São Paulo – O torcedor do Corinthians que não se surpreenda se, amanhã, contra o Cianorte, pela Copa do Brasil, o atacante Gil pegar a bola com a mão na área adversária ou se o volante Wendel avançar contra os próprios companheiros, passar pelo goleiro Fábio Costa e marcar gol contra. É que ninguém entende as ordens do técnico argentino Daniel Passarella. O primeiro treino do novo treinador do Corinthians, ontem, no Parque São Jorge, foi um espetáculo de mal-entendidos e confusões por causa do idioma espanhol. ?O que eu tenho de fazer, professor??, interrogou, assustado, o volante reserva (Renato) Fefo.
O volante não só não entendeu a ordem como duvidou da tentativa do meia Roger de ajudá-lo. ?Ele (o técnico) está pedindo para você me deixar livre, sem me marcar.? Fefo pensou estar sendo enganado pelo jogador carioca. Mas era verdade. Só acreditou depois que Carlos Tevez correu em seu socorro e confirmou a informação. ?Hoje foi muito engraçado, quando o Passarella falava rápido ninguém entendia nada?, comentou Roger.
A parceira do clube, MSI, tentou minimizar as dificuldades contratando o intérprete Leandro Moura. O tradutor, aliás, deu um show à parte. A primeira gafe foi ter ido ao treino com uma camiseta verde, cor do arqui-rival Palmeiras. Ele a trocou pelo uniforme do time depois da advertência da assessoria de imprensa do clube e do zagueiro Anderson: ?Você está louco? Ainda bem que a Gaviões (da Fiel, torcida organizada) não veio hoje?. Minutos depois, deixou o centro do campo, onde estavam Passarella e seu auxiliar Alejandro Sabella, para buscar um dicionário de espanhol, estrategicamente localizado no banco de reservas.
Passarella, à la Joel Santana, atual técnico do Vasco, anota tudo o que ocorre em campo em uma prancheta. Consultando-a, definiu a primeira mudança no time que começou a partida na qual o Corinthians aplicou 6 a 1 no União São João. No lugar de Betão pôs o argentino Sebastian Dominguez, o Sebá, e na posição de Marcelo Mattos, Fabrício. Mexeu na escalação e acreditou que poderia se fazer entender, sozinho, pelos atletas brasileiros quando iniciou o treino com bola rolando. ?Aqui você fica e não vai para a frente sem a bola?, disse ao perplexo lateral-direito Coelho.
Teria pedido para Wendel abrir as jogadas pelas pontas, tocando para Gil ou Tevez. Quis passar a orientação uma vez, o volante não entendeu, gesticulou bastante na segunda tentativa e nada, até que Sebá, aluno assíduo duas vezes por semana das aulas de português, quebrou o silêncio do grupo e explicou o que o técnico queria.
Tevez, o mais difícil de se compreender de acordo com os próprios companheiros de equipe, deve começar os estudos do idioma nacional em breve.
Uma ?guerra civil? se anuncia nos bastidores
São Paulo – Kia Joorabchian, o chefão da MSI, resolveu mudar o comportamento repentinamente e deixou de lado o estilo diplomático, que o vinha caracterizando, para atacar sem dó o vice-presidente do Corinthians, Antônio Roque Citadini. Pegou todo mundo de surpresa. ?Quando ouço o vice-presidente (Citadini) falando de futebol, vejo que não entende nada?, disparou o iraniano, durante o programa Mesa Redonda, da TV Gazeta, na noite de domingo. ?Ele contratou dois atacantes que fizeram 3 gols em 48 jogos na temporada passada?, acrescentou. Kia referiu-se a Marcelo Ramos e Alberto, que chegaram ao Parque São Jorge em 2004, mas não tiveram sucesso.
Citadini, que sempre se manifestou de forma contrária à parceria Corinthians/MSI e, por isso, afastou-se do Departamento de Futebol, ficou sabendo das declarações do adversário político e retrucou na mesma intensidade. ?Não dá para responder a uma pessoa que invade o vestiário do time em estado apopléctico?, rebateu o dirigente. O vice-presidente corintiano fez alusão à entrada de Kia no vestiário da equipe após a derrota para o São Paulo por 1 a 0, há 9 dias.