Quando se falou que Paranaguá seria uma “escala” do Coritiba para o jogo de quinta contra o Rosario Central, pela Copa Libertadores da América, não se imaginava que as coisas seriam tão realistas. As confusões de domingo no litoral serviram como “trailer” do que pode acontecer a partir de hoje, quando a delegação alviverde começa a trabalhar na Argentina – o grupo saiu no início da noite de ontem para Buenos Aires, onde treina esta tarde.
Claro que não houve a pressão esperada no Estádio Gigante de Arroyito – ao mesmo tempo que não se prevêem brigas como a do presidente Giovani Gionédis com o prefeito de Paranaguá Mário Roque, que iniciou com impropérios, tornou-se pancadaria e terminou com troca de acusações via emissoras de rádio. “Estamos prontos para o que acontecer. Ninguém vai nos intimidar”, diz o vice-presidente Domingos Moro, que levou um chute nas costas – que ele não sabe quem deu.
Para o Coritiba, não foi a primeira confusão. “Isso me lembra Londrina, lembra São Januário. Mas não adianta. Cada vez que o Coritiba for ferido pela violência e pela insensatez, vai se erguer. E sempre mais forte, mais imune a essas pequenezas”, discursa Moro, citando as duas encrencas em que o Coxa se envolveu no ano passado: na semifinal do campeonato paranaense, no Vitorino Gonçalves Dias, e no fatídico episódio do estádio do Vasco.
Já para o técnico Antônio Lopes, o mais importante na história toda foi “aclimatar” o elenco para o que pode acontecer na Argentina. “Nós enfrentamos um clima estranho, uma pressão dentro e fora de campo, um gramado em péssimas condições. São situações que podem acontecer na Libertadores, e que podemos estar preparados”, resume. O capitão Reginaldo Nascimento, falando em nome do grupo, parece ainda não captar a mensagem. “Tudo bem, mas foi uma coisa muito ruim. Pensei que isso tinha acabado no Paraná”.
Mas Lopes tem razão. Na partida da semana passada, contra o Sporting Cristal, os torcedores do Rosario protagonizaram dez minutos de foguetório que obrigou o árbitro chileno Rubén Selman a interromper o jogo por dez minutos. Talvez prevendo novas – e maiores – dificuldades dentro e fora de campo, a Conmebol escalou um dos principais árbitros do continente para a partida: o uruguaio Gustavo Mendez, que forma a trinca dos juízes “top” da entidade com o argentino Horacio Elizondo e o colombiano Oscar Ruiz.
Enquanto não chega a hora de encarar a pressão do Gigante de Arroyito, o Coritiba terá uma passagem por Buenos Aires, aonde chegou ontem à noite. Está marcado para as 15h o único trabalho na capital argentina – o trabalho será realizado no centro de treinamentos do River Plate. Logo depois, a delegação segue de ônibus para Rosario.
Aristizábal deve entrar de titular
Se nenhuma surpresa acontecer, Aristizábal será a grande novidade do Coritiba para a partida de quinta-feira. Apesar de ter jogado apenas oito minutos contra o Rio Branco (ele foi expulso por causa de um entrevero com Tiago Soler), o atacante diz estar pronto para atuar os noventa minutos no jogo contra o Rosario Central. Mesmo nas vésperas da Libertadores, o colombiano ainda estava irritado com os acontecimentos em Paranaguá.
Ari reclama muito do comportamento de Tiago Soler. “Ele queria aparecer, e o time deles pensava em outras coisas, não em jogar futebol”, comenta. Depois de duas entradas mais fortes do zagueiro (que, por sinal, pertence ao Cori), o atacante deu um tapa no rosto do desafeto, e foi expulso por Francisco Carlos Vieira. “Acho que esse tipo de situação só atrapalha. A arbitragem é fraca, os adversários batem muito, e os campos são horríveis. Não é possível jogar futebol em um gramado como aquele”, diz, referindo-se ao Nelson Medrado Dias.
Mais tranqüilo, Aristizábal tenta se preocupar com o jogo de quinta. Ele garante que pode atuar nos noventa minutos. “O negócio agora é jogar. A parte mais complicada, que era a preparação física, já passou”.
Problemas
Márcio Egídio e Luís Mário seguiram para a Argentina sob observação do departamento médico. O volante torceu o tornozelo esquerdo e será reavaliado no treino de hoje. Já o “Papa-léguas”, que sentiu uma fisgada no músculo posterior da coxa direita, deve ser poupado do trabalho desta tarde. “Essa dor está me incomodando há alguns jogos, e, quando voltarmos, eu quero fazer uns exames para ver o que é que está acontecendo”, conta o atacante.
Roque registra queixa, Cori promete representação
A baixaria ainda não terminou. Ontem, foram travados os novos ?rounds? da briga entre a Prefeitura de Paranaguá (na pessoa do prefeito Mário Roque) e o Coritiba (presidente Giovani Gionédis e vice Domingos Moro). Depois do registro de queixa de Roque, alegando danos morais e lesões corporais, na 2.ª Subdivisão Policial de Paranaguá, o Cori apronta uma representação ao Ministério Público contra o prefeito.
As ríspidas declarações de Mário Roque (PSDB) passaram do futebol e chegaram à política. Ainda no Nelson Medrado Dias, ele afirmou que Gionédis “tratava mal os prefeitos quando era chefe da Casa Civil”, e acusou o presidente coxa de irregularidades quando secretário – foram seis anos de primeiro escalão, nos dois mandatos de Jaime Lerner.
Para analistas políticos, o problema vem do período em que Gionédis estava no Palácio Iguaçu. Opositor de Lerner, o prefeito de Paranaguá não tinha seus anseios (principalmente possibilidades de investimentos) atendidos pelo governo estadual, o que criou a inimizade entre ambos – que explodiu na Estradinha.
Em nota oficial, a diretoria do Coritiba confirmou a representação no Ministério Público, que já fora anunciada no domingo. “É preciso fazer alguma coisa. Nós não podemos deixar o que aconteceu passar impune”, diz Giovani Gionédis. “Gostamos de Paranaguá, mas não é possível o representante maior da cidade, que é o prefeito, agira da forma que agiu”, finaliza Domingos Moro.
Acep aciona
O presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Paraná (Acep), Oswaldo Tavares, disse ontem à Tribuna que a entidade já acionou o departamento jurídico para tomar as providências cabíveis contra o filho do prefeito de Paranaguá, Marquinhos Roque, também diretor da Fundação de Esportes. Ele agrediu covardemente o associado Antônio Pioli, correspondente da Tribuna do Paraná no litoral e que trabalha também na rádio Ilha do Mel. Ele foi atingido por trás, enquanto fazia uma entrevista em campo, pelo dirigente. Em Paranaguá, a imprensa local teme a mania criada pela familia Roque, de escolher quem pode ou não trabalhar na cobertura no estádio do Rio Branco.