É um jogo que vale por 18 anos. O Coritiba faz hoje, às 18h, contra o Criciúma, no Couto Pereira, uma das partidas mais importantes de sua história. A vitória vale uma vaga na Copa Libertadores da América, na possível quarta participação do futebol paranaense na competição – e segunda alviverde.
Desde a final do campeonato brasileiro de 85 o Coxa não vivia um dia de tanta ansiedade e expectativa. Uma nação de torcedores deposita suas esperanças em onze jogadores e no técnico Paulo Bonamigo. E estes jogam a partida de suas vidas. O resultado, seja qual for, vai ser fundamental na seqüência próxima de suas carreiras.
Quem mais tem a ganhar (e perder) é justamente o treinador, há vinte meses no comando do Cori. “É um jogo muito importante, porque é o momento em que esse tempo de trabalho é colocado à prova. E eu tenho certeza que vamos coroar tudo isso com a classificação”, comenta Bonamigo, que recebeu ontem a visita do irmão, que é dono de uma emissora de rádio em Ijuí (RS).
O técnico luta para manter-se longe das especulações que envolvem seu nome – e da pressão que pode afetar o elenco. “Todas as vezes que os jogadores foram pressionados, eles sentiram. É a hora de dar carinho a eles”, avisa. Para colaborar, há o ótimo ambiente dos últimos dias. “Quando a gente perdeu para o Vitória, discutiu-se muito fora e dentro de campo. Agora as coisas estão melhores”, confirma o lateral Maurinho.
Para Bonamigo, os momentos de dificuldades foram menores na temporada, tanto que ele diz estar ?orgulhoso? do elenco. “As felicidades foram bem maiores que as tristezas”, diz. Os jogadores concordam. “A vaga na Libertadores seria um prêmio para todo mundo, atletas, comissão técnica, diretoria e torcida. Cada um fez sua parte”, garante o centroavante Marcel.
O atacante é um dos que pode mais ?lucrar? com a classificação coxa – os primeiros dividendos já vieram, com a artilharia e a convocação para a seleção olímpica. Mas todos sabem da importância que o jogo tem nas suas carreiras. “Estamos encarando como o jogo das nossas vidas, porque todo mundo vai se projetar, principalmente o clube”, admite o capitão Reginaldo Nascimento, há sete anos no Alto da Glória.
É com o espírito de ?vida ou morte? que o Coxa vai entrar em campo, empurrado por mais de 35 mil pessoas. “É a partida da transpiração, da dedicação máxima”, resume Bonamigo. “Muita coisa vai acontecer daqui para frente, mas o que importa agora é o Criciúma. Com a nossa força e o apoio da torcida, vamos conseguir a vitória e a vaga para a Libertadores”, finaliza Odvan.
Édson Gonzaga, fazendo história
Suspenso pelo STJD, Paulo Bonamigo dá lugar no banco de reservas ao auxiliar técnico Édson Gonzaga, que pode entrar definitivamente para a história do Coritiba. O nome do auxiliar técnico já está inscrito no livros dos heróis do clube, como ponta-esquerda titular na campanha do título brasileiro de 85.
Agora, surge para ele a possibilidade de participar ativamente na segunda partida mais importante da história coxa. “Nesse aspecto, estou muito feliz. Fico orgulhoso de ser um personagem do clube, estando presente nesses momentos decisivos”, diz Édson.
Jogando “no ritmo” da torcida
Se o jogo entre Coritiba e Criciúma acontecesse não hoje, mas há um mês atrás, as orientações de Bonamigo seriam diferentes. Mas, para o jogo de hoje, o técnico alviverde quer que o time jogue ao ritmo da torcida, pressionando o adversário desde o início do jogo. Apesar de pedir equilíbrio, ele pretende ver uma equipe agressiva nos noventa minutos.
Se fosse um jogo ?normal?, sem tanta expectativa, Bonamigo certamente falaria para seus jogadores evitarem a correria e jogarem com tranqüilidade. Para hoje, no entanto, a história é outra. “Vamos aproveitar a força da nossa galera. Não é dia para se poupar, é o jogo do ano, não há mais nada depois”, resume o comandante coxa, que confirmou a equipe com o retorno de Roberto Brum e Edu Sales, que foi poupado do treino de ontem.
Mas, ao seu estilo, o treinador exige uma equipe com seriedade. “Não é porque precisamos da vitória que vamos soltar o time inteiro. Quando eu falo de equilíbrio, é porque o Coritiba sempre jogou bem quando foi equilibrado”, comenta Bonamigo, que – se fosse possível resumir assim – quer o Coxa jogando com “equilíbrio agressivo”.
Isso para aproveitar a empolgação geral da torcida, que tem que ser encarada, segundo ele, de forma positiva. Até porque os jogadores sentem a mobilização da cidade em torno do jogo. “Por onde eu vou eu percebo a motivação dos nossos torcedores. É legal, porque a gente também entra no clima da partida”, comenta o meia Jackson, que alerta para a dificuldade que o adversário vai impor. “O Criciúma é um time complicado, não há nada ganho.”
Bonamigo também pede atenção. “Eles não são franco-atiradores, ainda têm chances de conquistar vaga na Copa Sul-Americana, e por isso vão querer vencer”, avisa. Mas o técnico está preocupado com sua equipe, e com a vitória que leva à Libertadores. “O que a gente pode prometer é a nossa entrega, nossa energia total”, garante.
Torcida atende pedido e lota Couto
É bom se apressar. Restam poucos ingressos no Couto Pereira para o jogo decisivo deste final de tarde, e se confirma a expectativa de casa cheia para Coritiba x Criciúma. Será o segundo maior público do futebol paranaense na temporada.
Somente a final do campeonato paranaense entre Coritiba e Paranavaí, no dia 23 de março, teve público maior – à época, o Couto Pereira não estava demarcado, e era possível colocar maior carga de ingressos, fazendo com que quase cinqüenta mil pessoas fossem acompanhar a vitória alviverde por 2×0. No Brasileiro, o recorde de público em Curitiba até agora é do Atlético, quando venceu o Flamengo por 3×0 (25/05).
Apesar de não haver prévias oficiais de venda, a procura antecipada (com preços pela metade) foi expressiva, e até o final da tarde de ontem foram vendidos mais de 30 mil ingressos – e já não há mais cadeiras à venda. As arquibancadas não vendidas custam R$ 7,50 até às 14h.
Contas
Para o Coritiba, basta uma vitória contra o Criciúma para conseguir a vaga na Libertadores sem depender dos resultados de Internacional, São Caetano (que se enfrentam) e Atlético-MG. Mas mesmo um empate pode garantir a equipe, desde que o Inter bata o Azulão e o Galo não vença o Goiás.