O compositor Dmitri Shostakovich (1906-1975), um dos maiores nomes da música soviética, adorava ir ao estádio do Zenit, em Leningrado, para torcer pelo dono da casa. Levava a bandeirinha do seu time, aplaudia e gritava.

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Leningrado –título da sua Sinfonia número 7, que celebra a heroica resistência da cidade aos 900 dias do cerco nazista na Segunda Guerra Mundial– voltou a se chamar São Petersburgo, agora também o nome do antigo estádio, inteiramente reconstruído para a Copa do Mundo.

Shostakovich provavelmente se sentiria à vontade no meio da torcida sueca que, como ele fazia, pulou e bateu palmas do começo ao fim para incentivar sua seleção na partida de terça-feira (3) em que ela ganhou da Suíça por 1 a 0 e classificou-se para as quartas de final. A Suécia não chegava tão longe em um Mundial desde 1994, quando terminou em terceiro lugar.

O jogo, apesar de intensamente disputado, foi ruim. Tanto que só aos 28 minutos do primeiro tempo saiu o primeiro chute a gol, em um arremate de Marcus Berg espalmado pelo goleiro suíço Sommer.

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No segundo tempo, mesmo com faltas mal cobradas, passes errados e chutes sem direção –dos dois lados–, até que o jogo melhorou um pouco.

A Suíça, na busca às vezes desesperada pelo empate, teve maior posse de bola e pressionou. Chegou a conseguir quatro escanteios em sequência, dos onze a seu favor (contra apenas três da Suécia).

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Melhor do que observar os chutões e o inútil esforço suíço foi acompanhar, de longe, no telão e nos monitores de TV, a euforia dos suecos.

Eles estavam espalhados pelo estádio inteiro, entre os 64.042 espectadores presentes, mas os que chamavam mais a atenção eram os que se acomodaram atrás da meta em que, para ensandecê-los, o meia Emil Forsberg marcou o único gol. Ele chutou quase da entrada da área e a bola resvalou no zagueiro Akanji, enganando o goleiro Sommer.

Forsberg seria premiado com toda justiça como o melhor homem em campo. Além de fazer o único gol, salvou outro, ao cortar na pequena área uma cabeceada de Seferovic, com o goleiro Olsen vencido.

A Suíça, sempre conhecida por seus esquemas defensivos, foi com tudo para a frente. Reforçada pela entrada dos atacantes Embolo e Seforovic, pressionou o quanto pôde.

Aconteceria o inevitável. Nos descontos, em um contra-ataque rápido, Olsson –que havia substituído justamente Forsberg– iria marcar o segundo gol, quando o lateral-direito Michael Lang o derrubou.

O juiz esloveno Damir Skomina expulsou Lang e, erradamente, marcou pênalti. Olsson havia sido atingido fora da área. Após consulta ao árbitro de vídeo, ele fez a coisa certa: voltou atrás na sua decisão, embora mantendo o cartão vermelho para Lang.

Batida a falta, o jogo terminou –e os suecos, depois de 24 anos, começaram a comemorar, no gramado e nas arquibancadas, a vitória que os deixou entre os oito finalistas desta Copa.

Para quem ainda imaginava eles tão frios quanto o clima do país ou quem sabe melancólicos como muitos personagens dos filmes do cineasta Ingmar Bergman, a surpresa foi maravilhosa.

Eles usavam perucas engraçadas, chapéus de viking, coroas de flores na cabeça, camisas amarelas. Havia, é claro, no meio dos homens com copos de cerveja na mão, mulheres lindas, algumas talvez aparentadas de Greta Garbo, e crianças encantadoras de rosto pintado. E um bebê, fofíssimo, de uns seis meses, uniformizado e com fone de ouvido.

Todos pulavam quase sem parar e cantavam loucamente. Em uma curiosa coincidência, lembravam a torcida do Boca Juniors em transe no La Bombonera. Afinal, segundo a lenda, os fundadores do mais popular time argentino só decidiram quais seriam as cores do clube quando, perto deles, chegou ao porto um navio de bandeira sueca.

Shostakovich disse certa ocasião que o futebol é o balé das massas. Desta vez, os torcedores suecos mostraram que ele também pode ser dançado nas arquibancadas. Até depois de baixadas as cortinas: o jogo já terminara há meia hora, e eles continuavam saltando felizes.

SUÉCIA

Olsen; Lustig (Krafth), Lindelöf, Granqvist e Augustinsson; Claesson, Svensson, Ekdal e Forsberg (Olsson); Toivonen e Berg (Thelin). T.: Janne Andersson

SUÍÇA

Sommer; Lang, Djourou, Akanji e Rodríguez; Behrami e Xhaka; Shaqiri, Dzemaili (Seferovic) e Zuber (Embolo); Drmic. T.: Vladimir Petkovic

Cartões amarelos: Lustig (SUE); Behrami e Xhaka (SUI)

Cartão vermelho: Lang (SUI)

Gol: Forsberg (SUE), aos 20min do segundo tempo

Local: Arena São Petersburgo, em São Petersburgo

Juiz: Damir Skomina (SLO)