Principal dor de cabeça do Coritiba nos últimos anos, as seguidas lesões que os jogadores vem sofrendo atrapalham diretamente o desempenho da equipe dentro de campo. De 2012 pra cá, o elenco sofreu nada menos do que 123 lesões. Em média, contabilizando até mesmo dezembro, quando os jogadores estão de férias, acontece uma lesão a cada 4,5 dias – no período de janeiro de 2012 até março de 2014 -. De todas elas, quase metade, 60, aconteceram só em 2013.
Como um comparativo, entre janeiro e setembro do ano passado, o Fluminense teve 23 lesionados, contra 47 do Alviverde no mesmo período. Já em 2012, ao término do primeiro turno do Brasileirão, o clube teve 20 jogadores machucados, só ficando atrás da Ponte Preta (21).
De todos os 123 problemas, o que mais chama a atenção são as lesões musculares. Foram 68 no total, sendo 33 na coxa esquerda e 21 na coxa direita. As outras 14 lesões musculares não foram detalhadas em qual parte do corpo foi diagnosticada. De acordo com o doutor Beny Schmidt, fisiologista especialista em medicina esportiva e chefe do laboratório de patologia neuromuscular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), este número está muito acima da média dos clubes brasileiros. “É muito, alguma coisa está errada no Coritiba. O alto número de lesões musculares apresentadas é 100% acima da média”, disse ele, que aponta como causador maior dessas lesões a preparação física.
“A principal causa de lesão muscular é geralmente um desequilíbrio dos músculos anteriores e posteriores da coxa. Os preparadores tem essa mania de hipertrofiar o quadrícepes, por isso que o principal motivo destas lesões, pelo menos 40 delas, foram no bícepes femural. Existe uma simetria de forças e a culpa é do preparador físico”, afirmou Schimdt.
Outro fator relevante é que muitas dessas lesões musculares foram casos reincidentes de atletas que se machucaram, voltaram a treinar e na sequência acabaram sentindo mais uma vez o mesmo problema. Como exemplos podem ser citados o volante Willian, que em 2012 lesionou a coxa esquerda no dia três de março, foi liberado no dia 26 do mesmo mês, mas em 11 de abril mais uma vez machucou o mesmo local. No mesmo ano, Rafinha sofreu um estiramento na coxa esquerda no dia 17 de março e retornou em 11 de maio, em tratamento intensivo para retornar para a final do Campeonato Paranaense, que aconteceu dois dias depois, quando o meia sofreu uma lesão no tornozelo direito.
Já em 2013 outros dois casos se destacaram na questão muscular. O meia Robinho sofreu quatro lesões na coxa esquerda. A primeira em 28 de março, voltando em 12 de abril. Depois, voltou a ter o mesmo problema em 21 de agosto, ficando à disposição em sete de setembro. No dia dois de novembro, mais uma vez o meia ficou afastado. No entanto, ficou apenas 12 dias no departamento médico e voltou a jogar no dia 16, quando se machucou outra vez e ficou de fora do final da temporada. Além dele, o volante Uelliton teve um problema na coxa esquerda em 15 de setembro e voltou em quatro de outubro. Porém, uma semana depois ele voltou a se machucar,
desta vez na coxa direita, ficando quase um mês sem jogar.
Responsabilidade
Na questão de recuperação de uma lesão de um atleta, a responsabilidade é dividida entre departamento médico, preparador físico e fisiologista. No entanto, é o departamento médico quem libera o jogador, quando recuperado, para voltar às atividades físicas. Desta forma, o que pode ter gerado essas reincidencias foi uma liberação antes do prazo por parte dos médicos. “O futebol é um esporte de alto rendimento. E aí se responsabiliza também o departamento médico. O jogador só pode ser apto a jogar quando estiver totalmente curado. Senão, diminui a vida do atleta. Como no futebol é preciso ganhar sempre, acontecem casos de o jogador entrar em campo não estando recuperado 100% da lesão”, frisou o, doutor Beny. Em casos constantes de reincidência, indica-se fazer uma avaliação aprofundada para saber se o jogador tem uma tendência a se machucar ou se a sequência de lesões foi coincidência.
Segundo o doutor Lúcio Ernlund, que foi chefe do departamento médico do Alviverde, existe uma série de fatores que podem levar à lesão muscular. “São vários aspectos. Um aspecto que leva a isso é a faixa etária dos atletas. Quanto mais velho, maior o risco. A sobrecarga de jogos atualmente exige mais do jogador. Tem também a qualidade do campo. Mas a questão principal é que o corpo humano, quando exigido em excesso, uma hora vai arrebentar. Um jogador é um ser humano normal”, destacou, reforçando que quando um jogador sofre uma lesão, fica mais apto a sofrer este problema novamente do que outro companheiro. “O Robinho, por exemplo, nunca teve lesão. A partir do momento que ele sofreu a primeira lesão, ele tem mais riscos de novamente se machucar”, explicou.
Preocupação antiga
A preocupação interna no clube em relação a isto já é antiga. Em setembro de 2012, em entrevista à rádio 98, o presidente Vilson Ribeiro de Andrade se mostrava incomodado com estes números. “É inexplicável o número de contusões que o Coritiba teve este ano. Eu acompanho isto e a média de contusões nos times é de 10 a 15% por partida. Em um plantel de 32 jogadores, você fica, em média, com, no máximo, 4 fora de partida. Nós atingimos 20%, que é muito alto e não há explicação lógica”, declarou o dirigente na ocasião. Dias depois, houve uma reunião entre Vilson Ribeiro e o departamento médico, de onde o presidente saiu convencido com as explicações.
Para Ernlund, no entanto, o número de lesionados dentro do Coritiba está dentro de uma normalidade. “Isoladamente sempre se acha que em um determinado momento teve mais lesão, mas é preciso analisar um ano inteiro. O que se espera é que cada time tenha sempre 10% do elenco tratando de lesão. Em algum momento este número pode ser menor, em outro maior”, considerou o médico.
A reportagem da Paraná Online tentou entrar em contato com o coordenador médico do Coritiba, Walmir Sampaio, mas não conseguiu falar com ele.
