O Coxa teve a vaga na mão mas foi goleado pelo rebaixado Gama, por 4×0. |
Não deu para o Coritiba. O sonho de se classificar à próxima fase do Brasileirão foi sepultado ontem, no estádio Mané Garrincha, onde o Coxa foi goleado por 4 a 0 pelo rebaixado Gama. Com o resultado, o alviverde paranaense terminou a competição em 11.º lugar, com 36 pontos somados.
Ao que parece, o baque da derrota para o Figueirense, no meio de semana, refletiu na empolgação do time coxa-branca. Apesar de a equipe precisar de uma combinação de resultados – que acabou acontecendo – o primeiro passo seria alcançar uma vitória. Mas desde o início da partida quem deu as cartas foi o Gama, que, sem chances de fugir do rebaixamento, jogou tranqüilo. Com um esquema baseado na marcação, o técnico Sérgio Alexandre conseguiu empurrar o Coritiba para o campo defensivo. Quando atacava, o Gama se valia de jogadas pelas alas, o que o Coritiba deveria ter feito para chegar à área adversária, já que a meia estava congestionada – tentando levar a bola pelo meio, o Coxa concluia poucas jogadas e geralmente tinha seus lances barrados pelo paredão brasiliense.
A dificuldade de chegar ao gol adversário era apenas um presságio para o revés que viria. Em cinco minutos, o experiente Pícoli fez duas faltas agressivas e acabou sendo expulso. “O primeiro cartão me arrebentou”, lamentou o jogador, que fez tratamento intensivo no joelho para poder entrar em campo no jogo decisivo – e perdeu algumas corridas por não estar em suas condições físicas plenas.
Com um homem de defesa a menos, a situação complicou. Como jogava com três zagueiros, o técnico Bonamigo recuou Nascimento e perdeu marcação no meio. Com isso, o adversário sentiu-se mais confiante para tentar a sorte. Aos 46 minutos, Dimba recebeu no meio, invadiu a área e foi derrubado por Roberto Brum. Na cobrança da penalidade, o próprio Dimba abriu o marcador.
Goleada
Para a segunda etapa, o Coritiba voltou com Ceará no lugar de Reginaldo Araújo, que pouco fez no apoio durante a primeira etapa. Com os laterais subindo mais, o time paranaense conseguiu adiantar a marcação e, mesmo com um homem a menos, equilibrou temporiaramente a partida. No entanto, as chances criadas eram desperdiçadas pelo ataque, que acabou sendo modificado: Marcel entrou no lugar de Da Silva para servir como opção ofensiva em bolas aéreas e Fávaro substituiu Tcheco, para dar sangue novo ao setor de criação. Fávaro quase descontou para o Coritiba, mas quem balançou as redes foi o Gama. E mais três vezes. Aproveitando-se do cansaço dos jogadores alviverdes, que tinham que compensar a ausência de um homem, no calor do cerrado, o técnico Sérgio Alexandre deu força nova ao ataque, com a entrada de Dario e Rodriguinho, que não decepcionaram.
Aos 35 minutos, Dario aproveitou cruzamento da direita e subiu entre Edinho e Lucio, cabeceando para o gol alviverde. Três minutos depois, o ex-coxa Wilson Goiano cobrou escanteio e Rodriguinho, outra vez de cabeça, ampliou. Sem forças para reagir, o Coritiba sofreu o golpe final aos 40 minutos. Dimba recebeu no meio, limpou e chutou firme, fechando a fatura. Lucio Flávio ainda teve chance de marcar o gol de honra em uma cobrança de pênalti, aos 46 minutos, mas o goleiro Júlio César fez as honras da casa e confirmou o expressivo resultado, na despedida do Gama da elite do futebol brasileiro.
