Tudo o que não poderia acontecer, aconteceu. Precisando da vitória para ser campeão e diante de mais de 43 mil pessoas no Couto Pereira, o Coritiba perdeu para o Marília por 3 a 2 e adiou a chance de ser campeão da Segundona. Mas as coisas se complicaram e o torcedor alviverde tem que torcer hoje pelo São Caetano contra o Ipatinga, que joga em casa. Se os mineiros não vencerem, o Coxa será campeão. Caso contrário, a decisão vai para Recife, quando o time do Alto da Glória enfrenta o Santa Cruz na última rodada.
O estádio estava lotado, o hino foi cantado à capela por uma artista contratada, mas o Coritiba entrou desligado em campo. Quando percebeu que o jogo tinha começado já estava 1 a 0 contra. Mérito de Vicente, ex-Paraná. Logo após a saída de jogo, a bola foi para a lateral e enquanto Túlio e Ânderson Lima se achavam em campo, o lateral-esquerdo do MAC recolheu a pelota e partiu para cima, o combate foi frouxo e ele chutou no canto de Edson Bastos. Nem dava para acreditar. Festa pronta para o título e atrás no marcador.
Mas a torcida levantou e passou a incentivar o time, que foi para frente tentar a sorte. Jéci, Keirrison e Fabinho tentaram, mas foi Ricardinho quem acertou. Após uma boa jogada do K9, Pedro Ken caiu pela direita e cruzou para trás. O meia mandou de direita mesmo e no canto, sem chances para Vizzotto, que estava na campanha desastrosa de 2005. Com a igualdade no placar, o jogo caiu e os times foram menos ao ataque. Mas, não era isso que a torcida queria ver. Ela queria a vitória para festejar.
E parecia que no segundo tempo o time reagiria e daria a festa para animar a arquibancada e a cidade. Só parecia porque o primeiro sinal de que algo daria errado foi a contusão de Keirrison. Ele voltou do vestiário, mas sentiu e foi substituído por Edmílson. Nem a expulsão de Leandro Camilo ajudou. Ajudar, até que ajudou, mas o Coxa não soube tirar proveito. O Marília continuou senhor de si, se retrancou e procurou os contra-ataques. A defesa alviverde não ajudou muito e Fabiano Gadelha fez uma festa e tocou para Bruno Ribeiro desempatar.
A galera apoiou e gritou, Ígor em sua primeira aparição parecia que iria ser o predestinado e empatou a partida após grande jogada de Pedro Ken, mas não foi suficiente. Totalmente aberto atrás, apesar de um a mais em campo, o Coritiba deu mole e o MAC foi para cima e matou o jogo com Wellington Amorim em outro contra-ataque. No desespero, a única vibração da torcida acabou sendo a divulgação de mais um recorde de público batido este ano no Couto Pereira com mais de 38 mil pagantes e 43 mil presentes para ver o desejo de ser campeão adiado para a próxima rodada.
CAMPEONATO BRASILEIRO – SÉRIE B
37.ª Rodada
Coritiba 2 x 3 Marília
Coritiba
Edson Bastos; Henrique, Ânderson Lima e Jéci; Túlio, Douglas Silva (Veiga, 15 do 2.o), Pedro Ken, Ricardinho e Fabinho; Keirrison (Edmílson, 5 do 2.º) e Hugo (Ígor, 11 do 2.º).
Técnico: René Simões.
Marília
Vizzotto; Bruno Ribeiro, Montoya (Gum, 42 do2.º), Fábio Recife e Vicente; Leandro Camilo, Hernani, Camilo e João Vitor (Diego, 1 do 2.º); Fabiano Gadelha (Weelington Silva, 35 do 2.º) e Wellington Amorim.
Técnico: Jorge Rauli.
Local: Couto Pereira, em Curitiba
Árbitro: Edílson Ramos da Mata (MT)
Assistentes: José Antônio Chaves Franco F.º (RS) e Júlio César Rodrigues Santos (RS)
Gol: Vicente a 1 e Ricardinho aos 14 do 1.º tempo; Bruno Ribeiro aos 20, Ígor aos 29 e Wellington Amorim aos 40 do 2.º tempo
Cartão amarelo: João Vitor, Hernani, Montoya, Ânderson Lima
Expulsão: Leandro Camilo aos 8 do 2.º tempo
Renda: R$ 746.520,00
Público pagante: 38.689
Público total: 43.649
43 mil coxas frustrados
Frustração. Nenhuma outra palavra reflete o que a torcida sentiu no apito final do árbitro após a derrota do Coritiba para o Marília por 3 a 2. O time continua líder, tem grande chance de se sagrar campeão da Segundona, mas a impossibilidade de comemorar a volta à Série A em grande estilo deixou a torcida cabisbaixa na saída do Couto Pereira. Revoltada, a maior parte vaiou o time, que também se abateu e tentou se esconder no vestiário, mas o técnico René Simões chamou todos para ir até o setor da Império Alviverde agradecer a presença.
