Renascimento? Ressurreição? Reerguimento? Qual destas palavras se aplica melhor com o que aconteceu com o Coritiba em 2010? De um clube esfacelado por problemas internos, com um buraco orçamentário, rebaixado para a Segunda Divisão e com sua torcida tachada de baderneira pela grande imprensa, reaparece o Coxa -agora de volta à Primeira Divisão, ainda que a matemática teime em exigir um pontinho a mais.
Tudo isso, com um elenco coeso, um treinador que só deixará o clube porque vai trabalhar na Seleção Brasileira, uma diretoria afinada, uma torcida que abraçou a causa do time e vários problemas financeiros equacionados. Qual foi a receita?
O primeiro passo para a retomada do Coritiba aconteceu ainda em dezembro do ano passado, com a tragédia do dia 6 ainda fresca na memória. Sem respaldo político, mas sem oposição, o presidente Jair Cirino dos Santos buscou apoio no empresariado para montar uma chapa para comandar o clube.
Dela emergiram três “cardeais”: Ernesto Pedroso Júnior, José Fernando Macedo e, principalmente, Vílson Ribeiro de Andrade. Pedroso e Macedo, mais afeitos aos bastidores, foram os principais intermediários entre a cúpula alviverde e o comando do futebol, centralizado no diretor Felipe Ximenes e no técnico Ney Franco.
Vílson de Andrade, eleito vice-presidente, virou o mandatário de fato do Coritiba. Com liberdade de ação e ousadia há muito não vista no Alto da Glória, fez um profundo corte de gastos, acabou com o antigo plano de sócios (que dava à empresa administradora quase 40% dos ganhos), rompeu unilateralmente com a torcida organizada, aproveitou o tempo de fechamento do Couto Pereira para revitalizá-lo e deu respaldo absoluto à direção de futebol.
Tal centralização pode ser criticada, mas neste 2010 funcionou quase à perfeição. Tirando um ou outro momento de excesso de exposição, o estilo de Vílson de Andrade contagiou o Coxa, e os sucessos dentro e fora de campo lhe deram ainda mais autonomia.
Exemplo: inicialmente impopular, a majoração dos ingressos em todos os setores do Couto Pereira hoje é assimilada naturalmente como um método de encaminhar o torcedor para o plano de sócios. “Imaginemos que por mês tenhamos três partidas em casa. Cada jogo custará para o sócio-torcedor menos de vinte reais”, explicou o vice-presidente.
Para ele, a associação é o caminho mais rápido para a sustentabilidade do Cori. Faz sentido: com os 17 mil sócios que o clube divulga ter, são cerca de 900 mil reais mensais “limpos” nas contas alviverdes.
Dinheiro que é muito importante nas atuais contas. E pode ser mais. “Nosso rival tem vinte e poucos mil sócios. E para nisso, por que eles não têm onde colocar torcedores. Nós temos o Couto Pereira para 34 mil pessoas, e tenho certeza que poderemos contar com 34 mil sócios”, afirmou Vílson, que projeta 20 mil associados em dezembro e 30 mil até o final de 2011.
Com o Coritiba recuperado, e de volta à Primeira Divisão, Vílson Ribeiro de Andrade e seus companheiros de diretoria têm planos mais ousados. “Não estamos pensando apenas no agora. Temos um planejamento de cinco anos pela frente”, avisou o dirigente.
“Queremos que o Coritiba tenha um rumo certo, seja quem estiver no comando”, completou Vílson, que não pretenderia, segundo pessoas ligadas a ele, ser o candidato à presidência do clube na eleição do ano que vem.
Entretanto, o vice-presidente coxa não se vê fora do projeto de reconstrução alviverde. “Ninguém vai ser dono do Coritiba enquanto eu estiver no clube”, resumiu, em entrevista recente às emissoras de rádio curitibanas.
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