Não se via rostos tão dececpcionados no Coritiba desde a fatídica eliminação do Brasileiro do ano passado, na incrível goleada aplicada pelo Gama. A derrota de ontem para o Vitória derrubou o elenco, a comissão técnica e a diretoria do Coxa, que parecem andar em um navio que leva ao desconhecido. E, além de não saber como encarar esse desconhecido, eles não parecem saber como fazer o barco dar meia-volta e encontrar a calmaria.
A vaga para a Copa Libertadores está severamente ameaçada, e tal situação fez os três nomes mais representativos da delegação coxa (o capitão Reginaldo Nascimento, o técnico Paulo Bonamigo e o secretário Domingos Moro) tomarem posições distintas, mas que levam ao mesmo lugar. É possível que Fortaleza veja um Coritiba diferente – no espírito, na vontade, nos jogadores que estiverem em campo.
Estava programada para o final da noite de ontem uma reunião (convocada às pressas) entre o secretário, que comanda a delegação no giro pelo Nordeste, e a comissão técnica. “Temos que fazer alguma coisa. O tempo é curto, temos só duas partidas e uma vida em jogo”, comentou o dirigente, em entrevista exclusiva ao repórter Cristian Toledo, da Tribuna.
A atitude mais visível seria a troca de jogadores que estão na delegação. Tanto Moro quanto Bonamigo (e mesmo Nascimento) deixaram claro que há atletas que não perceberam que o momento é sério. “Parece que já esqueceram do que aconteceu nos últimos nove meses. Para chegar à Libertadores é preciso esforço”, atira o capitão alviverde. “A impressão que se tem é que há jogadores que não perceberam o quanto essa Libertadores é importante para a carreira deles”, espanta-se Moro.
Para Nascimento, é a hora de todos esquecerem seus detalhes pessoais. “Não adianta ficar pensando no ano que vem, 2003 ainda não acabou”, afirma. A razão velada da irritação de muitos é a abertura de negociações antes mesmo do final do Brasileiro – o caso mais notório é de Lima, que já estaria vendido para o Cruzeiro e ontem teve má atuação.
O que deixa Moro visivelmente contrariado. “A gente está fazendo tudo para que esses jogadores tenha do bom e do melhor. Fomos a Foz do Iguaçu, vamos ficar esse tempo todo no Nordeste, buscamos sempre a melhor estrutura, colocamos os salários em dia. O que mais é preciso fazer?”, questiona-se. “Nós precisamos dar uma sacudida, não sei de que jeito”, resume Bonamigo.
E os jogadores parecem também não saber. Reginaldo Nascimento estava abalado, por sentir que há dificuldade em chegar ao que ele (e tantos outros) sonha. “Sabe porque estou mal?”, pergunta ao repórter. “Eu estou me entregando 24 horas por dia ao Coritiba, levando problemas do trabalho para casa. E estou vendo um objetivo que é tão próximo estar fugindo da gente. Ainda dependemos dos nossos esforços, mas todo mundo precisa estar junto”, desabafa.
“Assuntos internos” preocupam
Cristian Toledo
Salvador
– Era um terceiro Paulo Bonamigo que aparecia para os repórteres após a derrota para o Vitória, no Barradão. Se nos dois anos e meio em que está em Curitiba ele sempre foi o treinador ponderado e sereno, que defendia visceralmente seus jogadores, e durante a semana partiu para declarações fortes e polêmicas, ontem era o sujeito desacorçoado que aparecia com vontade de falar coisas que não pode e querendo exigir de todos a entrega que ele demonstrou nesses últimos dias. Durante a partida, Bonamigo se esgoelou para tentar dar forma ao time, que mostrou mais uma vez um abalo psicológico profundo – quando o gol de Marcel foi anulado (ainda no primeiro tempo), a equipe se descontrolou e quase sofreu o gol; quando finalmente tomou o gol de Róbson Luís, não houve o que fizesse os onze que estavam em campo ficarem calmos. “Falta ambição para alguns jogadores. Eles precisam ver o quanto vale chegar na Libertadores”, disse Odvan, irritado após o jogo.O treinador até queria falar coisas assim, mas não pode. Se pudesse, falaria até mais, como demonstrou no meio da coletiva. “Eu poderia externar situações, mas não é o caso. São assuntos internos, que não podem sair de dentro do ambiente do clube”, disse. Se depender do que o capitão Reginaldo Nascimento e o secretário Domingos Moro falaram, ele deveria estar pensando na falta de aplicação de alguns jogadores.
