Coritiba perde e torcida protesta

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Faixas como esta estavam espalhadas
em vários pontos do estádio, mas diretoria
promete não mudar a comissão.

O futuro do Coritiba virou uma incógnita. Depois do que se observou ontem, em pleno Couto Pereira, quando parte da torcida foi ao estádio para torcer por uma derrota para o vice-líder Santos (que na prática foi o que aconteceu), a rigor, esses torcedores perdem moral para exigir raça, garra e um resultado positivo de agora em diante. Os confrontos serão diante do Goiás, no próximo dia 28, domingo que vem, ou no dia 12 de dezembro, quando a equipe faz sua última apresentação no seu estádio, pelo Campeonato Brasileiro de 2004.

Há uma crise de identidade entre a torcida alviverde e quem de fato comanda o futebol do mais antigo clube do Paraná. O Cori, que mais títulos estaduais conquistou ao longo de sua história, está rachado. A relação entre os apaixonados torcedores e sua direção parece ter azedado de vez.

O jogo de ontem produziu várias manifestações de repúdio do torcedor em relação ao técnico Antônio Lopes. Com faixas espalhadas pelas arquibancadas e não somente nos espaços das organizadas do Alviverde, foi claro o recado do torcedor: ele está insatisfeito com o trabalho realizado pelo treinador e exige que o presidente, Giovani Gionédis, demita o treinador.

O técnico, no entanto, com décadas de estrada, entendeu que esse tipo de manifestação é típica de torcedor apaixonado. "O torcedor é passional e extravasa como bem entende. Eles têm todo o direito de se manifestar e, acredito que aqueles que comemoraram o gol do Santos, são falsos torcedores do Coritiba", ponderou o treinador, que já confirmou seguir no comando do time.

Sobre a "gritaria" pela sua demissão Lopes foi lacônico: "Isso aí não me pega. Estou acostumado a esse tipo de manifestação. Não é só comigo. Quando um time perde, a torcida vem exigir a saída do treinador. Faz tempo que é assim no futebol", ponderou.

Sem chances

Sobre a saída de Aristizábal, que ontem teve aceito o pedido de rescisão contratual, Lopes disse que nada pode fazer. "Sou funcionário do clube e tenho que acatar as decisões da diretoria". Já o presidente Giovani Gionédis reiterou que Antônio Lopes continua no Alviverde. Ele antecipou, porém, que a equipe que representará o time na próxima temporada deverá estar pronta até o fim de dezembro.

E Gionédis se fia nas chances matemáticas, dizendo que ainda confia numa vaga na Copa Sul-Americana em 2005. Para que o Coritiba possa alcançar esse resultado, ele terá que vencer os quatro jogos restantes e torcer por uma série de combinações de resultados.

Time defende a honra mas perde o jogo

O jogo de ontem foi uma prova da hombridade do elenco alviverde. Jogando contra o vice-líder, com um estádio onde havia um equilíbrio em número de torcedores das duas equipes -embora o mando tenha sido do Coxa -, os jogadores encaram o Peixe de frente.

A rigor, os primeiros movimentos foram de estudo mútuo. Embora Zé Elias tenha feito uma tentativa pífia no primeiro lance, a disputa se concentrou no meio-campo até que as duas equipes se arriscassem mais no ataque. E foi de Tuta a primeira boa oportunidade no jogo, quando Adriano fez as vezes de ala, cruzou na cabeça do centroavante, que apenas raspou na bola e ela foi por sobre o gol.

No lance seguinte, Tuta foi lançado por Laércio, que tocou em profundidade. Mauro se antecipou e impediu a finalização do matador coxa.

Foi quando o Santos começou a mostrar mais força ofensiva, em duas jogadas. Na primeira, Fernando espalmou para fora. Na segunda, Flávio, foi à linha de fundo e tocou para o centro da grande área. Deivid apenas escorou com o pé. A bola venceu Fernando, mas o travessão salvou o Coxa.

Depois de outro período sem lances de perigo, no fim da etapa Ricardo foi à linha de fundo pela esquerda, e colocou na medida para Tuta, que desta vez cabeceou com estilo, obrigando Mauro a fazer milagre.