Um tímido ?sou coxa-branca com muito orgulho e muito amor? surgiu, mas logo foi abandonado pelo barulho natural de uma multidão indo embora sem ter conseguido aquilo que queria. No maior espetáculo do ano no Alto da Glória, a maior frustração, que foi transferida para a presidência do clube. Novamente os gritos de ?Fora Gionédis? ecoaram pelas arquibancadas e geraram vários atritos. Por pouco não teve briga na social superior, mas a turma do ?deixa disso? interveio a tempo.
Pelas ruas, nada de festa, buzinas ou bandeiras desfraldadas. Apenas o congestionamento ao redor do estádio alviverde, cabeças baixas indo embora, bandeiras recolhidas ou servindo de cobertor para o frio da sexta-feira à noite e a decepção de que todos poderiam estar indo comemorar num bar com os amigos, na Praça do Homem Nu ou numa carreata pela Avenida Batel. Ficou a torcida contra o Ipatinga ou de uma vitória contra o Santa Cruz, em Recife.
Jogadores sem palavras pra explicar a derrota
Julio Tarnowski Jr.
Um misto de poucas palavras e perplexidade. Esse era o sentimento dos jogadores do Coritiba após o apito do árbitro Edílson Ramos da Mata, ao final do jogo de ontem no Couto Pereira. Era visível a frustração após a derrota (3 a 2) para o Marília-SP. Para a maioria dos atletas alviverdes a ordem agora é ?não procurar desculpas, mas trabalhar com mais empenho? para a próxima partida, contra o Santa Cruz, em Recife (PE), no dia 24, na última rodada da Segundona.
?A vitória lá em Recife nos dá o título. Mas temos que esperar agora o resultado de amanhã (hoje) do Ipatinga. Quem sabe não podemos ganhar o título de forma antecipada?, disse o atacante Igor, autor de um dos gols na derrota para o Marília. O Ipatinga-MG tem 61 pontos ganhos e pega hoje, em casa, o São Caetano-SP, 50 pontos. Se o Azulão segurar o time mineiro, o Coxa, 66 pontos, não seria mais alcançado e poderá comemorar a conquista da Segundona com uma rodada de antecipação.
Sobre o jogo de ontem Igor disse que ?gostaria de dar mais um presente para o torcedor coxa-branca?. ?O estádio estava lotado, a torcida fez uma festa bonita. Foi uma pena?, lamentou o atacante.
O meia Pedro Ken também foi na toada do companheiro. ?Não tenho muito que dizer. Mais de 40 mil pessoas aqui no Couto, e não conseguimos dar essa alegria (de ser campeão) para a torcida?, disse o jogador não querendo entrar no mérito tático do time na noite de ontem. ?Isso é com o René (treinador)?, completou Pedro Ken que parecia estar um pouco tímido durante o desenrolar do confronto com o Marília.
Para o experiente Edmílson, que entrou no 2.º tempo no lugar de Keirrison, ?o time entrou um pouco disperso no começo, e acabou surpreendido pelo adversário?. ?Mas, depois, o Coritiba foi se encontrando, ficou mais centrado. Agora não é hora de lamentar, mas sim de trabalhar. É lógico que será mais díficil (jogar contra o Santa Cruz), mas temos que aguardar antes o jogo do Ipatinga, e quem sabe um tropeço deles?, disse o atacante.
Para Edmílson, o Coritiba não ?menosprezou o adversário?. ?Sabemos que do outro lado tem jogadores de caráter. E a maneira como eles jogaram não nos surpreendeu. Seria um jogo complicado?, disse Edmílson. O meia Douglas Silva também destacou a preocupação de ?ser surpreendido em casa?. ?E foi o que aconteceu?, disse o jogador.
