O Coxa, que já tinha a vaga na Copa Sul-Americana, confirmou a Copa Libertadores ao derrotar o Criciúma por 2 a 0, sábado, no Couto Pereira. |
O sonho americano virou realidade, e levou a torcida do Coritiba à loucura no sábado. A festa seguiu ontem, seguirá hoje, mas a partir de agora o trabalho é de projetar como será a participação coxa na Libertadores e Copa Sul-Aamericana do ano que vem. Pela segunda vez na maior competição interclubes do continente, o Coxa promete apostar na fórmula que deu certo este ano.
Para a diretoria, a ótima temporada é a prova cabal do acerto do trabalho. “Nós fizemos uma opção pelas categorias fundamentais e por jogadores que se identificaram com o Coritiba. Vencemos o campeonato infantil, o estadual de Juniores, o paranaense de forma invicta e conquistamos uma vaga na Libertadores. Acho que não é necessário falar muita coisa”, resume o secretário Domingos Moro.
O presidente Giovani Gionédis também valorizou o planejamento alviverde. “Nós apostamos no trabalho de uma comissão técnica e desse grupo de jogadores. Para muitos, depois das primeiras rodadas era preciso trocar tudo, mas nós demos força”, lembra. Gionédis também aproveitou para atirar contra o técnico atleticano Mário Sérgio, que disse torcer contra o Cori. “Tem gente que diz que não precisa disputar a Libertadores, que a Sul-Americana é um engodo. Esse cara prefere ficar no CT sem fazer p… nenhuma.”
Para o presidente reeleito (toma posse do segundo mandato no dia 4 de janeiro), é a hora da internacionalização do Coritiba. “Nós poderemos ter um incremento financeiro, vamos trabalhar a imagem do clube dentro e fora do país. É uma classificação muito importante”, avalia. No sorteio dirigido pela Conmebol, o Coxa está no grupo 9, e terá como adversário o Rosario Central, da Argentina – os outros adversários serão conhecidos na quarta, em Assunção.
Elenco
Até lá, a direção já vai começar a trabalhar as possíveis renovações. Jogadores que não pertencem ao clube, como Odvan, Jackson e Maurinho, interessam – mas é certo que Odvan tem proposta do Botafogo e do Vasco. Reginaldo Nascimento, que tem contrato até o dia 31, também é prioridade para os próximos dias.
Dos que sairão, o único certo é Lima, que joga a Libertadores pelo Cruzeiro. “Fiquei muito feliz de ter ajudado e ainda marcar um gol na minha última partida pelo Coritiba”, diz o meia. Adriano e Marcel, os destaques do time, estão valorizados por suas participações nas seleções de base, e podem ser negociados. Reforços também virão, mas o primeiro deles disse ser difícil voltar ao Alto da Glória. Tcheco, que viu a partida contra o Criciúma, afirmou que dificilmente os árabes o liberarão antes de maio.
Mas isso ainda será conversado. O que os alviverdes querem agora é festejar a vitória, a classificação, a melhor posição no Brasileiro em 18 anos e, acima de tudo, a supremacia. “O Internacional não entrou na Libertadores. Por isso, o Coritiba é o time de maior presença no sul do Brasil nesta temporada. Representaremos a nossa região na segunda maior competição interclubes do mundo”, finaliza Domingos Moro.
Bonamigo sai. Oswaldo é o favorito
“Falavam que quando o Coritiba ganhava, todos ganhavam, mas quando perdia, era só eu quem perdia. Então agora eu ganhei, eu conquistei a vaga para a Libertadores.” Por incrível que pareça, esse era Paulo Bonamigo, batendo com a mão no peito, logo após a vitória sobre o Criciúma. Ele dispensou sua habitual tranqüilidade e desabafou, confessando a mágoa que sentia por críticas que recebeu. Com o dever cumprido, o treinador deixa o Cori, e a partir de hoje a direção busca um técnico para a temporada 2004.
A definição partiu do presidente Giovani Gionédis, que afirmou em entrevista à rádio Clube que a reunião programada para hoje já aconteceu. “Conversamos e chegamos a um ponto comum. Liberamos o Paulo Bonamigo, ele não é mais técnico do Coritiba, e a partir de amanhã (hoje) vamos pensar em nomes”, afirmou. O técnico é dado como certo em Belo Horizonte, para assumir o Atlético-MG, mas há informações de que ele pode acabar no Flamengo.
