O Coritiba vive um momento de absoluta tensão no Campeonato Brasileiro. Mesmo diante de um quadro pouco animador, o clube não consegue buscar na base alguma solução para as suas visíveis carências técnicas. Reflexo de um longo período sem o tratamento correto, em especial na transição entre base e profissional. O Verdão vem conquistando títulos e mais títulos – até internacionais – com suas equipes de juniores e juvenis, mas isso não se reflete na presença efetiva desses jogadores no grupo principal. Hoje, por exemplo, apenas sete atletas formados no clube estão à disposição do técnico Celso Roth.
Uma situação que motivou uma completa reestruturação do seu departamento de futebol, em especial a base. “Precisávamos definir uma metodologia integrada, que contemplasse todas as categorias, desde o sub-11. A ideia é uma filosofia única, onde o jogador chegue ao sub-20 pronto para ser lançado no time principal”, comentou o diretor de futebol Anderson Barros. O dirigente está à frente deste processo, que acabou determinando mudanças estruturais. O técnico Alan Aal, agora comanda os times sub-20 e sub-23 (categorias muito próximas), e isso determinou as saídas de Zé Carlos e Édson Borges, num inevitável “enxugamento da máquina”.
Para Zé Carlos, o Coritiba ficou para trás devido à sua política de não apostar nos garotos e buscar um equilíbrio técnico a partir de contratações. “O Atlético e o Santos são ótimos exemplos de como se deve apostar, e acreditar, nos garotos da base. No Coritiba, isso não existe. Vem um técnico, contrata cinco, ele vai embora, pede mais cinco e quando se vê a prateleira está cheia”, comentou Zé Carlos. “Desta forma, não se abre espaço para os garotos”. Hoje, isso está muito claro. Apenas o zagueiro Luccas Claro e o meia Dudu têm tido alguma chance na disputa da Série A. Daquele grupo “alternativo” que defendeu o clube nas primeiras rodadas no Paranaense, praticamente ninguém “vingou”.
Um cenário que vem se repetindo ao longo dos últimos anos. Desde 2007 o Coritiba não consegue colocar um time composto por atletas fabricados em casa. A equipe campeã da Série B, em 2007, por exemplo, conta com o zagueiro Henrique, os meias Pedro Ken e Marlos e com o atacante Keirrison como titulares absolutos do time, comandado pelo técnico Renê Simões. Nos últimos anos, poucos garotos ascenderam e deram retorno financeiro ao Verdão. Após a transferência de Keirrison, em 2008, as transações “minguaram”. Mesmo assim, o clube conseguiu negociar atletas do potencial de Felipe (zagueiro), Lucas Mendes (ala) e Willian Farias (volante).
Neste período, talentos como Renatinho, Tiago Real e até mesmo Abner praticamente não vestiram a camisa coxa-branca. O caso mais recente envolve Abner, que já foi embora após atuar por apenas trinta minutos no time principal (frente ao Goiás, no Brasileiro do ano passado). No final do ano passado, o jogador teve os percentuais do clube negociados com um grupo empresarial. Agora, plenamente recuperado de uma cirurgia no joelho – lesão sofrida defendendo a seleção brasileira sub-20 – Abner foi federado no PSTC, seu clube de origem, e foi negociado com o Real Madrid.