Ele passou a impressão de querer dar uma cartada decisiva. Se o “segundo” Bonamigo passasse o “terceiro”, talvez o técnico abrisse o jogo e criasse uma situação limite, obrigando o elenco a dar uma resposta a ele dentro de campo – justamente o que ele quer. “Às vezes você precisa mexer com os brios dos atletas, porque o time está necessitando voltar a ter aquela atitude que sempre teve”, disse.
Se não pode fazer isso, sobra -em uma análise simplista, mas real – apenas uma coisa para Bonamigo fazer. Depois de defender e criticar as atitudes dos jogadores, de tentar criar soluções táticas e voltar ao habitual e de se colocar como responsável maior pelo mau momento do time, abre-se o caminho para uma mudança radical na equipe, maior que a simples substituição de Roberto Brum, que cumprirá suspensão automática contra o Fortaleza.
Perguntado sobre isso, Bonamigo confessou ser essa uma hipótese plausível (sem saber que ele teria respaldo superior para fazer isso). “Pode ser, porque é preciso fazer alguma coisa. Nós temos só dois jogos, e eu preciso acreditar que é possível. E só posso pensar assim, e contar com outros que também pensam assim”, afirmou, dando vazão ao “segundo” Bonamigo.
Mas ontem era o “terceiro” que estava em evidência. “Ficou muito difícil”, resumiu. “Eu sempre pensava em levar três pontos do Nordeste para Curitiba, para que tivéssemos a possibilidade de jogar a classificação em casa. Só que eu pensava que seria contra o Vitória, porque o jogo contra o Fortaleza vai ser muito mais difícil que esse. Se quisermos chegar, vamos ter que jogar mais, e muito mais do que jogamos no Barradão”, finalizou. Dito isto, os “três Bonamigos” foram embora – e nenhum deles sabia direito o que fazer.
Derrota tira vaga garantida entre os cinco
Salvador – Pela primeira vez em 34 rodadas, o Coritiba termina fora da zona de classificação da Copa Libertadores. Em mais uma má atuação, o time de Paulo Bonamigo perdeu para o Vitória por 1×0, ontem, num Barradão deserto. Apesar de não pontuar mais uma vez (é a terceira partida sem vitória), o Coxa ainda depende de suas forças: basta vencer Fortaleza e Criciúma que a equipe estará na maior competição interclubes do continente.
O Coritiba iniciou o jogo com tanta vontade que, logo após o apito de Wagner Tardelli, Marcel estava na cara de Juninho, depois de receber lançamento de Edu Sales. A intenção de Paulo Bonamigo era pressionar o Vitória desde o campo defensivo dos baianos, e a fórmula deu certo nos primeiros minutos.
Aos 8, Edu Sales sofreu carga e foi marcada jogada em dois lances. Na cobrança, Marcel fez o gol, mas o lance foi impugnado porque Tardelli não havia autorizado a cobrança.
O instante de maior desespero na primeira etapa aconteceu aos 16 minutos: Alexsandro recebeu livre na área e caiu – Fernando não chegou a tocar no filho de Lela, mas Wagner Tardelli marcou a penalidade. “Foi uma infantilidade do árbitro, de ficar preocupado”, disse o jogador alviverde. Zé Roberto cobrou com displicência e o goleiro coxa recuperou-se.
O calor e os erros de passe complicavam o Coritiba. Na defesa, Odvan e Danilo tinham dificuldade para encontrar o espaço certo, e às vezes apareciam brechas perigosas para as chegadas de Zé Roberto e Vander. A tentativa da ?ligação direta?, criticada por Bonamigo, era praxe, e inviabilizava o ataque alviverde.
Mas foi só – aos 9, Alecsandro e Zé Roberto trabalharam livres pela esquerda, a jogada foi invertida e Róbson Luís apareceu solto para marcar o primeiro (e único) gol do jogo.
Ali o jogo acabou para o Coritiba. Por mais que Bonamigo tentasse com Souza, Lima e Ceará, por mais que o time lutasse, por mais que os jogadores se entregassem de forma dramática, nada fez com que o Coxa ao menos igualasse seu rendimento com o Vitória. Enílton, que entrou logo após o gol, armou um carnaval – dos baianos – na defesa alviverde, e por quatro vezes o time da casa chegou na frente de Fernando.