatamente hoje, o Coritiba mudou e Krüger é o símbolo desta mudança, uma rara representação humana de um clube de futebol.
Jogadores marcantes há muitos. Craques que defenderam um único clube na carreira, outros tantos. Profissionais que brilharam no campo e no banco de reservas, também. E o que há de especial em Krüger, além dessa marca de cinquenta anos ininterruptos dentro do Coxa?
Há a história, o drama e a lenda. A história é recheada. Gols decisivos, belas jogadas, uma identificação imediata, desde que era ainda aquele garoto da Barreirinha que chegou aos 20 anos ao estádio Belfort Duarte. E os títulos, sete estaduais e o Torneio do Povo em 1973.
O drama criou a dimensão humana. Num choque com Leopoldo, goleiro do Água Verde, Krüger sofreu rompimento das alças intestinais. Ficou entre a vida e a morte. Em seu nome foi realizada, até, uma missa oferecida pelo então presidente do Atlético, Lauro Rêgo Barros. Recebeu a extrema-unção. Sobreviveu. E voltou a jogar, sendo inclusive o herói do título estadual de 1972.
A lenda é mais famosa que a história e o drama. É o caso da venda ao Vasco, quando a diretoria do time carioca chegou a Curitiba querendo contratar “aquele polaco que tem o nome começando com K”. Evangelino da Costa Neves se fez de desentendido e vendeu Kosilek.
E depois do período de jogador, veio o funcionário, auxiliar técnico por décadas, “bombeiro” das crises, que preferiu ficar nos bastidores a se afirmar como técnico. Sem Krüger, não haveria o time campeão brasileiro – que começou a ser montado por ele em 1984. Sem Krüger, não haveria acesso à Série A em 1995, pois foi ele quem encarou a bronca de substituir Paulo César Carpegiani antes da chegada de Lori Sandri. E tudo isso é apenas um resumo.
Por ser tão importante, hoje ele recebe uma homenagem rara no Brasil – terá uma estátua inaugurada na entrada do estádio Couto Pereira. Foram os torcedores do Coritiba que se cotizaram para garantir a escultura, feita no Rio de Janeiro pelo artista plástico Edgar Duvivier. E certamente qualquer coxa-branca, de qualquer idade, sabe que se fosse preciso resumir o Coritiba em duas palavras, elas seriam Dirceu Krüger.
Flecha Loira está no BID
Um dia depois que completa 50 anos de serviços prestados ao Coritiba e ter a sua estátua inaugurada no Couto Pereira, Dirceu Krüger voltará a subir o túnel do estádio que viveu grandes momentos vestindo o uniforme de jogo do Verdão.
Esta é uma das homenagens que a diretoria coxa-branca preparou para o Flecha Loira na partida de amanhã, contra o Rio Branco, no Alto da Glória, pelo Campeonato Paranaense. O nome do ídolo alviverde, inclusive, sairá no Boletim Informativo Diário (BID) da CBF e Krüger, além de puxar o time que vai enfrentar o Leão da Estradinha, acompanhará todo o clima do vestiário. Antes do treinamento de ontem, Krüger esteve na entrevista coletiva e não escondeu a emoção.
“Em um momento assim você não consegue ter palavras de emoção, alegria, contentamento e de realização. A nação coxa-bra,nca que teve a iniciativa. Isso faz com que gente realmente tenha uma felicidade que não dá para descrever. Você fica imaginando: será que é? Estou muito feliz e emocionado com essa homenagem e emocionado por estar há 50 anos no Coritiba. Eu jamais imaginava 50 anos, uma estátua, sinceramente, é difícil para falar, as palavras fogem”, declarou.