Nunca o fato de ?comer pelas beiradas? foi tão interessante para o Coritiba no campeonato brasileiro quanto na rodada que se inicia hoje. Com uma boa combinação de resultados somada a uma vitória sobre o Guarani (amanhã, às 16h, no Brinco de Ouro), o Cori pode terminar a rodada isolado na segunda posição, e abrindo significativa vantagem sobre os adversários na luta por uma das vagas para a Taça Libertadores da América.
O jogo emblemático desta rodada é São Paulo x Santos, hoje, no Morumbi. Apesar de estar empatado com o alvinegro paulista na segunda colocação (com 59 pontos), qualquer resultado que acontecer no clássico serve para o Coritiba. Se o São Paulo vencer, segura o Santos e dá ao Cori a chance de ficar isolado em segundo. A vitória do Peixe freia o avanço tricolor, podendo o Coxa abrir quatro pontos na frente. E com um empate, os dois ficam iguais, facilitando (na teoria) o caminho alviverde.
Os outros rivais têm jogos complicados. Destes, o Atlético-MG e o Criciúma jogam em casa – mas o Galo enfrenta o ascendente Vasco, e o Tigre tem o Cruzeiro, líder do brasileiro. Nesta partida, mais uma vez qualquer resultado beneficia o Cori. Completando os inimigos diretos, o Internacional vai a Belém enfrentar o Paysandu, que precisa vencer para equilibrar sua pontuação, ameaçada pelo julgamento de segunda-feira.
Mas, apesar das boas possibilidades vistas na tabela, o técnico Paulo Bonamigo reconhece que nada disso importa se o Coritiba não vencer o Guarani. “É um jogo complicado, porque eles têm bons valores e dificilmente perdem dentro de casa. Teremos que ter cuidado, sem no entanto abandonar nosso estilo de jogo”, resume o treinador alviverde.
Por sinal, o jogo de amanhã reúne a segunda melhor campanha dentro de casa (o Guarani, com quase 80% de aproveitamento) e a terceira melhor fora de seus domínios (o Cori, com 50% de rendimento). “Essa força deles em casa é um sinal das dificuldades que teremos”, avalia Bonamigo. “Mas, ao mesmo tempo, nós também jogamos bem fora de casa. E temos que manter esse nível de atuação se quisermos buscar alguma coisa no brasileiro”, completa.
Tudo pronto
Sem problemas, Bonamigo confirmou o time no coletivo de quarta-feira. Nos últimos dias, ele trabalhou para acertar a marcação, o passe e o posicionamento da equipe. “Gostei do que vi nos treinos. Nós ficamos mais compactos, estamos mais eficientes e práticos”, elogia o treinador. O Coritiba para enfrentar o Guarani tem a seguinte formação: Fernando; Ceará, Odvan, Edinho Baiano e Adriano; Reginaldo Nascimento, Roberto Brum, Jackson e Lima; Edu Sales e Marcel.
Bugre é “carne de pescoço”
A crise chegou com tudono Brinco de Ouro. Depois da derrota para o Fortaleza, no domingo passado, o Guarani escancarou seus problemas, com brigas dentro de campo, troca de sopapos nos vestiários e ajuda psicológica a Simão, que já foi expulso oito vezes neste ano. Mesmo assim, no Coritiba ninguém acredita que haverá facilidades no jogo de amanhã – até porque, em nove confrontos em campeonatos brasileiros, o Coxa só venceu duas vezes em Campinas.
E as partidas não aconteceram há pouco. A última vitória foi em jogo válido pelo brasileiro de 98, em um jogo que tem como detalhe insólito o fato de o técnico Valdyr Espinosa ter abandonado o clube em plena concentração em Campinas. Os auxiliares Leomir de Souza e Nedo Xavier assumiram o time, que venceu por 1×0 em 27 de setembro. E dez anos antes (23/11/88), em jogo válido pela Copa União, o Coxa venceu por 3×1 aquela equipe, coincidentemente treinada por Espinosa, era a base do time campeão estadual do ano seguinte.
Nas outras partidas, o Coritiba não venceu e, por incrível que pareça, não marcou nenhum gol. Por isso, o retrospecto dos nove jogos contra o Guarani no Brinco de Ouro é o seguinte: cinco vitórias do Bugre, dois empates e duas vitórias coxas. O time paulista marcou sete gols e o Coxa quatro. “Nós sabemos da dificuldade de jogar lá, e por isso precisamos estar atentos e com aquela atitude que sempre tivemos atuando fora do Couto Pereira”, resume o técnico Paulo Bonamigo.
Na conta acima, estão incluídos os jogos realizados em campeonatos de segunda divisão. E, portanto, entra na conta o mais rumoroso encontro entre os dois alviverdes, que aconteceu pela série B, em 13 de maio de 1991. Era a semifinal da competição, e quem passasse estaria na primeira divisão. No jogo de ida, o Cori venceu por 1×0, e jogava pelo empate, mas sofreu inúmeras pressões e intimidações, que chegaram ao ponto do então presidente da Federação Paulista Eduardo Farah (torcedor do Bugre) assistir o jogo dentro de campo. Desde aquela noite de quarta, a torcida do Coritiba não suporta ouvir o nome de José Roberto Wright, que apitou aquela partida.
Mas o Cori tenta não entrar no clima de ?guerra?, tanto que sequer comenta a semana tensa em Campinas. “Nós temos que olhar para o nosso lado”, adverte Bonamigo. “Lá tem bons jogadores, e nós temos que pensar nisso. O que acontece por lá não é da nossa conta, porque a nossa preocupação tem que ser com os nossos problemas. Ninguém pensa na gente, e nós não podemos pensar em ninguém”, finaliza o meia Jackson.