Confronto entre torcedores e PMs transforma Couto em praça de guerra
Márcio Barros e redaçãoTribuna
Confusão tomou conta das imediações do Alto da Glória. Policiais militares tiveram
que agir com energia pra conter a torcida. Feridos foram encaminhados
ao Hospital Cajuru. (Fotos: Anderson Tozato)
Anderson Tozato |
Clima foi tenso na madrugada. |
Não bastasse a derrota (3 a 2) do Coritiba para o Marília, fora do campo, quem perdeu foram os torcedores que mesmo sendo jogo de uma só torcida, enfrentaram um verdadeiro confronto para sair das imediações do Estádio Couto Pereira. A Polícia Militar agiu energicamente e várias pessoas ficaram com ferimentos leves. Segundo informações extra-oficiais, duas pessoas teriam sido atingidas por balas de borracha e encaminhadas ao Hospital Cajuru.
O jogo ainda estava empatado (2 a 2) quando uma confusão, do lado de fora do estádio, envolveu torcedores e policiais militares. A tropa foi reforçada e diversas bombas de efeito moral foram lançadas para tentar dispersar o tumulto que se formava no local.
Segundo um torcedor que pediu para não ser identificado, ?foram mais de 30 bombas, que além de tentar dispersar os torcedores briguentos, amedrontava as famílias, assustava as crianças e feria inocentes?. ?Como é possível trazer meus filhos para o estádio??, questionou o torcedor.
Quando o jogo terminou (3 a 2) e torcida começou deixar o estádio, foi pega de surpresa pela confusão que ja estava em estado avançado do lado de fora.
Segundo o capitão Vieira, comandante da Companhia de Choque da Polícia Militar, vários policias também foram feridos com pedradas e garrafadas. ?Um policial levou uma pedrada no olho. Outro levou uma tijolada na face. Os dois foram e encaminhados em estado grave para o Hospital Cajuru?, disse o capitão Vieira.
Convulsões
Na esquina da ruas Agostinho Leão Júnior e Ubaldino do Amaral, um homem, de aproximadamente 25 anos, agredido por policiais, teve convulsões e ficou inconsciente durante algum tempo. ?Já chamamos o Siate, mas eles disseram que só atende situações de trauma e disse para chamarmos o SAMU?, completou outro torcedor.
Vários torcedores que tinham saído do estádio após o jogo, acabaram retornando à pressas para o interior do Couto Pereira para tentar se proteger das confusões do lado de fora. Só quase uma hora após o fim da partida, e que os torcedores voltaram a deixar o estádio, mas ainda inseguros com a possibilidade de novos incidentes.
Ainda durante a madrugada, o clima continuou tenso e a PM cercou a sede da Império Alviverde, mas não invadiu o local por falta de um mandado judicial.
Presidente da Império Alviverde, Luís Fernando Corrêa, o Papagaio, reclamou
da truculência da PM, que usou balas de borracha e bombas de efeito moral
para conter o tumulto. (Fotos: Anderson Tozato)
PM cerca e ameaça invadir sede da Império Alviverde
Rodrigo Sell e Mário Barros
Depois da confusão com pessoas que ficaram fora do estádio e entraram em confronto, a Polícia Militar parece ter mirado a torcida organizada Império Alviverde. Pelo menos foi o que relatou o presidente da entidade, Luís Fernando Corrêa, o Papagaio. Segundo ele, os policias bateram até em mulheres e crianças. ?A polícia já chegou batendo. Fez o mesmo que fazia em 2002, 2003. Foi um horror?, disse o torcedor do Coritiba. E não foi só isso. ?Tomei duas balas de borracha, mas comigo eu não me importo. Um policial chegou dizendo que eu era o presidente e desceu o cacetete?, reclamou.
Para ele, isso não pode ser atitude da PM. ?Eles assistiram a Tropa de Elite, mas no Rio eles enfrentam gente no morro com AR-15. Aqui eles bateram em mulheres e crianças. Estes caras são uns covardes?, apontou. Segundo Papagaio, faltou preparo para os policiais controlarem a multidão após a partida. ?Hoje (ontem), o estádio estava lotado de famílias e esses covardes bateram em todos?, protestou. Além disso, o torcedor relatou que cerca de 100 policiais cercaram a sede da entidade e estavam ameaçando invadir o local.
O advogado Raul Rangel disse que na segunda-feira entrará com uma medida da Império junto a Secretaria de Segurança Pública (SESP), para que ações como essa não se repitam. ?Queremos explicações, mas acima de tudo evitar que isso se repita no futuro?, completou o advogado.