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Copa do Mundo em casa faz Catar reformular futebol e virar potência na Ásia

Com o maior PIB per capita do mundo e recursos de sobra para construir os estádios da próxima Copa, o Catar se dedica agora ao esforço mais difícil na preparação como país-sede do Mundial de 2022. A pequena nação do Golfo da Arábia trabalha duro para melhorar a seleção local e tem conseguido bons resultados graças à mescla do nacionalismo com doses certas de influência estrangeira.

O Catar vive neste momento a alegria da maior conquista da sua história. No começo do mês, ganhou o inédito título da Copa da Ásia ao derrotar na campanha as tradicionais Arábia Saudita e Coreia do Sul, além do Japão na grande final. Os jogadores foram recebidos com festa na volta para casa. O país que nunca disputou um Mundial começa a sonhar em fazer um bom papel em casa.

“Pelos próximos três anos, até 2022, vamos evoluir bastante. Nós podemos fazer uma boa campanha na Copa. Vamos dar o que falar no Mundial”, garantiu ao Estado o português Pedro Miguel Correia, zagueiro da seleção. Embora por muitos anos o Catar tenha recorrido a estrangeiros naturalizados para montar a seleção, isso agora é raridade. Dos 23 convocados para a Copa da Ásia, somente cinco não atuavam no país.

Com população inferior a 3 milhões de habitantes – um terço de estrangeiros -, o Catar sempre penou por falta de mão de obra no futebol. O investimento de milionários do petróleo possibilitou aos clubes contratarem, no começo dos anos 2000, craques como Batistuta e Romário. Porém, o governo resolveu intervir e fazer com que o país conseguisse gerar os próprios talentos esportivos.

O Catar decidiu em 2010 limitar a quantidade de jogadores estrangeiros nos times e frear a convocação de naturalizados. Enquanto defendia as raízes locais, o governo flertou com a influência externa em outro segmento: construiu uma moderna academia esportiva, chamada Aspire, feita para treinar garotos de base. A estrutura tem como um dos diferenciais a presença de treinadores espanhóis. Um dos diretores é o meia Xavi, ex-Barcelona.

“Depois que a presença de estrangeiros no Catar foi limitada, teve um declínio muito grande no campeonato local. Mas foi uma mudança necessária para dar espaço aos jogadores do país”, explicou o ex-meia Fábio Montezine, atual auxiliar técnico das seleções de base. Revelado no CT de Cotia do São Paulo, ele defendeu o Catar em duas Eliminatórias para o Mundial.

A geração campeã da Copa da Ásia tem média de idade de 24 anos e é formada na maioria por jogadores criados na Aspire. “O investimento do Catar nas categorias inferiores é enorme. Os jogadores que se destacam nos clubes vão para a academia bancada pelo governo e só saem de lá para jogar por seus respectivos times profissionais. Depois, voltam para se aperfeiçoar”, contou o meia Rodrigo Tabata, ex-Santos, que está há nove anos no país-sede da Copa de 2022.

Tabata diz ter notado ao longo do tempo uma evolução no torneio. Os catarianos continuaram com o estilo técnico, mas aprenderam a ter consciência tática e dedicação aos treinos. O zagueiro Pedro Miguel garante que a evolução do futebol local está só no começo. “Temos outros jovens que virão com mais vontade. Todos nós estamos trabalhando bem e muito confiantes”, afirmou.

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