Trajetórias se confundem

Já na história do Coritiba, Pachequinho, enfim, comemora título e pode ser chamado de técnico

Ídolo deste os tempos em que era jogador, Pachequinho agora entra para a galeria de campeões do Coritiba. Foto: Pedro Serápio

Erielton Carlos Pacheco. Mais que qualquer outra pessoa, ele está realizado após a conquista do título paranaense pelo Coritiba. Na alegria do técnico que saiu da interinidade para recuperar a hegemonia do futebol estadual, está a emoção do menino Pachequinho, que viveu o Coxa desde a infância, que foi ídolo em campo, que sofreu com as lesões que abreviaram sua carreira como atleta, que viu no clube uma nova carreira, que demorou a ter seu trabalho valorizado e que, enfim, agora pode festejar seu primeiro título pelo time do coração.

Pachequinho, 46 anos, ainda não tem um ano completo como treinador. Talvez possa ser chamado apenas a partir desta segunda-feira de técnico principal do Coritiba. Comandou a equipe desde a quinta rodada da primeira fase (estreou na derrota para o Atlético por 2×0, na Arena da Baixada) como interino. Nunca foi definitivamente bancado pela diretoria alviverde, que alternava momentos de confiança com a busca escancarada por outro profissional, como aconteceu com Jorginho. Apesar de toda essa pressão e de não ter o respaldo completo que poderia ter, ele não se abalou.

Fruto das duras experiências da carreira. Revelação do Coritiba no final dos anos 1980, foi lançado no time profissional por Paulo César Carpegiani – por coincidência, o treinador demitido para que Pachequinho assumisse como técnico. Em 1990, já era titular e ídolo da torcida quando, aos 19 anos, participou de sua primeira final de Campeonato Paranaense. Chegou a marcar seu gol na finalíssima contra o Atlético no Couto Pereira, mas o gol contra de Berg matou o seu sonho. Vieram outras finais, mas aquela foi marcante para ele.

No Coxa, foram sete anos como principal jogador do time. Anos em que sofreu com companheiros que não tinham o seu nível, em que foi caçado pelos adversários, em que passou por cirurgias, em que virou até alvo de ação na Justiça para a cobrança de IPTU. Pachequinho se confundia com o clube, passou pelas más fases e também esteve na recuperação, incluindo a volta para a primeira divisão em 1995 – selada com uma vitória sobre o Atlético no Couto Pereira.

Mas em 1997 ele deixou o Alto da Glória e foi jogar no Bahia, e logo voltou, mas para o Atlético. Foi uma rápida passagem, mas que deixou boas lembranças. Pachequinho é respeitado até hoje pelos rubro-negros, assim como pelos paranistas – ele é um dos poucos atletas a ter atuado nos três times da capital. A carreira terminou cedo, por conta do desgaste das lesões e das cirurgias. Logo viria o reencontro com o Coritiba.

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Quando retornou ao futebol, trabalhou nas categorias de base e mais tarde como analista de desempenho. Passou também pelo setor de avaliação de atletas, e acabou tendo uma experiência diferente de outros ex-jogadores – tinha o conhecimento do campo, do trabalho tático e também estatístico. Isto levou Pachequinho a ser o técnico da equipe júnior do Coxa, e mais tarde auxiliar-técnico da equipe principal.

A chance iria chegar. Veio no final de 2015, quando o Coritiba estava correndo sério risco de rebaixamento. E nas últimas cinco rodadas, ajudou o time a escapar da degola no Brasileirão. Apesar de ter apoio da torcida para sua efetivação, a diretoria preferiu recolocá-lo como auxiliar e contratar Gilson Kleina, que acabou demitido durante o Campeonato Brasileiro de 2016. Pachequinho voltou, e os resultados foram medianos. De novo saiu, desta vez para a entrada de Paulo César Carpegiani.

Foi então para a Europa, viagem prometida pelo clube para que ele tivesse contato com outros profissionais e outros clubes, como o Bayern de Munique. Decidiu estudar. Queria voltar, mas voltar pronto. Com outra relação com os jogadores. Com outras ideias táticas. Mais próximo do que se faz em todo o mundo. Esperaria seu novo momento surgir.

E essa oportunidade veio com a demissão de Carpegiani após a eliminação na Copa do Brasil. Começou com dificuldades, mas desde o primeiro dia teve o apoio irrestrito dos jogadores, principalmente dos mais experientes. A união no vestiário seria decisiva na arrancada que levou ao título paranaense. Apelou ao pragmatismo para primeiro ‘arrumar a casa‘, conquistando os resultados necessários para conseguir a classificação na primeira fase do Paranaense.

Uma referência no gol: Wilson, o ídolo discreto do Coritiba

Mesmo sem ter o apoio pleno da diretoria, que sempre adiava a definição sobre sua efetivação ou não, Pachequinho resolveu ousar no momento de maior pressão. Precisando vencer o Cianorte para se classificar para a final do Paranaense, colocou o time no ataque. E, no segundo tempo, apostou em Matheus Galdezani e Iago, dois personagens da reta final do campeonato. E eles levaram o Coxa à classificação.

Na primeira partida da final, a melhor atuação da equipe teve o dedo do treinador, na escalação de Galdezani ao lado de Alan Santos e Anderson. Sem um volante brucutu, o Cori não tomou conhecimento do Atlético em plena Arena da Baixada e venceu por 3×0. Agora campeão paranaense em cima do maior rival, conquista que não teve como jogador, Pachequinho também pode comemorar outra conquista – ele é o técnico do Coritiba.