O Corinthians é o primeiro grande clube da capital paulista a completar 100 anos. E não deixa de ser simbólico o fato de justamente o mais popular integrante do Trio de Ferro atingir essa marca antes que os rivais Palmeiras e São Paulo. O Corinthians nasceu como a expressão do proletariado. Na noite de 1.º de setembro de 1910, cinco operários, descendentes de italianos e espanhóis, reuniram-se na esquina das ruas José Paulino e Cônego Martins e decidiram criar um time de futebol. O nome sugerido foi Corinthians, inspirado nas exibições do Corinthian Team, melhor equipe amadora da Inglaterra, que excursionou pelo Brasil um mês antes. Por falta de papel, a primeira ata teria sido registrada no alto de uma palheta, à luz de um lampião. Nada mais corintiano. O primeiro presidente, Miguel Bataglia, previu, entusiasmado: “O Corinthians é o time do povo, e é o povo que vai fazer o time”. Não podia estar mais correto.

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O primeiro jogo aconteceu dez dias depois: derrota por 1 a 0 para o União da Lapa, um dos principais times da várzea na época. O primeiro gol veio em 14 de setembro, marcado por Luiz Fabbi, na vitória por 2 a 0 sobre o Estrela Polar. De jogo em jogo na várzea, o Corinthians foi crescendo e ganhando cada vez mais ambição. Para disputar os campeonatos oficiais, a equipe teve que disputar dois jogos eliminatórios. Ganhou os dois e foi admitido na Liga Paulista de Futebol em 1913. O primeiro título veio no ano seguinte: o do Campeonato Paulista, com dez vitórias em dez jogos. Começava ali o reinado estadual. O Corinthians é, 97 anos depois de sua primeira taça, o maior vencedor do Campeonato Paulista, com 26 conquistas.

Em 1940, o time “ganhou” uma nova casa, o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, maior e mais confortável que sua residência oficial, o Alfredo Schurig, no Parque São Jorge. E foi ali que o Corinthians experimentou seu primeiro período de vacas magras, ficando dez anos, de 1941 a 1951, sem conquistar o Paulista. Em 1950, o presidente Alfredo Ignácio Trindade exigiu a renovação da equipe, que passou a contar com vários garotos da base revelados na várzea paulistana. Com craques como Gilmar, Luizinho, Cláudio, Baltazar e Carbone, o Corinthians virou o jogo e viveu uma época de glórias, com três títulos paulistas (o terceiro deles valendo a taça do IV Centenário da cidade de São Paulo, em 1954), três do Rio-São Paulo, o da pequena Taça do Mundo, na Venezuela, e duas Taça dos Invictos.

Diz o ditado que “alegria de pobre dura pouco”, e uma nova carga de sofrimento testaria os corintianos. A partir do meio dos anos 50, o Corinthians atravessou mais de duas décadas de tormentas, jejum de títulos e freguesia para os rivais, especialmente o Santos, de Pelé. Com uma coleção de fiascos, o time ganhou em 1961 o apelido de “Faz me rir”, título de um bolero da cantora Edith Veiga. As duas únicas alegrias dos anos 60 foram o surgimento do meia Rivellino, considerado por muitos até hoje o maior jogador da história do clube, e a quebra do tabu de 13 anos sem vitórias sobre o Santos, no Paulista de 1968.

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O FIM DA FILA – O sofrimento perdurou por boa parte da década de 70, com direito a dois “quase”: o time perdeu as finais do Paulista de 1974, para o rival Palmeiras, e do Brasileiro de 1976, para o Internacional. Já era clássica a gozação dos rivais sobre a falta de títulos. Diversas paredes de botecos eram preenchidas com cartazes provocativos: “Fiado, só quando o Corinthians for campeão”. E o tão sonhado dia chegou depois de 22 anos, oito meses e sete dias. Na noite de 13 de outubro de 1977, o meia Basílio aproveitou um rebote da zaga da Ponte Preta e, de bate-pronto, estufou a rede do gol do Morumbi. O apito final do árbitro Dulcídio Wanderley Boschilla deu início a uma explosão festiva sem precedentes: o “Time do Povo” voltava a fazer o corintiano sorrir.

DEMOCRACIA CORINTIANA – O gigante acordou e mergulhou logo em seguida numa experiência única e vanguardista. Em 1981, em plena ditadura militar, os jogadores e a diretoria, presidida por Waldemar Pires, articularam um movimento que pregava maior participação dos atletas nas decisões referente ao futebol. Foi abolida a concentração para os solteiros, e até mesmo a agenda de treinos e o esquema tático do time eram escolhidos através da maioria de votos. Comandada por craques como Sócrates, Casagrande e Wladimir, a revolução democrática foi coroada com um bicampeonato paulista. O período ficou conhecido como “Democracia Corintiana”.

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ENFIM, NACIONAL – O Corinthians já era hegemônico em São Paulo, mas faltava conquistar o Brasil – a ausência de títulos nacionais era a nova fonte de gozação dos rivais. O jejum foi quebrado em 1990, com a conquista do inédito Campeonato Brasileiro com um time comandado pelo meia Neto. Começou ali a década mais vitoriosa da história do clube, coincidindo, também, com a gestão de Alberto Dualib, que assumiu a presidência em 1993. O time foi três vezes campeão do Paulista, três do Brasileiro, uma da Copa do Brasil e ainda ganhou o primeiro Mundial de Clubes oficialmente organizado pela Fifa, em 2000, no Brasil.

As conquistas, no entanto, afloraram a vaidade de Dualib, que se manteve no cargo por 14 anos e amarrou o clube a parceiros de moral duvidosa, como a MSI (Media Sports Investiment). Representado pelo iraniano Kia Joorabchian, esse grupo firmou em dezembro de 2004 o arrendamento do departamento de futebol profissional corintiano, em troca da promessa de investimento constante para formação de grandes times. Como cartão de boas vindas, a MSI executou a contratação mais cara de todos os tempos do futebol brasileiro: cerca de US$ 20 milhões para trazer do Boca Juniors o atacante Carlitos Tevez. O argentino adaptou-se rapidamente ao Corinthians e logo de cara caiu no gosto da Fiel. Sob sua batuta, o time conquistou mais um Brasileiro, o de 2005.

QUEDA E REDENÇÃO – Mas, em meio às vitórias no campo, nos bastidores houve um choque de ideias entre Dualib e Kia, que resultou na saída da MSI, dois anos mais tarde. O presidente também renunciou ao cargo depois de levar o clube às páginas policiais: foi descoberta uma verdadeira indústria de notas frias no Parque São Jorge. O reflexo da turbulência foi o rebaixamento para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, algo antes inimaginável pela força do clube.

Em outubro de 2007, o ex-diretor de futebol de Dualib, Andrés Sanchez, assumiu a presidência do Corinthians e mudou o estatuto do clube, ordenando o fim das reeleições e a escolha do mandatário pelos sócios. Numa manobra ousada, o cartola contratou em dezembro de 2008 o atacante Ronaldo, maior artilheiro da história da Copa do Mundo, que se recuperava da nova cirurgia no joelho. As atenções de todo o mundo se voltaram para o time, que conquistou mais um Paulista e sua segunda Copa do Brasil. Mas ainda faltam dois sonhos corintianos virarem realidade: a conquista da Libertadores e a construção de um estádio próprio. Capítulos para um segundo centenário.