O jogo de hoje (18h10, no Couto Pereira) entre Coritiba e Paraná Clube já está inscrito na história dos clássicos locais.
Pela primeira vez em muitos anos (e talvez de forma inédita), a torcida teve uma motivação extra para ir ao estádio – a redução brusca nos preços dos ingressos, graças ao subsídio da multinacional de alimentos Nestlé, que está ‘bancando’ esta partida. E, depois de partidas apagadas, o Paratiba deste domingo é um jogo agitado como poucos.
É um clássico entre as duas equipes curitibanas melhor colocadas no Campeonato Brasileiro – o Coxa, com dez pontos, é o 11.º; o Paraná, com nove, é o 13.º, apenas um ponto atrás do rival. Além disso, as equipes estão crescendo na competição, o Cori após a contratação do técnico Cuca e o Tricolor com a afirmação dos reforços Aderaldo, Daniel Marques e Borges. "São dois times em um bom momento, e isso vai fazer com que tenhamos um bom jogo", comenta o goleiro coxa Vizzotto. "A rivalidade é um ingrediente, mas acho que os dois times vão jogar pra frente, em busca da vitória", completou, do outro lado, o capitão tricolor Beto.
Mas o que animou mesmo o jogo foi o sistema de venda de ingressos. Com toda a carga à disposição da Nestlé, o clássico fugiu do ‘padrão’ vigente nos clubes (que cobram R$ 15,00 pelo ingresso mais barato). O preço caiu para menos de um terço do valor normal -ou até mais, já que os supermercados que faziam as trocas dos produtos realizaram promoções do tipo "pague dois, leve três", aumentando ainda mais a procura.
Não deu outra: os ingressos acabaram oficialmente ainda na quarta-feira. Foram vendidos, segundo a Nestlé, mais de 29 mil ingressos (seis mil para a torcida paranista e o restante para a coxa). A renda obtida com a venda dos produtos e os próprios produtos serão doados para instituições de caridade, enquanto o Coritiba -como mandante do jogo – terá uma cota fixa de aproximadamente (os valores não foram divulgados) R$ 150 mil.
A preocupação dos torcedores, que ainda tentam de qualquer forma adquirir ingressos, é a presença ostensiva dos cambistas. Houve casos em que indivíduos saíam dos postos de troca com doze. Os maiores prejudicados foram os paranistas, que tinham menor espaço, e que ficarão ‘reféns’ dos atravessadores.
CAMPEONATO BRASILEIRO
CORITIBA X PARANÁ
Coritiba: Vizzotto; Flávio, Miranda e Vagner; Jackson, Márcio Egídio (Reginaldo Nascimento), Luís Carlos Capixaba, Marquinhos e Ricardinho; Tiago e Alexandre. Técnico: Cuca
Paraná: Flávio; Marcos, Daniel Marques e Aderaldo; Neto, Rafael Mussamba, Beto, Thiago Neves e Vicente; Borges e André Dias. Técnico: Lori Sandri
Súmula
Local: Couto Pereira
Horário: 18h10
Árbitro: Carlos Jack Rodrigues Magno
Assistentes: Gílson Bento Coutinho e José Carlos Dias Passos
Cuca em semana de Chacrinha
Não é de hoje que o Coritiba chega a um jogo importante – geralmente em todos os clássicos – com mistério na sua escalação. Para o clássico desta tarde contra o Paraná Clube, o técnico Cuca deixa a definição oficial da formação para momentos antes da partida. Ele garante que o time está escalado, mas a tática de esconder o jogo funcionou. As alterações em série praticadas durante a semana embaralharam a cabeça de todo mundo, transformando o comandante coxa em um discípulo momentâneo de Chacrinha, aquele que veio para confundir, e não para explicar.
E os treinos foram aprovados pelo treinador. "Acho que foi uma semana muito boa. Nós tivemos vários trabalhos importantes, treinamos várias situações e chegamos a uma formação e muitas situações para serem usadas durante o decorrer da partida", comenta Cuca. Isso mesmo: ele diz que o Coritiba já está escalado. "Claro que eu tenho uma equipe em mente", assegura.
Caso o técnico alviverde mantenha o que vem fazendo – isto é, mudar o mínimo a formação do time -, é certo que o Cori entrará em campo no sistema com três zagueiros. E mesmo assim não se sabe qual será o onze alviverde. São duas situações aparentemente indefinidas, ambas no sistema defensivo, mas com uma delas refletindo na frente.
