Ainda há esperança. O Coritiba jogou com raça e humildade e no ritmo de sua torcida fez 2×1 na Ponte Preta e segue na luta contra o rebaixamento. Uma vitória fundamental numa rodada onde todos os clubes abaixo da 16.ª colocação – à exceção do Brasiliense – conseguiram os três pontos. O drama continua agora, em dois jogos fora de casa, contra Atlético Mineiro e São Caetano.
Com garra, o time de Márcio Araújo superou suas limitações – e um gramado encharcado. Imprimindo um ritmo forte assim que o jogo começou, o time paranaense adotou uma marcação sob pressão e encurralou a Macaca. Com cinco minutos já havia arrematado com perigo três vezes, aproveitando a insegurança de Lauro, que rebatia excessivamente. O goleiro espalmou para o meio da área um chute forte de Caio, logo aos 2?, e Alcimar ?carimbou? a zaga na sobra.
Era só o prenúncio do que viria a seguir. Caio e Renaldo pararam nas mãos de Lauro. Pouco depois, James mandou a bola rente ao travessão, após uma cobrança de falta. Só que o tempo foi passando e a Ponte Preta conseguiu encaixar a marcação e esfriar o ímpeto coxa-branca. Nesse momento, a sorte pendeu para o lado do Coritiba. Num levantamento de Caio para a área, aos 24?, Lauro socou a bola, que tocou na cabeça de Vágner e entrou, tirando a galera alviverde do sufoco.
O zagueiro quase foi do céu ao inferno em quatro minutos. Vágner se atrapalhou com a poça d?água e Tico cruzou para a área, mas Peruíbe afastou o perigo. Mostrando que a noite era de Vágner, o zagueiro salvou sobre a risca, um chute de Élson, que seria o gol de empate. Márcio Araújo aproveitou o intervalo para corrigir o posicionamento do time – trocando, ainda, Rubens Júnior por Ricardinho. Mais veloz, o Coritiba seguiu apostando nos chutes de longe e na insegurança de Lauro.
Só que como ocorrera na fase inicial, a Ponte Preta, aos poucos, equilibrou as ações. Rissut, de falta, fez Douglas trabalhar. Do outro lado, o Coritiba pecava nas finalizações, até o momento em que Caio, aos 20?, deixou Alcimar livre na área. O atacante dominou e bateu no alto para dar maior tranqüilidade ao time: 2×0. Nos acréscimos, a Ponte Preta ainda diminuiu com Isaías. O gol gerou um descontrole na equipe e a Ponte esteve a pique de empatar. Mas, já era tarde para a reação. Melhor para o Coxa, que ainda respira. Já a Ponte Preta, olha com preocupação a aproximação dos retardatários e corre risco de descenso.
Presidente destemperado
?Eles deviam é ir vaiar a mãe.? O desabafo – mais um – de Giovani Gionédis ocorreu logo após a partida, quando o presidente coxa-branca se dirigia ao vestiário. Se mostrou um certo destempero diante do protesto da torcida, o dirigente se diz confiante na reação do time em permanecer na Série A. Voltou a assegurar que suas ações fizeram parte de um planejamento de resgate financeiro do clube. ?Se não tivéssemos feito o que fizemos, hoje o Coritiba estaria falido.?
Atento apenas ao momento do time, o técnico Márcio Araújo ressaltou a valentia do time, que superou um adversário difícil e a pressão que o momento lhe impunha. Diante das vitórias de outros concorrentes diretos nessa luta contra o rebaixamento, o Coritiba entrou em campo sabendo que era vencer ou morrer. O time ganhou sobrevida com o resultado e agora vai decidir sua sorte em dois jogos fora de casa, contra equipes que vivem drama similar. ?É preciso ser valente, mas com equilíbrio. É esse ponto que precisamos atingir na reta final?, comentou Araújo.
E a tensão… virou alegria
Foi mais uma noite de tensão e sofrimento para a torcida coxa. Mas desta vez, o esforço da galera valeu. O Coritiba aproveitou a força das arquibancadas, conseguiu uma vitória fundamental na luta contra o rebaixamento e garantiu a festa dos mais de 24 mil torcedores que foram ao Couto Pereira.
Nem mesmo o temporal pré-jogo foi suficiente para esfriar o ânimo alviverde, que compareceu em massa ao Alto da Glória. E eles estavam dispostos a levar o Coxa ao triunfo diante da Macaca, nem que fosse no grito. ?Hoje é vitória ou segunda divisão. Mas com o apoio da torcida, ela virá?, dizia o coxa-branca Antônio Schneider, de 52 anos, ao entrar no estádio.
