A metáfora bíblica foi usada ainda no gramado do Couto Pereira, instantes depois da vitória sobre a Portuguesa, quinta-feira. O volante Roberto Brum, um dos destaques do time na competição, foi quem a citou. “Não conquistamos nada, e há muita coisa pela frente. Temos que calçar as sandálias da humildade e manter esse ritmo que imprimimos”, resumiu o “Senador”.
E a opinião de Brum é a base do que o Coritiba pensa. “Vamos continuar com nosso pensamento, que é de classificar entre os oito primeiros”, disse o atacante Lima. “É ótimo estarmos na frente, e a torcida tem mais é que comemorar. Mas aqui a gente tem consciência desse momento, e sabe que depois da rodada do final de semana não seremos mais os líderes”, opinou o zagueiro Pícoli, calcado nos números – folgando na rodada, o Cori pode ser superado por Juventude, Corinthians e Atlético-MG.
E, além disso, a partir de agora (usando uma associação jornalística), o Coritiba passou a ser a ‘vidraça’. “Se antes nós tínhamos um alvo, agora nós somos esse alvo”, afirmou o técnico Paulo Bonamigo. “Nós estamos visados porque estamos na liderança da competição e vivemos um bom momento. Isso nos obriga a ter ainda mais atenção nos próximos jogos, que serão fora de casa”, completou, citando as partidas contra São Caetano (na quarta) e São Paulo.
Mas é claro que a liderança evidencia os feitos do Cori no Brasileiro. “Isso é só a prova do nosso trabalho. Tudo o que fizemos em dois meses – inclusive durante a Copa do Mundo – está aparecendo agora”, disse Pícoli. “Fizemos o que tínhamos que fazer até agora. E temos que continuar assim, porque a classificação ainda está longe. Passamos agora da metade da competição”, completou o goleiro Fernando.
E aí está o principal objetivo do Coritiba – a classificação entre os oito primeiros. “Antes de mais nada, temos que garantir nosso avanço para a segunda fase. A partir daí, vamos tentar uma boa colocação”, afirmou Bonamigo. “Claro que muitos já estão pensando no título, mas para isso temos que passar por três fases, e muitos jogos. E a classificação mais difícil é justamente essa, porque temos que manter a regularidade até o final da primeira fase”, finalizou Pícoli.
Lembrança
O último campeonato brasileiro que o Coritiba deteve a liderança foi em 1998, quando a equipe era comandada por Darío Pereyra (que substituiu Valdyr Espinosa). Após derrotar o então líder Palmeiras no Parque Antártica por 2 a 1 (21/10/98), o Cori empatou com os paulistas em número de pontos, terminando a primeira fase na terceira posição.
Cristian Toledo
Justiça leva toda renda de quinta
Gisele Rech
Time na liderança, estádio quase lotado, contas em dia. Certo? Não exatamente no caso do Coritiba. Devido às dívidas anteriores, acumuladas ao longo de anos de administrações deslumbradas, o alviverde dificilmente verá a cor do dinheiro obtido nas rendas dos jogos do Brasileirão.
Foi o que aconteceu na partida contra a Portuguesa, na quinta-feira, que alçou o time ao topo da tabela. A renda de R$ 200 mil foi confiscada por três oficiais de justiça, em nome de um banco. Os únicos descontos feitos na renda bruta foram os referentes às taxas da Federação Paranaense de Futebol, da Confederação Brasileira de Futebol e do INSS. “Infelizmente estamos tendo que trabalhar para atender ao ontem”, desabafou o secretário do conselho administrativo do clube, Domingos Moro, defensor fervoroso da responsabilidade social nos clubes. “Quando ela for implantada, os dirigentes vão pensar muito antes de colocar a mão no bolso”.
A lamentar, o secretário aponta a falta de um voto de confiança por parte dos credores – que não são poucos – do clube. “São como corvos em volta da carniça. Apesar de estarmos fazendo uma boa campanha e com ótimas perspectivas de saneamento financeiro do clube, não há refresco”. Estima-se que a dívida total do alviverde, incluindo dívidas bancárias e ações trabalhistas, gire em torno de R$ 25 milhões.
Segundo a estimativa do presidente do clube, Giovani Gionédis, mesmo que as rendas continuem a ser penhoradas, a dívida está longe de ser quitada. “Estamos no caminho certo, mas ainda há muito a fazer. Conseguimos equilibrar o fluxo finaceiro atual e seria importante termos o recurso de ao menos parte da renda para manter isso. Mas vamos continuar lutando”, promete.
Mas, apesar da dura realidade, o presidente do clube, Giovani Gionédis, vê uma luz no fim do túnel: o novo projeto do clube de se transformar em Sociedade Anônima, cujo sucesso dependerá do apoio irrestrito da torcida. “Eles já estão nos ajudando muito e esperamos continuar com o apoio quando lançarmos essa nova idéia”, diz Gionédis, que adiou a implantação do projeto devido a seu envolvimento na disputa ao cargo de governador do Estado.