O tempo vai passando e o Coritiba segue sua sina. São oito derrotas seguidas e uma crise reforçada a cada mau resultado. A virada imposta pelo Flamengo acabou sendo responsável pela queda do auxiliar técnico Antônio Lopes Júnior e do coordenador técnico Sergio Ramirez (ver matéria). Em um ambiente conturbado, apenas uma pessoa parece estar calma – o treinador Márcio Araújo, que aposta na serenidade em meio ao turbilhão para tirar o Coxa da degola, já a partir do jogo de amanhã, às 19h30, contra o Figueirense, no Alto da Glória.
A formação do técnico alviverde é exatamente o oposto do que se vê no dia-a-dia do clube, que passou o mês de outubro sem vencer e com problemas em cima de problemas. ?Acho que nesta hora é que você precisa ter tranqüilidade. É claro que está todo mundo triste, que não estamos satisfeitos, que há muito o que melhorar. Mas não adianta nada fazer isso no desespero. Só vai nos atrapalhar?, comenta.
Ao contrário dos que pregam a ?linha dura?, Márcio Araújo prefere seguir seu estilo. ?Já passei por situações piores do que esta. E quero deixar bem claro isto para nosso grupo. Apesar do Coritiba ter sido derrotado seguidamente, o time ainda não está na zona de rebaixamento?, afirma o técnico, que bem ao seu estilo dá o segredo da recuperação. ?Sempre há possibilidades quando você acredita?, filosofa.
Para evitar polêmicas, Márcio prefere até não falar nos problemas de arbitragem. ?É duro, porque nosso trabalho é prejudicado. Só que não vai adiantar eu ficar falando se o resultado não volta. Não é do meu feitio fazer reclamações públicas?, diz.
Para ele, o momento é de cuidar do elenco. ?Eles estão preocupados com a fase, que não é das melhores. Mas, ao mesmo tempo, sabem que têm condições de recuperação?, ressalta Márcio, que quer acertar as falhas da equipe no Rio de Janeiro. ?Vamos corrigir o que não gostamos, mas algumas coisas positivas aconteceram?, garante o treinador coxa, que ontem, pela primeira vez, comandou um treino no CT da Graciosa ao lado de sua nova comissão técnica.
Ao seu lado, além do auxiliar Eudes Pedro, estavam Cláudio Marques, efetivado como assistente direto (por decisão do presidente Giovani Gionédis) e Nílton Santana, que veio com Márcio. Além deles, estará formando na comissão o preparador de goleiros Luís Henrique, que foi jogador do Coxa no início da década de 90. A diretoria confirmou ontem que não será contratado um novo coordenador de futebol até o final da temporada.
Roteiro da demissão da dupla
Cena 1: Por volta dos 30 minutos do segundo tempo do jogo entre Flamengo 2×1 Coritiba (àquele momento 1×1), segunda, na Ilha do Governador, o então coordenador técnico alviverde Sérgio Ramirez corre para o goleiro reserva Vizzotto. A ordem é para que se passe a seguinte orientação a Douglas, que depois a repassaria para o resto do time – evitar subidas desnecessárias ao ataque, principalmente do zagueiro Anderson, cuidado maior na marcação e evitar, a qualquer custo, a linha de impedimento. O contato é feito à revelia do técnico Márcio Araújo, segundo repórteres de rádio que acompanham o fato.
Cena 2: O treinador coxa dá entrevista para o canal fechado que transmite a partida. Atrás de Márcio Araújo, o presidente Giovani Gionédis esbraveja, franze o rosto, fecha as mãos, reclama abertamente ante a um parado Oscar Yamato, gerente de futebol. Ali já se tomara a posição de demitir Ramirez e o auxiliar técnico Antônio Lopes Júnior.
A medida, que era pedida por torcedores e setores do clube há algumas semanas, veio no roldão da derrota no Rio de Janeiro, em um momento surpreendente. Após a partida, imaginava-se uma gritaria alviverde contra a arbitragem de Wilson de Souza Mendonça, que marcou um pênalti inexistente de Anderson em Renato e consignou um gol duvidoso, o da vitória do Flamengo. Fora uma ou outra declaração de jogadores, quase não se ouviu reclamação.
Ao contrário, Gionédis nem quis falar de Mendonça. ?Não tenho o que reclamar do juiz no dia em que o Coritiba joga com quatro zagueiros?, atirou. A entrada de Alexandre foi a gota d?água para o presidente -pelo menos foi o que se retirou de suas declarações. ?Mal orientado?, segundo o dirigente, Márcio Araújo teria seguido conselhos de Ramirez e Lopes Júnior ao colocar o zagueiro no lugar do lesionado Reginaldo Nascimento.
Foi o ato final de dois personagens bastante contestados nos últimos dias, mas alvo de críticas há bom tempo. Dentro do Coritiba se fala abertamente na posição tomada por Lopes Júnior na final do Campeonato Paranaense – teria sido ele a pessoa que sugeriu a Antônio Lopes que se abandonasse a estratégia planejada para a decisão com o Atlético na Arena. O Delegado pensara em escalar Negreiros no lugar de Marquinhos, mas à última hora decidiu por Pepo. Como técnico interino, ele acabou fracassando em três partidas e entrando em rota de colisão com a torcida.
Ramirez acabou se desgastando por ter assumido -e ?anunciado? – as posições do departamento de futebol. O caso mais claro é o afastamento de Renaldo, decidido pelo comando do futebol e por Antônio Lopes Júnior, mas que acabou se transformando em uma confusão, por conta do anúncio de que o centroavante teria problemas físicos (negados depois pelo preparador Róbson Gomes). Além disso, pesou decisivamente o fato do ex-coordenador ter optado por mandar Lopes Júnior para o Rio, deixando Cláudio Marques em Curitiba.
Ingresso quase de graça pra chamar a galera
É hora de contar com a força que vem de fora do campo. A diretoria do Coritiba lançou ontem uma promoção de ingressos para a partida de amanhã com o Figueirense, jogo decisivo na luta para fugir do risco do rebaixamento. Esperando que os torcedores empurrem a equipe, os preços foram reduzidos para o patamar mais baixo dos últimos anos. Quem quiser ir ao Couto Pereira e comprar a entrada até às 14h da quinta, pagará R$ 3,00 por um ingresso de arquibancada. Os outros preços são os seguintes: cadeira, R$ 6,00; social, R$ 30,00.
A medida da direção coxa segue em paralelo com uma nota divulgada no início da semana pela torcida organizada Império Alviverde. Assinada pelo vice-presidente da facção, Osvaldo Dietrich, o texto apela para a unidade dos torcedores em nome da recuperação da equipe. ?Conselho, Coxan@utas, Mancha Verde, Coxaceiros, Cornetas do Fosso, todo e qualquer torcedor Coxa, a obrigação é nossa, nós temos que virar este jogo, temos que dar tranqüilidade para nossos jogadores e infernizar a vida dos adversários, vamos nos mobilizar, vamos mostrar o quanto é verdadeiro o grito: Coxa, eu te amo!?, termina a nota.
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