O Estádio Couto Pereira se mistura à própria história de grandeza e crescimento das tradições do Coritiba. O gigante de concreto armado, como muitos torcedores carinhosamente costumam chamar o Alto da Glória, foi também utilizado pelos co-irmãos e rivais Atlético e Paraná Clube por diversas vezes para jogos e grandes confrontos. Mesmo com as remodelações necessárias exigidas pelo Estatuto do Torcedor e Confederação Brasileira de Futebol – CBF, o Couto Pereira com os atuais 37.182 lugares – já teve 60 mil lugares, continua sendo a maior praça esportiva da capital. Seu recorde de público é de 70 mil pessoas na visita do Papa João Paulo II em 5 de agosto de 1980.
Início do patrimônio
Com seis anos de vida, o Coxa iniciou seu primeiro plano de investimento patrimonial. Em 1915, os sócios se reuniram e fizeram um empréstimo ao clube no valor de 5 mil contos de réis, transformados em 500 ações destinadas aos participantes. Foi aproveitado um local dentro do Parque da Graciosa, de propriedade da família de Arthur Iwersen, que o cedeu para o Coritiba construir seu primeiro estádio.
De junho de 1917 até maio de 1927, o clube mandou ali seus jogos. O estádio ficava no Juvevê, na rua João Gualberto, entre a Rocha Pombo e Moisés Marcondes.
A construção de um estádio próprio era desejo de Couto Pereira. Através de um acordo com a família Iwersen, o local foi devolvido, ganhando ainda o clube um ressarcimento pelas obras construídas, no valor de 13 mil contos de réis. Couto Pereira, mais João Viana Seiler, Pedro Nolasco Pizzatto, João Meister, Jocelyn de Sousa Lopes, Raul Lara, entre outros, atiraram-se à ideia e conseguiram achar uma área no Alto da Glória, pertencente a família de Nicolau Schaeffer, com 36.300 metros quadrados.
E em 20 de novembro de 1932 era inaugurado o Belfort Duarte, com o jogo Coritiba 4 x 2 América. Um belíssimo estádio, de alvenaria e madeira, sem pilastras que atrapalhassem os torcedores, com o campo protegido por uma extensa cerca de arame, cedros circundando toda a propriedade, com duas quadras de tênis e mais tarde uma de basquete.
Em 1942, inauguraria uma novidade para todo o Paraná; iluminação artificial para jogos noturnos com o jogo Coritiba 4 x 2 Avaí. Era o início da grandiosa obra que mais tarde tornou-se o Estádio Major Antônio Couto Pereira.
Novo impulso
Em 1956 Aryon Cornelsen assumiu a presidência do Coritiba. Ex-jogador, advogado e empresário comercial, mas com uma inteligência acima da média para a criação de promoções e eventos. Tendo ele recebido de um amigo curitibano que residia na Bahia um projeto de sorteios nos jogos, imediatamente o aprimorou e lançou na cidade. Era o Bolo Esportivo, que passou a ser a coqueluche da cidade. Outros clubes lançaram e fracassaram, só sobrevivendo o do Coritiba.
O time continuava campeão, não carecia de grandes investimentos, naquele semi-amadorismo da época. Mas a visão de Aryon era mais ampla: patrimônio. Pegou um projeto de seu irmão e maior arquiteto do Paraná, Ayrton Cornelsen, e implantou um novo estádio.
Foi derrubando o antigo e rodeou o velho com arquibancadas de cimento, inaugurando em 12 de outubro de 1958 a primeira parte da grandiosa obra. Recebeu uma ajuda pre,stimosa de seu pai, Emílio Cornelsen, que abandonou seus negócios e foi ser o feitor da construção, fiscalizando até os pregos que entravam e saíam na obra.
O Bolo Esportivo era uma realidade e todo o seu lucro era aplicado. Mas Aryon saiu em 63, foi reconstruir sua vida e o clube passou por várias crises, deixando de ganhar campeonatos, até que apareceu Evangelino da Costa Neves e o assumiu. A obra ficara pela metade e os recursos sumiram. Foi aí que surgiu novamente a figura de Aryon Cornelsen, com novo e ampliado plano de sorteios de carros, casas, explodindo outra vez, só que agora em todo o Paraná. E o estádio começou a crescer novamente, surpreendendo a todos.
E o estádio cresceu, contando para isso com uma contribuição decisiva dos irmãos Mauad.
Projeto e estrutura
O estádio que conhecemos hoje em dia é muito diferente do apresentado no primeiro projeto. O estádio olímpico teria capacidade para 75 mil pessoas, sendo 48 mil sentadas, 54 lojas com 50 metros quadrados cada, formando um shopping center, um hotel com 108 leitos, restaurante, salão nobre, museu e sala de musculação.
Seu formato seria a continuação das atuais cadeiras sociais do estádio, com arquitetura simétrica e arquibancadas frontais similares. Nas laterais haveria uma decaída, dando um charme ainda maior à obra.
Toda essa estrutura viabilizaria o espaço em períodos fora da temporada esportiva. E para arrecadar dinheiro e dar início à construção, o primeiro passo tomado foi a venda de cadeiras perpétuas, plano semelhante ao utilizado na construção do Maracanã para a Copa de 1950. As mensalidades dariam respaldo para a manutenção do complexo esportivo.
Para algumas pessoas tudo isso era loucura. Uma cidade como Curitiba não precisava de uma obra com tamanha dimensão, e por isso a construção do grande estádio foi fundamental na história do clube, colocando o Coritiba como a principal força do futebol no estado, à frente dos rivais e servindo de exemplo ao Brasil.
Sonho e realidade
Quando Evangelino da Costa Neves assumiu a presidência do clube foi que a construção do grande estádio teve efetivamente continuidade. Novamente com a colaboração de Aryon, dessa vez nos bastidores, e o apoio dos irmãos Mauad, o estádio começou a ganhar sua dimensão. O projeto ganhou novas formas, mais uma vez arrojadas para seu momento. Seria viabilizada a construção de três anéis de arquibancada, que formariam uma linda e inovadora arquitetura.
A partir de 1977 o nome do estádio foi alterado de Belfort Duarte para Major Antônio Couto Pereira, em referência ao presidente que iniciou o sonho de ter o estádio atual. No início de 2005, o estádio ficou fechado para uma série de obras na sua estrutura, que hoje dão mais conforto ao torcedor, aos jogadores assim como a drenagem do novo gramado, seguindo as normas das Fifa.
Arquivo |
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Início da construção do Belfort Duarte, o primeiro estádio do Coritiba. |