O Uruguai está em casa. Óscar Tabarez tira foto com os locais, conversa animadamente com alguns jornalistas e tira fotos. A França, não. Didier Deschamps não estava carrancudo como em outros dias. Mas ele sabe que, depois de eliminar a Argentina nas oitavas de final, com uma atuação de gala de Mbappé, sua seleção virou candidata ao título.

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O Uruguai abraça com gosto -mais uma vez- a condição de zebra nas quartas de final da Copa do Mundo nesta sexta (6), às 11h (de Brasília), em Nijni Novgorod. É a cidade em que os jogadores comandados por Tabarez estão concentrados desde o início do torneio.

“É como diz uma canção popular no Uruguai: nunca favoritos, sempre vindo de trás. Esta é a nossa realidade. É a raiz do que vamos tentar com muita ilusão de vencer”, disse o treinador.

Ele lançou mão de diferentes argumentos para se colocar como azarão. Nenhum novo. Citou a extensão reduzida do país, a população pequena se comparada com a da França (3,5 milhões contra 66,9 milhões)… Mas no discurso, há um componente que realmente pode pesar: a ausência de Edinson Cavani. O autor dos gols da classificação sobre Portugal continua em tratamento para curar lesão muscular na coxa direita. Nesta quinta (5), pela primeira vez ele treinou com bola desde o último sábado (30), quando sofreu o problema.

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“Tenho profundo respeito por Tabarez. Está há 12 anos no Uruguai, realizou um trabalho extraordinário. Eles têm menos jogadores que outros países na porcentagem da população e ainda assim possuem uma seleção incrível, foram semifinalistas em 2010 e aí seguem”, elogiou o técnico francês Deschamps.

A principal questão é que o discurso de quem corre por fora não encaixa com a campanha do Uruguai na Rússia. A França tem dois atacantes velozes e que podem fazer a diferença (Griezmann e Mbappé). O Uruguai, mesmo se não tiver Cavani, vai escalar Suárez, um dos mais temidos artilheiros do futebol mundial. A França tem três vitórias e um empate até agora na Copa. O Uruguai venceu as quatro partidas que disputou.

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Mbappé entrou na corrida para ser considerado o melhor do mundo com a atuação que mandou Lionel Messi para casa. Fez dois gols e sofreu um pênalti contra os argentinos. Duas horas depois, o Uruguai eliminou Portugal de Cristiano Ronaldo.

A França tem uma geração jovem (com 26 anos de média, é a segunda equipe mais nova da Copa), que costuma se complicar quando o adversário se fecha e não oferece espaços. A equipe empolgou contra a Argentina mas havia feito três jogos burocráticos na fase de grupos diante de Austrália, Peru e Dinamarca.

“Temos de estar muito concentrados, especialmente na defesa. Não podemos dar faltas e escanteios à toa. O ritmo da França tem de ser intenso, com velocidade. Os uruguaios não precisam de muitas chances para fazerem gols e teremos de enfrentar isso”, analisa o goleiro francês Lloris.

A rapidez terá de vir de Griezmann e Mbappé, com Giroud como ponto central do ataque. Kanté recupera as bolas para que Pogba execute os lançamentos. O Uruguai sabe como a França pretende jogar e Deschamps nem faz tanta questão de esconder. Ao falar com a imprensa, o técnico europeu citou a necessidade de “paciência”.

O pensamento de Deschamps está em criar uma geração acostumada a bons resultados. A França tem sido inconstante em Mundiais. Em 1982 e 1986 foi semifinalista, mas ficou fora dos torneios em 1990 e 1994. O título de 1998 foi seguido pela queda na fase de grupos em 2002. O vice de 2006 não criou estabilidade. Quatro anos depois, o elenco rachou com o técnico Raymond Domenech e a seleção foi embora com apenas um ponto em três rodadas.

O treinador francês sabe ser preciso, mesmo com uma geração jovem, dar um passo adiante em relação ao time eliminado nas quartas de final no Brasil, em 2014.

“Estamos nas quartas pela segunda vez nas quartas em quatro anos. Agora temos de passar de fase”, espera ele.

Por encarnar tão bem a imagem da zebra, o Uruguai parece mais relaxado. A equipe sequer passou sufoco no torneio, o que tem sido a marca registrada da seleção desde 1986, quando avançou para as oitavas após suportar pressão da Escócia e ficar no 0 a 0, se classificando como um dos melhores terceiros colocados. Quatro anos depois, foi para as oitavas porque Fonseca anotou um gol contra a Coreia do Sul aos 49 min do segundo tempo.

Mesmo quando foi eliminado, em 2002, sofreu. O atacante Richard Morales desperdiçou uma chance na pequena área no último lance da partida diante de Senegal. O Uruguai estava perdendo por 3 a 0, conseguiu empatar, mas precisava ganhar. Em 2010, Suárez colocou a mão na bola em cima da linha nas quartas de final contra Gana, nos acréscimos. Foi expulso, mas Asamoah Gyan perdeu a cobrança e o Uruguai depois se classificou nos pênaltis. No Brasil, em 2014, Diego Godín fez gol com o ombro que classificou sua seleção nos minutos finais e mandou a Itália para casa.

Uma campanha da seleção celeste como esta de 2018, tranquila e sem grandes dramas, não é comum.

Por isso que a França não compra a ideia de que o Uruguai é a seleção de um país menor que enfrenta os mais poderosos na Copa do Mundo.

No ranking de títulos do torneio, Uruguai tem dois. A França, apenas um.

“Há um vínculo cultural entre os dois países. A França é um dos países que mais contrata jogadores uruguaios e isso é sinal de respeito. O primeiro triunfo internacional do Uruguai foi na França (os Jogos Olímpicos de 1924). Temos muita ligação e quem sabe a vida seja isso. Deixar ensinamentos e construir pontes”, afirma Tabarez.

Por este tipo de afirmações, os jornalistas uruguaios apenas se dirigem ao técnico como “maestro”. Até porque ele também é professor. É um respeito de quem está há 12 anos dirigindo a seleção principal e coordenando as de base.

Para os repórteres franceses, Deschamps é apenas “Didier”, mesmo tendo sido o capitão da maior glória do esporte do país, o título mundial de 1998.

URUGUAI

Muslera; Martín Cáceres, Godín, José Gimenez, Laxault; Nandez, Betancur, Vecino, Torreira; Stuani (Cavani), Suárez. T.: Óscar Tabárez

FRANÇA

Lloris; Pavard, Varane, Umtiti, Lucas Hernández; Kanté, Lemar (Tolisso), Pogba; Mbappé, Girroud, Griezmann. T.: Didier Deschamps

Local: Nijni Novgorod

Horário: 11h desta sexta

Juiz: Nestor Pitana (ARG)