Por mais que ele – ou qualquer outro – negue, o técnico já se sentia desgastado demais. Ele confessou a interlocutores, durante a viagem para o Nordeste, que não trabalharia no Coritiba no ano que vem. “Acabou”, resumiu a um deles. Foram vinte meses de trabalho, e ele já afirmara durante a semana que o seu ciclo no clube estava se encerrando. O objetivo era levar o Coxa à Libertadores, para fechar seu trabalho e responder aos críticos.
O Coxa agora tenta encontrar um novo treinador. Um dos mais comentados nos bastidores alviverdes, o de Geninho, não estaria mais ?disponível? – o técnico, campeão brasileiro com o Atlético em 2001, acerta com o Vasco. Com isso, o favorito volta a ser Oswaldo de Oliveira, que comandou o São Paulo neste Brasileiro. Outro nome citado é o de Abel Braga, que salvou a Ponte Preta do rebaixamento. É possível, inclusive, que haja também troca na preparação física, caso o novo técnico exija trazer um profissional de confiança.
Último ato
Em sua última entrevista como técnico do Coritiba, Bonamigo valorizou – e muito – o trabalho em equipe. “A vitória é da comissão técnica, que está junta há um ano e oito meses, da diretoria e principalmente desse grupo de jogadores”, comentou, recuperando o fato da comissão ter sido montada ?em pedaços?. O técnico também não poupou elogios a Giovani Gionédis. “O presidente é o grande responsável por tudo isso se tornar realidade”, disse.
Vitória vista por estádio cheio e recorde paranaense
Houve choro, houve emoção quase descontrolada. Mas era por um motivo justo. O Coritiba, com a vitória de sábado, no Couto Pereira, sobre o Criciúma, por 2×0, chegou pela segunda vez à Copa Libertadores da América, fechando o campeonato brasileiro na quinta posição, a melhor colocação da equipe desde o título de 85. A vitória criou um clima de euforia que saiu das 36 mil pessoas (recorde paranaense neste Brasileirão) que estavam no estádio e tomou conta da cidade.
O clima do jogo já era sentido horas antes. O Criciúma tinha dificuldades em sair jogando, mesmo que o Cori não iniciasse com o ímpeto ofensivo que se propalava. Os alviverdes também pareciam preocupados, tanto que as possibilidades de gol surgiam mais pelas falhas do adversário do que pelas próprias virtudes. A obrigação do resultado enervava a equipe, que errava lances simples.
A primeira oportunidade real foi de Lima, aos 17 minutos – ele passou por dois adversários e tentou o chute, que foi para fora. Mas era um lance fortuito, pois o Coxa sofria para chegar ao gol adversário, e demonstrava muito nervosismo. O meio-campo não trabalhava com eficiência, dificultando a criação de jogadas para Edu Sales e Marcel. Dessa forma, era o Tigre que chegava, e aos 31 minutos, Fernando teve que intervir com eficiência no arremate de Dejair.
Mas Leo Oliveira resolveu ajudar o Coritiba. Aos 32, o zagueiro do Criciúma “rebateu” um cruzamento de Jackson, e o pênalti foi marcado. Na cobrança, Fabiano defendeu a cobrança de Marcel, mas a arbitragem acusou o avanço do goleiro, levando os catarinenses à loucura. Na segunda cobrança, quatro minutos depois, o centroavante coxa deslocou Fabiano e abriu o placar, marcando seu vigésimo gol no Brasileiro.
Paulo Bonamigo pediu no intervalo que os jogadores não administrassem o resultado muito cedo, e que buscassem mais gols. Mas logo no primeiro minuto, Edu Sales (um dos melhores em campo) sentiu dores no tornozelo e foi substituído por Helinho. Logo depois, Jackson deixou Lima na cara do gol, mas o jogador chutou nas pernas de Fabiano. Marcel também tentou, mas o goleiro catarinense faz boa intervenção.
Mandando no jogo e enfim jogando com tranqüilidade, o Coritiba aumentou a festa aos 14 minutos. Jackson lançou Marcel, que tentou o chute – Fabiano espalmou, e Lima só teve o trabalho de tocar para o gol vazio. Era o que o time precisava para assumir de vez o controle do jogo, já que o ânimo dos catarinenses diminuía. No ritmo da torcida, como Bonamigo pedira na véspera, o Coxa começava a administrar o resultado.
E, na empolgação, ainda criava oportunidades. Aos 25, Helinho obrigou Fabiano a fazer ótima defesa. A partir dali, os torcedores pouco prestaram atenção ao que acontecia dentro de campo. Era a hora de comemorar, de soltar um grito que parecia estar guardado há dezoito anos. Não era título, mas era a vaga na Libertadores, e principalmente a recuperação completa do orgulho de ser coxa-branca.