A tarde de domingo poderia ter sido muito melhor para o Coritiba e seu fanático torcedor. São Pedro deu, de presente, uma tarde de verão em pleno inverno, com temperatura na casa dos 27 graus. A torcida respondeu ao apelo dos jogadores, comissão técnica e dirigentes, e compareceu em grande número, transformando o Couto Pereira num autêntico caldeirão. Mas, aos 23 minutos do segundo tempo, o time alviverde tomou seu primeiro castigo, exatamente quando começou a ruir o sonho da liderança do Campeonato Brasileiro, quando o time de Paulo Bonamigo tomou um gol previsto: cruzamento na diagonal e uma cabeçada “mortal’.
Mas até aquele momento, a festa foi completa. Casa cheia, belas jogadas do time da casa, e respostas à altura do adversário, fazendo com que o espetáculo valesse o preço pago pelo ingresso.
Se serve de consolo para os alviverdes, o resultado não traduziu em números aquilo que se passou durante os pouco mais de noventa minutos de bola rolando. O Coritiba tomou a iniciativa de atacar e buscar um resultado positivo, teve momentos brilhantes que, por coincidência ou não, tiveram origem, na maioria das vezes, como ponto de partida os pés de seu mais habilidoso atleta, Lúcio Flávio – no primeiro tempo ele teve maior liberdade para jogar. Armou jogadas a partir do meio-campo, tendo como companheiros ora Tcheco, ora Roberto Brum. Até Pepo, que originalmente trabalha muito mais na destruição da armação adversária, teve participação na jogada que abriu um grande sorriso no rosto de sua torcida. Em bela troca de passes entre Pepo, Lima e Lúcio, este último tocou bola açucarada para Genílson. Este, apenas teve o trabalho de esperar o melhor momento para, numa jogada de efeito, encobrir o goleiro Doni e abrir o placar do Alto da Glória.
O gol parece ter deixado o Coxa satisfeito. Embora Paulo Bonamigo não parasse um momento de gritar com seus comandados para que não recuassem tanto, os garotos do Alviverde insistiram em não obedecê-lo. Sorte que o Corinthians não teve um desempenho razoável no primeiro tempo. Com exceção de um chute, fraco e despretensioso de Vampeta, encaixado por Fernando sem maiores problemas, ainda aos 6 minutos da etapa inicial, os “mosqueteiros’ paulistanos pouco fizeram nesta fase do jogo.
E a tarde nunca pareceu ainda mais alviverde que no início do segundo tempo. O time voltou com Fabrício marcando mais de perto Lúcio Flávio que, mesmo assim, ainda conseguiu se livrar em algumas oportunidades de seu marcador. E toda vez que isso ocorreu, o Coritiba levou perigo à meta de Doni.
Mas não se pode descuidar de um elenco como o corintiano. E a reação paulista foi surgindo aos poucos, ora em contra-ataques, ora em jogadas mais trabalhadas. O primeiro salvador foi Pepo, que impediu Renato numa finalização. Depois, Gil não precisou ser marcado para, da marca do pênalti, isolar a bola. No lance seguinte, o gol alvinegro estava já maduro, mas Fernando salvou o Coxa, ao impedir o gol na cabeçada certeira de Deivid.
A resposta Coxa foi em dois lances. Scheidt impediu a finalização de Lima e, no escanteio, Lúcio encontrou Edinho Baiano no centro da área. Sua cabeçada saiu por cima.
O castigo veio na jogada prevista. Kléber aproveitou o isolamento de Reginaldo Araújo, explorou seu costado-avenida e cruzou na cabeça de Deivid, que acertou o canto esquerdo de Fernando. Logo depois, mais um gol corintiano, em falha de marcação da defesa coxa, definiu o placar. Leandro aproveitou a bobeira de Pícoli e Edinho para fuzilar Fernando no canto direito.
Agora o Alviverde terá uma semana para tentar retomar o caminho da vitória, diante do Fluminense, no próximo fim de semana.
Show da torcida, sorte da fiel
Gisele Rech
A torcida respondeu ao apelo do jogo de ontem e compareceu em peso no Couto Pereira. Contando com os seis mil sócios do clube que não passam pelas catracas, a diretoria estimou que 35 mil torcedores estiveram no estádio – o público pagantes foi de 29.776. Com os 20 mil torcedores que compareceram ao combate contra o Flamengo, na quarta, a diretoria do clube pode comemorar um reforço considerável nos cofres, que será completo após o jogo contra o Fluminense, do artilheiro Romário.
Além de dar um refoço financeiro ao clube, as torcidas fizeram, de fato, as vezes de 12º jogador. Com casa cheia, torcedores de Coritiba e Corinthians incentivaram os times o tempo todo e fizeram um duelo à parte, com gritos de guerra e muita festa.
A Fiel torcida corintiana fez questão de prestigiar a partida e deu um sotaque todo paulista ao lado reservado aos times adversários. A torcedora Maria Elisa de Souza, de Ourinhos, alugou uma kombi e veio a Curitiba junto com parentes. “Sempre que podemos, acompanhamos o Timão. E hoje uma vitória vai ter um significado ainda mais especial, pois meus pais, que também são corintianos, estão de aniversário”, declarou antes da partida. O presente veio no final do jogo e por pouco Maria Elisa não acertou o resultado do jogo. Ela apostou que seria 2 a 0.
Outro corintinao, o paranaense Paulo Eduardo, deu o mesmo palpite e antes do jogo mostrou-se confiante na garotada corintiana. “O Ricardinho nos traiu para ir para o São Paulo, mostrando-se mercenário. Mas não estamos ligando. O Timão é sempre um timão”, provocou.