No segundo tempo, pressionado pela vitória do Atlético-PR em Campinas, o Santos foi para cima do Coxa, mesmo pressionado no entando, o time da casa soube se defender bem. Com a defesa bem postada, a guerra tática foi favorável à defesa alviverde, que impedia as jogadas de velocidade pelas laterais ou as penetrações pelo meio.

Até que, num lance de azar de Capixaba, surgiu o gol santista. Ricardinho alçou na área. De costas, o meia raspou a cabeça na bola e quase marcou gol contra. Fernando espalmou para trás, a bola tocou no travessão e sobrou livre para Deivid apenas empurar para a rede.

O gol criou uma situação inusitada e inédita. Enquanto a galera santista fazia a maior festa, os torcedores alviverdes nas sociais e em parte das arquibancadas, festejaram, aplaudiram e gritaram o grito de guerra mais ouvido ontem no Couto Pereira: "Fora Antônio Lopes… Fora Antônio Lopes".

Protestos

Lances de destaque, apenas quando o técnico Antônio Lopes fazia alterações no time. Quando tirou Ataliba e colocou Pepo, todos aplaudiram os jogadores. Quando tirou Laércio para colocar Aristizábal, a manifestação foi de aplausos ao prata da casa. Já quando colocou Jucemar no lugar de Tuta, apupos para o atacante e coro de "burro, burro" para o treinaodor.

Aristizábal vai embora. Vaiado

Encerrou-se ontem, de forma melancólica, a passagem do colombiano Victor Hugo Aristizábal pelo Coritiba. Artilheiro do último campeão brasileiro, o Cruzeiro, clube pelo qual anotou nada menos que 21 gols na temporada 2003, Ari desembarcou em Curitiba como o maior reforço para a segunda participação alviverde na Copa Libertadores de América e, esperança de formar – ao lado de Tuta e Luiz Mário -, o maior e mais temível ataque do futebol brasileiro na temporada 2004.

O início da temporada foi até abonador. Mesmo sabendo de uma contusão que o deixaria de fora das primeiras partidas pela competição continental, a direção Coxa apostou no talento do matador colombiano.

Mas cometeu um erro estratégico, na opinião de alguns analistas, pois o segredo de Ari ter sido destaque no Cruzeiro, teve tudo a ver com um coxa-branca de coração e formação: o meia Alex, que foi um dos responsáveis diretos pelo título da Raposa no ano passado.

Sem um "garçon? a servi-lo no Alto da Glória, Ari nada mais foi que um sonho de verão para os Alviverdes. E foi mais ou menos o tempo que durou seus momentos de namoro e paixão entre a torcida e o atacante. Ele não foi muito bem na Libertadores. No Paranaense, foi ofuscado pelo brilho do ex-atleticano Tuta, autor do gol que garantiu o título Coxa em plena Arena da Baixada, em abril último. No segundo semestre, quando todos esperavam que o atacante finalmente desencantasse e ajudasse o Coritiba a se dar bem, ou no mínimo repetisse a boa campanha do ano passado, o colombiano se viu às voltas com contusões.

Isso fez com que a relação, que nasceu entusiástica entre a torcida e o craque da camisa 11, se transformasse em decepção e desconfiança.

Depois de altos e baixos, Ari teve uma despedida melancólica. Momentos antes da partida contra o Santos, vazou a informação de que o jogador estava deixando o Alto da Glória. Para resolver problemas familiares, ele pediu e a diretoria o liberou de cumprir o último mês de contrato, e vai economizar parte dos recursos que investiu (extra-oficialmente, sabe-se que seus salários giram em torno de R$ 100 mil mensais).

Mas ontem, aos 22 minutos do segundo tempo da partida na qual o Coxa já perdia por 1 a 0, o colombiano, que havia entrado em campo há pouco mais de dez minutos, foi expulso de campo e a torcida não perdoou. Foi vaiado de forma unânime. Em sua despedida, Ari diz ter saído chateado por não ter feito uma campanha que esperava no segundo semestre. Ele diz que sempre vestiu a camisa Coxa com orgulho e de maneira honrada, desmentindo o sentimento de parte da torcida, que achava que ele estava fazendo corpo mole.

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