Rio (AG) – Um oceano separa as convicções de Carlos Alberto Parreira, atual campeão da Copa América, e Luís Felipe Scolari, vice da Eurocopa. Felipão deixou os portugueses orgulhosos ao afirmar que vencer o torneio, pelo equilíbrio técnico entre as equipes, é mais difícil do que a Copa do Mundo. Para Parreira, a competição sul-americana é tecnicamente superior, mas perde em glamour e organização.
Um torcedor que comprasse o pacote mais barato para assistir aos 31 jogos da última Eurocopa, em Portugal, gastaria R$ 6,2 mil para ver 76 gols, quatro frustrantes empates em 0 a 0 e apenas duas goleadas. No Peru, o futebol ficou mais barato e divertido. Por R$ 442, o mesmo torcedor veria mais gols (78) em menos jogos (26), nenhum 0 a 0 e quatro goleadas.
A comparação entre as últimas edições da Copa América e da Eurocopa tem peso de verdade histórica. Assim como cana de açúcar, o ouro, e outras riquezas naturais, os europeus precisam cruzar o Atlântico em busca de talento para o futebol. Já a opulência e o rigor moram do outro lado. Em 1999, a Uefa vendeu os diretos de TV da Euro-2004 por US$ 840 milhões.
O atual técnico da seleção do Peru, com passagens pelo futebol português, Paulo Autuori, conhece bem os dois lados. “Em lances individuais e gols bonitos, a Copa América teve um algo mais”, disse ele, antes de fazer a ressalva entre habilidade e técnica. “Os sul- americanos são mais habilidosos e por isso muitas vezes não se aprimoram tecnicamente. Já os europeus, só pelo barulho da bola numa virada de jogo, você já sabe que dificilmente ele vai errar”.
A capacidade de improviso, que falta ao europeu, segundo ele, pode ser prejudicial. “É cultural. O sul-americano acredita muito na improvisação, é um erro que o limita. Amparado pela organização, vai criar muito mais”.
Dentro e fora de campo. Autuori lembra a magia que sentiu ao participar das competições européias, pelas condições de trabalho e respeito. “Aqui há um certo primitivismo, mas o Peru se superou e a Copa América também foi um grande negócio”.
O comitê organizador do Peru teve R$ 1,8 milhão de lucro. Uma final entre Brasil e Argentina, no entanto, é algo que não tem preço no mercado europeu. Entre Felipão e Parreira, há outra verdade inquestionável. Não há competição melhor do que uma Copa do Mundo, realizada na Europa.
No Peru, falhas na organização
Fábio Juppa
Rio (AG) – Se em campo a Copa América mostrou que a hierarquia do futebol sul-americano continua inabalável, fora ficou claro que há muito a aprender sobre organização de eventos com os europeus.
Problemas não faltaram em sua 41.ª edição, no Peru, a começar pelo sistema de transporte urbano precário, sem metrô ou ônibus especiais para levar o torcedor aos estádios. O transporte aéreo também falhou. A equipe da Costa Rica voltou do aeroporto para o hotel porque, num vôo programado pelo comitê organizador, não havia lugares para todos.
A rede hoteleira também se mostrou incapaz de receber um grande número de turistas. E mais: em duas ocasiões, os jogadores brasileiros não puderam tomar banho devido à falta de água quente nos estádios; a seleção não pôde fazer treino de reconhecimento do Estádio Nacional na semifinal e final. E teve de treinar em campos com placas de empresas concorrentes de seus patrocinadores.
Menos mal que tecnicamente o caminho do aprendizado é o inverso.Em Portugal, uma pobreza técnica
Carlos Orletti
Rio (AG) – A imagem do holandês Davids apoiando a mão na trave enquanto o português Cristiano Ronaldo cabeceava para as redes na semifinal entre Portugal e Holanda ficou gravada entre os momentos marcantes da Eurocopa-2004. A cena é sintomática. Mostra um jogador importante que não consegue esconder o cansaço mesmo num momento decisivo.
Astros cansados e sem jogar o futebol que os tornaram ricos e famosos foram cenas comuns no segundo mais importante campeonato de futebol do mundo. Mas por que os mobilizados jogadores europeus não protestam? Simples: a Eurocopa envolve muito dinheiro, eles ganham altos prêmios e as federações embolsam ainda mais. Os 31 jogos reuniram um milhão, 186 mil e 192 torcedores pagantes.
Para quem gosta de bom jogo e não só do espetáculo da organização e das arquibancadas sempre lotadas, a Eurocopa frustrou. E, no final, deu Grécia. E mais sinal de pobreza técnica: Zagorakis, 32 anos, meio-campo do AEK (Grécia), foi eleito o craque do torneio.