A festa na entrada do time ao gramado do Couto, demonstrava que Antônio estava certo. Bexigas, sinalizadores de luz e um foguetório ensurdecedor foram o abre-alas.
Empurrado pela galera, o Coxa partiu com tudo para o ataque. Mas o gol não saiu logo no início e a Ponte Preta equilibrou as ações. A empolgação da galera já parecia diminuir quando Vagner marcou.
A partir daí, a torcida não parou mais. Mesmo quando veio o segundo tempo e a Ponte passou a pressionar. Quando Alcimar amplicou, o Couto explodiu de alegria. Torcedores se ajoelhavam, erguendo as mão ao céu, na certeza que a vitória não mais escaparia.
Mas não seria tão fácil assim. Já no fim do jogo, a Ponte reduziu a vantagem. E os minutos seguintes pareceram uma eternidade, para sofrimento alviverde. Porém, a noite era mesmo verde e branca e o grito de alegria e alívio que veio ao apito final, se transformando numa grande cantoria. ?Não, Coxa não cai?, comemorava a torcida, plagiando o sucesso de Bob Marley.
Se o canto alviverde se tornará profecia, apenas as próximas rodadas revelarão.
CAMPEONATO BRASILEIRO
39ª RODADA
SÚMULA
Local: Couto Pereira (Curitiba).
Árbitro: Leonardo Gaciba da Silva (Fifa-RS).
Assistentes: Altemir Hausmann (Fifa-RS) e Sérgio Buttes Cordeiro Filho (RS).
Renda: R$ 109.405,00.
Público: 23.869 pagantes (24.953).
Gols: Vágner a 24° do 1º tempo. Alcimar a 20° e Isaías a 46° do 2º tempo.
Cartões amarelos: Peruíbe (Coritiba). Élson (Ponte Preta).
CORITIBA 2×1 PONTE PRETA
CORITIBA
Douglas; James, Anderson, Vágner e Rubens Júnior (Ricardinho); Peruíbe, Luís Carlos Capixaba, Jackson e Caio; Alcimar e Renaldo (Anderson Gomes). Técnico: Márcio Araújo.
PONTE PRETA
Lauro; Rissut, Galeano, Rafael Santos e Bruno; Ângelo, Éverton, André Silva (Isaías) e Élson (Rafael Ueta); Evando (Danilo) e Tico. Técnico: Estevam Soares.
Presidente do Coritiba faz grave denúnicia
Macumba, astrologia, tarô e… manipulação de resultados. Segundo o presidente Giovani Gionédis, tudo isso já foi oferecido ao Coritiba como ajuda na luta contra o rebaixamento. A revelação foi feita na manhã de ontem, durante o I Congresso Nacional de Justiça Desportiva, que está sendo realizado no Centro de Convenções de Curitiba.
Gionédis era um dos palestrantes em uma mesa de debate sobre o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). Após sua exclamação sobre o tema do encontro, o presidente do Coxa falou sobre a situação do clube no Brasileirão. ?Nessa situação que o Coritiba se encontra, já fui procurado por todo tipo de gente: macumbeiro, astrólogo, tarólogo e até gente inescrupulosa oferecendo acerto de resultado?, afirmou. Essa pessoa teria oferecido jogadores de outros clubes, que entregariam resultados em troca de dinheiro.
Ao lado de Gionédis estavam o presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Luiz Zveiter, e o procurador-geral, Paulo Schmitt. Resultado: Zveiter determinou abertura de um inquérito para investigar a denúncia e, inclusive, já designou o auditor Rubens Approbato Machado como responsável pelo caso.
Após o encerramento dos debates, Gionédis não quis falar sobre o assunto com a imprensa. ?O tribunal que avalie as minhas declarações.
Se eu for chamado, falarei em depoimento?, esquivou-se, sem esclarecer quem teria oferecido a ?bruxaria? a favor do Coxa.
No que depender de Zveiter, o presidente do Coritiba vai ter mesmo que explicar melhor
a história. ?Vamos abrir um inquérito para banir essas pessoas do futebol. O Gionédis vai ser ouvido e vai falar os nomes. Se não, ele próprio pode ser punido?, avisou o presidente do STJD. Ele disse que Gionédis deve ser ouvido hoje por Approbato, que chegou à noite ontem, para participar do congresso.