Bonamigo age certo mas não dá sorte
Gisele Rech
Um bom jogo, mas com um resultado amargo. Foi assim que o técnico Paulo Afonso Bonamigo definiu a derrota por 2 a 1 frente ao Corinthians, ontem à tarde, no Couto Pereira. Com o resultado, o Coxa caiu para 4.º colocado no campeonato.
Para o treinador, a virada de jogo pelo Timão foi fruto da eficiência do setor ofensivo corintinao. “Não vamos tirar o mérito do adversário. Eles souberam aproveitar as oportunidades criadas melhor do que nós”, disse, referindo-se ao grande número de gols desperdiçados pelo Alviverde.
Diferente do que costuma fazer quando tem o resultado a favor – o Coxa vencia por 1 a 0 – Bonamigo optou por dar uma maior ofensividade à equipe. “Foi uma aposta no Fávaro, que estava descansado, e na velocidade do Jabá”, explicou. Jabá entrou no lugar de Genílson e Fávaro no lugar do volante Pepo, forçando o recuo de Tcheco para prestar auxílio na marcação do meio de campo. Com as mudanças, o time ficou ainda mais audacioso, mas esbarrou justamente na falta de pontaria e de sorte: a trave de Doni balançou algumas vezes. “Faz parte do jogo. Acho que ainda temos que melhorar na questão das tentativas de chutes de fora da área, uma opção eficiente contra uma equipe que marca bem, como a do Corin-thians”, afirmou.
No lado alvinegro, Parreira elogiou o sistema de marcação do adversário, mas frisou que justamente no momento das falhas, surgiram os gols do Corinthians. “Soubemos explorar nossos pontos positivos quando tivemos algum espaço”. Sobre a saída de Ricardinho, o treinador acredita que, aos poucos, o time vai assimilando a ausência do craque. “Não é uma adaptação rápida porque o Ricardinho fez mais de 250 jogos no time. Mas agora ele faz parte do passado e temos que seguir firme”, concluiu.
Lúcio pára na marcação e Brum assume o time
Se fosse feita uma análise apenas da primeira etapa, o meia Lúcio Flávio seria, disparado, o melhor jogador em campo. Com audácia para arriscar chutes de fora da área – um aspecto ainda deficiente no Coritiba – e um ótima visão de jogo, Lucio era pura criatividade no meio e armador das principais jogadas. Foi dele o passe para o gol de Genílson.
No entanto, tanta eficiência chamou a atenção do técnico Carlos Alberto Parreira, que pediu ao volante Fabrício que colasse no jogador coxa. Conclusão: com os espaços reduzidos, Lúcio passou a ser menos acionado e o Coritiba perdeu o brilho na meia-cancha. Como consequência, o Corinthians passou a mostrar mais ofensividades, especialmente pelo lado esquerdo.
E foi justamente nesse momento, em que o Coritiba passou a ser atacado pelo adversário que o volante Roberto Brum começou a aparecer. Quando o técnico Paulo Afonso Bonamigo sacou Pepo e lançou o meia Alexandre Fávaro, as responsabilidades de Brum aumentaram, mas na maior parte do tempo ele foi eficiente na marcação. (GR)
O jogo, lance a lance
1.º tempo
6min – Brum derruba Leandro na intermediária. Rogério cobra e no rebote Vampeta chuta fraco, para fácil defesa de Fernando;
9min – Lúcio Flávio recebe de Tcheco, devolve e corre pelo meio. Lima recebe mas, a zaga corintiana corta;
11min – Lúcio Flávio testa de fora da área, mas Doni pratica bela defesa;
12min – troca de passes de todos os jogadores do meio-campo Coxa. A bola passa de pé em pé, até um toque de classe de Lúcio servindo Genílson. O centroavante tem apenas o trabalho de encobrir Doni, que saiu desesperado do gol;
18min – a defesa coxa pára, Deivid invade a área sozinho, mas chuta para fora;
20min – num contra-ataque rápido, Reginaldo Araújo vai ao fundo, depois de passar por dois, e cruza na grande área. Genílson concluí sem força e para fora;
33min – Genílson manda na trave, após jogada em velocidade;
37min – Tcheco, de fora da área, obriga Doni a mandar para escanteio;
2.º tempo
3min – Adriano cruza na medida para Lima, que cabeceia para fora;
15min – Gil recebe livre na marca do pênalti, mas “isola’ para o alto;
17min – Kléber vai ao fundo, passa por Reginaldo Araújo, e cruza na medida para Deivid, que cabeceia certeiro no canto de Fernando. O goleiro coxa efetua um milagre, e manda para escanteio;
19min – bela jogada em triangulação de Genílson, Reginaldo Araújo e Lúcio. Já na área, o centroavante coxa é travado por Scheidt. No escanteio, cobrado com perfeição por Lúcio, Edinho obriga Doni a praticar bela defesa;
23min – Kléber cruza na diagonal para a área. Deivid tem tempo de escolher o canto e empatar o jogo para o Timão;
32min – Jabá inferniza a defesa corintiana, passa por três adversários e cruza na medida para Lima. O centroavante coxa acerta o travessão de Doni. Na sobra, Fávaro perde gol feito;
37min – contra-ataque mortal para o Coxa, Leandro invade a área na bobeira da defesa e marca a virada do Corinthians;
44min – Lúcio Flávio cobra falta e bola acerta a rede, por cima do gol de Doni.