Cuca tem seis jogadores para quatro vagas. Entre a trinca de zagueiros e a primeira função do meio-campo, Reginaldo Nascimento, Vagner e Márcio Egídio brigam por duas posições. Se o treinador optar por uma situação mais compatível com o normal, o capitão será o terceiro defensor e Egídio atua no meio. Se decidir por jogar com a formação que "deu certo’, jogam Vagner e Egídio. E se quiser surpreender, atuam Vagner e Nascimento.
Passando para o lado direito, Jackson e James podem atuar como ala. Jackson, na verdade, seria um ?médio-ala?, da forma como jogou em 2003. "Eu não teria problemas em jogar por ali. Não é nada diferente do que já fiz", confirma o armador. A opção "B", com o lateral, tentaria manter a estrutura de jogo (já que ali sempre atua Rafinha, que está na seleção sub-20) e demonstraria maior cautela defensiva.
E se James jogar, Jackson e Marquinhos teriam que disputar a função mais ofensiva do meio. Sem dores no púbis, o herói do empate com o Vasco é o favorito para começar jogando até porque Jackson é o favorito para estar na direita. Está confuso? Também ficou assim durante a semana, quando Cuca fez de tudo para confundir os adversários. Mas se ele não diz a escalação, sabe o que o Coxa precisa fazer para vencer o clássico. "Temos que buscar o resultado a todo momento, com responsabilidade mas com qualidade", finaliza o técnico alviverde. (CT)
Lori busca a afirmação tricolor
É jogo para a afirmação do Paraná Clube no campeonato brasileiro. Depois de campanhas irregulares na última edição da competição e no paranaense deste ano, o Tricolor chega ao clássico vivendo um momento de ascensão. Com um time mais coeso e competitivo pretende apagar a imagem deixada nos dois últimos confrontos com o Coritiba, onde perdeu (por 3×1) "ao natural". Para atingir este objetivo, o time de Lori Sandri terá que derrubar um tabu de quase nove anos sem vitórias no Couto Pereira.
Pela rivalidade inerente a jogos deste porte, o clássico é também um grande teste para esta equipe, totalmente reformulada após o fracasso no estadual. Doze jogadores foram contratados para o Brasileirão e destes, onze estão envolvidos no jogo de hoje, entre titulares e reservas. A única exceção é o lateral-direito Parral, que ainda se recupera de uma artroscopia no joelho e a partir de amanhã deve estar integrado aos treinos com o grupo. "Hoje, tenho um time muito mais equilibrado e capaz de fazer frente ao adversário", afirmou o técnico paranista.
Lori Sandri considera o tabu apenas mais um ingrediente neste clássico. "O Couto Pereira tem um bom gramado. Quando se tem um bom time, o fator campo desaparece", disse. O técnico e os jogadores foram bastante cuidadosos em suas declarações ao longo de toda a semana. Foi uma orientação de Lori. "Não se ganha nada com provocações. Quando se fala besteira, cria-se um clima de guerra. Prefiro assim, pois teremos um clássico em alto nível e decidido na técnica e na capacidade dos jogadores", explicou.
Além de uma postura "politicamente correta", a comissão técnica paranista em momento algum dissimulou a escalação da equipe. O Paraná aposta na evolução a partir da seqüência de jogos com a mesma formação.
Borges espera manter o embalo, enquanto André Dias, seu companheiro de ataque, persegue o primeiro gol com a camisa tricolor. Hoje, faz também seu primeiro clássico como profissional. "É até curioso, mas só disputei clássicos nas categorias de base do Santos, contra São Paulo e Corinthians", lembrou o atacante. "Por mais que eu esteja há pouco tempo na cidade, é possível sentir o clima diferenciado de uma partida como essa."
Além de André Dias, outros seis jogadores do time titular disputam o primeiro clássico com a camisa tricolor. Borges, outro estreante, carrega consigo a responsabilidade de ser o jogador mais "badalado" do atual elenco. Essa questão ele dribla com a mesma facilidade com que tem levado ao desespero os zagueiros adversários. "O segredo é a união, sempre com os pés no chão", disse o artilheiro, reconhecendo que vive a melhor fase de sua carreira. (IC)