Salvador (BA) – O Coritiba, que entra em campo hoje contra o Vitória, tenta recuperar o tempo, os pontos e a confiança perdidos em algum lugar do segundo turno.
Além de lutar pelos três pontos, é certo que o Coxa busca em Salvador a volta da auto-estima e a retomada do “espírito de competição” que a equipe demonstrou em quase todo o campeonato brasileiro. Sem ele, fica ainda mais difícil chegar na Copa Libertadores.
E foi por isso que o Coritiba teve uma semana, digamos, atípica. O técnico Paulo Bonamigo subverteu seu próprio trabalho para tentar criar dentro do elenco um clima de competitividade interna que talvez não tenha sido visto no Alto da Glória. Ele chegou a dizer que o time “precisava se xingar mais”, numa derivação de sua polêmica frase do início da semana, que dizia que apenas “quem estiver com vontade vai jogar”.
Se as frases desse “novo” Bonamigo soam estranhas para quem as ouve, dentro do clube a recepção foi a melhor possível, tanto de diretoria quanto de elenco. “Ficou claro que todo mundo estava querendo chegar junto, correr atrás da classificação. Estamos realmente mais motivados”, comenta o goleiro Fernando, um dos líderes do grupo coxa.
Até mesmo o pedido de maior cobrança interna, impensável até há pouco, foi bem recebido. “Na hora do jogo, em que a briga esquenta, não dá para ficar pedindo ?por favor?. A gente é muito amigo, o clima é ótimo, e até por isso não podemos ficar melindrados com possíveis cobranças que aconteçam durante o jogo”, avalia o volante Roberto Brum.
Dessa forma, o Coritiba aparenta estar mais animado que em outras semanas. Mas se sabe que esta motivação só vai continuar se o time passar pelo Vitória. “Está tudo muito bom, mas não vai adiantar nada se perdermos”, confirma Jackson. Tal conversa foi uma tônica na viagem da coxa para a Bahia – o grupo chegou a Salvador no final da manhã de ontem.
E eles receberam com certa descrença a possível desmobilização do Vitória, cantada a quatro ventos pela imprensa e até pela torcida local. “Esse tipo de jogo corre o risco de ser até mais difícil que uma partida contra uma equipe que ainda disputa alguma coisa no Brasileiro. Eles precisam mostrar que podem ficar no clube ano que vem, e vão dar tudo”, analisa Fernando.
Até por isso Bonamigo prefere levar a campo uma formação “conservadora”. Apesar de pensar em formar um time com três zagueiros ou com mais homens de frente, a opção final foi a de colocar Pepo no meio (mais uma tentativa de suprir a ausência de Tcheco) e manter Jackson (ver matéria) como elemento de ligação entre meio e ataque.
Há mais de três meses sem vencer fora de casa, o Cori vai tentar quebrar o jejum com a formação que mais venceu longe do Couto Pereira. “É um esquema que os jogadores já conhecem, e que sempre surtiu efeito quando nós tivemos atitude dentro de campo. É isso que eu espero dos jogadores contra o Vitória”, diz o treinador coxa.
Jackson terá liberdade em campo
Salvador – Se algum jogador do Coritiba pode ser considerado a “grande esperança” para o jogo de hoje, esse alguém é Jackson. O armador será o responsável pela aproximação entre meio-de-campo e ataque, com uma liberdade de atuação que poucas vezes ele teve desde que chegou ao Alto da Glória. É a forma dele também retribuir o apoio da torcida, que ainda o considera como o craque que pode levar a equipe à Libertadores.
A partida em que Jackson teve mais liberdade tática foi contra o Paysandu, em Belém, ainda no primeiro turno. E naquele jogo ele não só foi o melhor em campo como também fez um dos gols mais bonitos do campeonato brasileiro, driblando toda a defesa adversária em uma arrancada que começou no círculo central e terminou no gol paraense. “Quando pôde jogar, o Jackson deu uma contribuição incrível”, comenta o técnico Paulo Bonamigo.