Com poucas explicações
Brasília – No meio de campo, só estava ele. O presidente Giovani Gionédis estava ao telefone, tentando explicar a um interlocutor o que nem ele talvez entendesse: como, depois de fazer uma campanha regular, o Coritiba conseguiu ser eliminado do campeonato brasileiro com uma vexatória goleada imposta pelo Gama, pior time da competição. Assim como ele, os jogadores e o técnico Paulo Bonamigo não conseguiam explicar a pior atuação alviverde na temporada – e justamente no jogo em que mais precisava vencer.
Além de ser humilhado pelo lanterna da competição, o Coritiba viu tudo o que ele esperava acontecer durante a rodada. Se a Ponte Preta não resistiu e foi derrotada de virada pelo Fluminense e o Grêmio conseguiu impor o fator campo e venceu o Atlético-MG, o Santos perdeu para o São Caetano no ABC paulista. Esse resultado (o que menos era esperado) dava ao Cori a chance de lutar pela vaga apenas com suas forças – se vencesse o Gama, estava classificado. Mas o que aconteceu em campo foi justamente o contrário. Apático durante os noventa minutos, o Coxa perdeu de 4 a 0, se não fosse o goleiro Fernando, o vexame seria maior.
“Do jeito que a coisa aconteceu, foi muito decepcionante”, reconheceu o técnico Paulo Bonamigo. Ele tentou se fiar em duas situações de jogo para tentar explicar a queda coxa. “Jogamos com muita lentidão, não fomos agressivos durante a partida e ainda fomos penalizados com uma expulsão no primeiro tempo, que inevitavelmente nos atrapalhou”, explicou. “Não posso negar que a minha expulsão complicou o trabalho da equipe, ainda mais com o calor da cidade”, afirmou o zagueiro Pícoli.
Mas eram respostas que não satisfaziam aos próprios jogadores. “Se eu quiser falar, vou arrumar um monte de desculpas”, confessou o meia Tcheco. “Mas nenhuma delas vai explicar o que aconteceu. Na verdade, fomos nós que perdemos”, completou. “Se há culpados, somos todos. Incluindo nós jogadores”, completou o volante Reginaldo Nascimento. “É muito triste falar agora, mas a gente percebeu que em alguns momentos a equipe não teve preparo emocional para resistir às pressões”, disse Gionédis.
E se o caminho seguir por esse lado, Paulo Bonamigo considera que a derrota de quarta para o Figueirense foi fatal para as pretensões do Coritiba. “É a única coisa que parece fazer sentido agora. Nós tínhamos a chance nas mãos e a desperdiçamos. O time em momento algum demonstrou acreditar em si mesmo para conseguir a vitória. Parecia que o Gama estava para se classificar e nós rebaixados. E essa falta de auto-estima só tem explicação quando lembramos daquela derrota em casa”, afirmou o treinador.
Bonamigo fica, com Otacilio
Brasília – A partir de agora, começou o processo de idas e vindas no Coritiba. As notícias devem começar a surgir a partir de amanhã, quando o elenco se reúne após a folga pós-eliminação. O presidente Giovani Gionédis adiantou que o interesse da diretoria é manter o técnico Paulo Bonamigo, e ele pode ter um novo “braço direito”. Se depender do desejo de alguns diretores, Otacílio Gonçalves será um dos homens-fortes do futebol alviverde ano que vem.
O ex-treinador do Paraná (e que comandou o Coritiba em 87 e 94) foi convidado informalmente em um jantar realizado em Porto Alegre, quando o Cori enfrentou o Internacional. O pensamento de Otacílio é não mais trabalhar em campo, e sim aproveitar o seu conhecimento como “manager”. Sabendo disso, a diretoria coxa apressou-se em convidá-lo. Ele ficou de pensar, mas revelou a amigos que gostou da idéia.
Com isso, o comando gaúcho do Cori seria reforçado, porque mesmo com a eliminação coxa o presidente Giovani Gionédis garantiu que pretende manter Bonamigo em 2003. “O nosso treinador é o Bonamigo, e queremos que ele fique”, afirmou. O treinador também quer permanecer no Alto da Glória, mas o nome dele é cada vez mais citado para assumir o Internacional. (CT)