O garçom Joelson Pedroso, de 45 anos, está longe de ser um caçador de relíquias. Mas o acaso o fez encontrar um pequeno tesouro: uma moeda de 1927 com o símbolo do Coritiba. Há cerca de 20 dias, ele estava com três parentes no terreno em frente ao restaurante em que trabalha, no bairro Vargem Grande, em Pinhais, quando chegou em suas mãos, como uma obra do acaso, o objeto que renderia uma boa história para a família.
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“Estávamos conversando sobre a dificuldade que é pagar as contas e eu brinquei com meu sobrinho Emerson: ‘me dá la plata’. Ele olhou pro chão, viu o que parecia ser uma moeda comum, pegou e jogou pra mim respondendo: ‘tá aí’”, lembrou, rindo do momento inusitado.
Joelson pegou o “presente” e também achou que se tratava de uma simples moeda. Como o objeto estava com bastante barro, ele passou o dedo para tentar limpar um pouco e viu um símbolo do Coxa. Como não torce para o time, não deu muito importância. Guardou o que achava se tratar de um brinde qualquer do Alviverde e com ele permaneceu por aproximadamente duas semanas, sem muito apego à redonda peça metálica. Até que decidiu que presentearia alguém que torcesse para o Verdão com a relíquia.
Em um primeiro momento, ofereceu à sobrinha Karla Maria Pires Cid, mas ela, depois de alguns dias, entregou a quem poderia ser um guardião perfeito para o objeto, o outro Joelson, genro dela.
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Joelson Sampaio de Jesus, de 27 anos, é o coxa-branca mais apaixonado da família e na hora em que ganhou a moeda foi o primeiro a entender que se tratava de algo muito especial. O técnico mecânico olhou o objeto com a devida importância, limpou como todo cuidado o presente e viu que além do símbolo do Coritiba, a moeda trazia também algumas informações interessantes.
“Campeões de 1927. 2º Quadro”, seguido por diversos nomes, possivelmente jogadores da época. Curioso para saber do que se tratava, ele fez uma breve pesquisa na internet e postou a imagem do objeto em um grupo do Facebook sobre histórias antigas da cidade de Curitiba. Foi aí que o torcedor viu que realmente tinha herdado uma relíquia.
Não era só uma moeda
Com a ajuda de alguns torcedores do Coxa, a descoberta inicial de Joelson foi que a moeda, na verdade, era uma medalha. O termo “2º Quadro” refere-se a um título de uma categoria de aspirantes que existia na época. O clube, inclusive, foi pentacampeão na disputa, entre 1927 e 1931.
Apesar de a medalha referir-se a um título menor, diversos jogadores com o nome gravado no objeto chegaram ao time principal do Alviverde. Entre eles, destaque para os atacantes Alphonso Stephan, que fez 41 jogos pelo profissional, e Perin (Pedro Collere Sobrinho), com 43.
“Na época os times não podiam fazer substituições. O time principal jogava aos domingos e os demais atletas que não tivessem entrado em campo estavam aptos a participar do time de aspirantes. Assim, não era incomum um atleta do time principal estar nos aspirantes. Não era como se fosse um time de jovens. Às vezes mesmo um atleta mais experiente, por ser reserva de outro, ia para o 2º Quadro”, detalhou Guilherme Straube, pesquisador da história do Coritiba e um dos fundadores do grupo Helênicos, que estuda a memória do clube.
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“Quanto à importância, não chegava a ser um torneio principal, uma vez que era disputado por atletas não titulares das equipes da cidade. Aliás, essa uma característica da época, pois não se jogava Estadual, afinal, se deslocar por diversas cidades para jogar uma partida de futebol era impensável e muito caro. Assim, os torneios eram locais, apenas”, explicou ele.
Outra curiosidade que torna o objeto encontrado ainda mais precioso é que foi confeccionado pelo consagrado artista plástico José Peón, argentino nascido em 1889 e radicado em Curitiba, que fez história pelas gravações artísticas em medalhas e placas. Peón, falecido em 1972, foi também um excepcional desenhista, tendo criado inúmeros logotipos de empresas e instituições, como é o caso do Mate Leão e da Universidade Federal do Paraná.
O objeto é raro e o próprio Coritiba não tem a relíquia, mas o apaixonado coxa-branca Straube, por coincidência, tem em seu acervo a mesma medalha. “Meu avô, Guido Straube, era amigo do Peón, e ganhou dele a medalha, isso no final dos anos 20. Então ele passou para meu pai, que passou para mim”, contou.
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Com um imenso valor histórico, a medalha pode ter também valor monetário, porém isso vai depender de quanto um apaixonado pelo Coritiba, ou mesmo pela história em geral, estaria disposto a pagar pela preciosidade.
“O valor fica entre o vendedor e o comprador. Se alguém achar que é valioso e resolver que paga R$ 10 mil, vale isso. Mas se ninguém quiser, não vale nada”, explicou Straube, que não venderia sua peça, parte de uma herança importante em sua família.
Como foi parar lá?
A família dos dois Joelsons acredita que a medalha não estava inicialmente no terreno onde foi encontrada. Isso porque, o dono do local, que também é da família e estava junto no dia da descoberta, fez algumas mudanças recentemente por ali. Para fazer uma terraplanagem no local, Clodomir Pedroso, o proprietário, comprou 123 caminhões de terra, que vieram da prefeitura de Pinhais. A conclusão que chegaram é que a medalha veio com a terra encomendada.
Ainda que a relíquia possivelmente não renda de imediato uma quantia de dinheiro, não deixa de ser um tesouro. Mas caso fosse vendida, o guardião da preciosidade encontrada em Pinhais não se importaria em dividir o lucro.
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“A descoberta passou por quatro pessoas. Mesmo eles desdenhando da moeda, ainda sim fizeram parte da descoberta. Então em uma suposta venda eu dividiria o valor”, disse Joelson, que, na realidade, pensa que seria muito mais importante doar o objeto histórico ao Coritiba.
“Eu realmente estou muito feliz por ter sido premiado pela vida e essa medalha ter chegado até mim. O Coritiba é o meu clube do coração, gostaria que tivessem a medalha no acervo”, finalizou.
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