Depois de muitas conversas e muito treino, o Coritiba terminou a sexta-feira já na capital paulista, onde enfrenta o São Paulo amanhã, às 18h, no Morumbi. E foi com mala, cuia, psicóloga e os principais dirigentes, formando uma comitiva à altura da importância do jogo, que vale a terceira posição do campeonato brasileiro – e a recuperação moral alviverde, alvo de toda a mobilização do clube nesta semana.
E a torcida entrou na mobilização. As facções organizadas, sítios de internet e o grupo CoriAção entregaram duas faixas à delegação que seguiu para São Paulo. Os dizeres eram os seguintes: “Libertadores: para muitos, um sonho; para o Coritiba, uma realidade” e “Creemos en ustedes: rumbo a la Libertadores” (em português, ‘confiamos em vocês: rumo à Libertadores’). Elas foram colocadas no gramado do Couto, e o secretário Domingos Moro pediu que fossem levadas na bagagem alviverde.
Em um processo que partiu do secretário Domingos Moro e seguiu até os jogadores, com a supervisão da psicóloga Flávia Focaccia, ‘acreditar’ se tornou a palavra da moda no Couto Pereira. “Nós temos qualidades, e vamos mostrar nesses últimos jogos por que estamos entre os primeiros há tanto tempo”, garante o volante Roberto Brum, citando o expressivo fato do Coxa estar há 27 rodadas seguidas entre os cinco primeiros do brasileiro.
O plano surtiu efeito, tanto que as atitudes do elenco mudaram. Antes dos treinos, na já habitual conversa do técnico Paulo Bonamigo, é normal ver os jogadores todos abraçados, formando uma roda fechada. “Isso é um sinal de unidade. Eles estão demonstrando que têm força, que o grupo está unido”, afirma Flávia Focaccia. Jogadores que demonstravam abatimento, como o lateral Ceará, já aparentam melhora. “O tempo passa, e todo mundo está recuperado”, confirma Bonamigo.
O treinador é um dos que mais sentiram a melhora do ambiente. “Tudo que aconteceu essa semana trouxe de volta a alegria ao elenco”, conta. Esse é um dos pontos trabalhados pela psicóloga. “Se você pensa em obrigação, cria uma pressão que só prejudica. Vamos fazer o que desejamos, porque isso nos traz alegria. E o ideal é vivermos dessa forma”, explica Flávia Focaccia.
A diretoria, por sua parte, reaproximou-se do elenco, comparecendo mais aos treinos e realizando ações como o churrasco de terça-feira. “O jogador gosta disso, porque vê que há um respaldo ao trabalho feito dentro de campo”, elogia Bonamigo. A psicóloga, inclusive, viaja a São Paulo com a responsabilidade de prosseguir com as atividades realizadas na terça.
No campo, o técnico alviverde aproveitou a semana sem partidas para atacar os principais problemas do time. “Nós tivemos dificuldades nas duas últimas partidas, e nesses treinos pudemos corrigir algumas situações”, explica. A carga foi tão forte que na quinta Bonamigo reduziu o ritmo. “Os trabalhos foram excelentes, e foi até bom dar uma relaxada. O grupo também precisa disso”, admite.
Por esses fatores, o Cori seguiu para São Paulo confiante. ‘Nós tivemos uma semana ótima, e eu acho que isso vai se refletir no jogo’, diz o centroavante Marcel. “Nosso elenco é muito jovem, mas é consciente do que precisa fazer. Nós dependemos apenas de nossas forças, e vamos conquistar uma vaga para a Libertadores”, finaliza o zagueiro Odvan.
Bonamigo esconde a escalação
Se é para esconder, que se esconda. O técnico Paulo Bonamigo vai mesmo levar a dúvida na escalação até momentos antes do jogo de amanhã, no Morumbi. No minicoletivo de ontem, no Alto da Glória, ele trabalhou duas variações do 3-5-2 (uma com Souza e a outra com Ceará) e, apesar de a primeira ser favorita, a definição só acontece depois que o São Paulo anunciar oficialmente a sua equipe.
Na última oportunidade de testar possíveis formações, Bonamigo deixou claro que vai mesmo colocar três zagueiros de ofício: Danilo, Odvan e Edinho Baiano. “Esse é o sistema tático realmente com três zagueiros. Até agora, eu usava o Reginaldo, mas ele era um volante deslocado”, explica Bonamigo, que depois completa: “Quero um time agressivo, mas para isso preciso ter consistência defensiva”.
Assim, Reginaldo Nascimento volta à sua posição de origem. “Vamos lá. É um negócio diferente, porque eu estava jogando há um bom tempo de zagueiro. Mas, nessa hora, não tem problema pra adaptação. Vou com tudo”, garante. Bom para o técnico, que nem esperava essa hipótese. “Eu não acredito nisso, porque ele é um jogador de meio-campo”, afirma Bonamigo.
Dessa forma, resta apenas uma vaga em disputa. Se o treinador preferir uma formação mais agressiva do meio para frente (a hipótese mais provável), vai jogar Souza. “A gente ganha em composição no meio, porque o Jackson e o Adriano jogam fechando pela diagonal”, diz Bonamigo. Além disso, Edu Sales ganha maior companhia, e pode ser melhor acionado. “Ele vai ser a nossa flecha”, resume.
Caso a opção seja de maior marcação, Ceará será mantido na equipe, com Jackson passando para o meio-campo. “A gente compõe melhor na defesa”, considera Bonamigo. Só que o time, no pensamento do técnico, fica ‘burocrático’ demais, e perde qualidade na frente. Por isso, o mistério. “Eu quero pensar ainda no que pode acontecer, tenho tempo para isso, e vou esperar o São Paulo se definir”, finaliza o técnico.