Só que o treinador precisou contar com a obstinação do meio-campista em outras funções. Dessa forma, Jackson acabou jogando longo tempo como ala-direita, e outro bom período como segundo volante. Nessas posições, o jogador mais aparecia correndo do que jogando. “Eu tinha outras responsabilidades. Quando era ala, tinha até que cobrir o zagueiro que subia para o apoio”, explica o jogador.
Inevitavelmente, o potencial técnico dele acabou subaproveitado. “Ninguém pode reclamar de falta de vontade do Jackson. Ele está se entregando”, elogia Bonamigo. Talvez até demais, já que o meia tem que marcar, cobrir, apoiar, chutar a gol e ainda ser o referencial técnico do Coritiba. Apesar de um importante auxílio tático, ele acabou caindo de produção.
Agora, Jackson volta a ser o meia que fora no Sport e no Palmeiras. “Era assim que ele jogava no início da carreira, e foi assim que ele explodiu”, admite Bonamigo. Nos últimos treinos, viu-se o ponta-de-lança que o Coxa tanto sonhava: lançando, se aproximando e chutando a gol, Jackson foi um dos destaques do coletivo de sexta. (CT)
Vitória tem figurinhas conhecidas
Salvador – O Vitória tenta achar motivação para jogar as rodadas finais do campeonato brasileiro. Ela não aparece na tabela, já que a equipe baiana é a 16.ª colocada na competição. Também não aparece no banco de reservas, pois o interino Nelsinho Góes “reestréia”após a demissão de Lori Paulo Sandri. Nem nas arquibancadas, já que o time não vence em casa há três partidas. Mas duas coisas podem agitar os rubro-negros: a ligação de alguns jogadores com o Coritiba e, por incrível que pareça, um visitante da Coréia.
O centroavante Nadson apareceu de surpresa no treino de ontem, no Barradão, aproveitando uma parada do campeonato coreano (ele defende o Samsung). Visitou os companheiros, lembrou os tempos em que vestia a camisa do Vitória – ele ainda é o artilheiro do time no Brasileiro -e prometeu estar no estádio hoje, ao lado dos familiares, para empurrar sua equipe para um resultado positivo.
Além da presença ilustre, três jogadores têm bons motivos para enfrentar o Coritiba e tentar a vitória. O primeiro, o atacante Zé Roberto, já está confirmado no time. Ainda jovem, o jogador tem uma trajetória atribulada: começou nas categorias de base do Coxa, mas foi dispensado por problemas disciplinares. Passou por Juventus (onde foi pego no exame antidoping), Portuguesa e Cruzeiro, sempre com dificuldades para se manter. O Vitória é sua última chance.
Para os outros dois, que disputam a vaga que sobra no ataque, as ligações são distintas. Alecsandro tem Curitiba e o Coritiba nas veias, já que é filho de Lela, o maior ídolo do time campeão brasileiro de 85. E Enílton, o “Maluco Beleza”, voltou ao Brasil depois de ser negociado pelo Coxa com o Tigres de León (México) – a passagem dele no Alto da Glória foi de altos e baixos.
No resto da equipe, Nelsinho Góes tem apenas uma dúvida – Vander (mais marcador) ou Samir (mais agressivo) no meio-de-campo -, que só será dirimida momentos antes do jogo. (CT)
CAMPEONATO BRASILEIRO
VITÓRIA X CORITIBA
Vitória: Juninho; Alex Santos, Marcelo Heleno, Nenê e Alessandro Azevedo; Vinícius, Tiago Matos, Vander (Samir) e Róbson Luís; Zé Roberto e Alexsandro (Enílton). Técnico: Nelsinho Góes
Coritiba: Fernando; Maurinho, Danilo, Odvan e Lira; Reginaldo Nascimento, Roberto Brum, Pepo e Jackson; Edu Sales e Marcel. Técnico: Paulo Bonamigo
Súmula
Local: Manoel Barradas (Salvador – BA)
Horário: 16h (17h em Curitiba)
Árbitro: Wagner Tardelli Azevedo (FIFA-RJ)
Assistentes: Carlos Henrique Alves de Lima (RJ) e Hílton Moutinho Rodrigues (FIFA-RJ)