Os argentinos foram surpreendidos no retorno a Bronnitsi (base da seleção no Mundial, a 55 km de Moscou) após a vitória sobre a Nigéria, em São Petersburgo. Vinte e dois garotos os esperavam e começaram a cantar e pular, ensandecidos, assim que os jogadores entraram na concentração.

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A festa foi preparada pelos sparrings da seleção, 22 jovens das categorias de base de equipes do país sul-americano que acompanham os veteranos para ajudar nos treinos.

A maioria dos jogadores, que obtiveram a vaga para as oitavas de forma dramática, com um gol a quatro minutos do fim marcado por Marcos Rojo, entrou na brincadeira e começou a cantar música composta por torcedores para a Copa do Mundo.

Ao ritmo da canção “Imposible” (Impossível, em espanhol), da banda Callejeros (a preferida de Jorge Sampaoli), cantaram que “todos los brazucas se pondrán a llorar porque este año la copa se la lleva papá” [todos os brazucas se colocarão a chorar porque este ano o papai (se referindo a eles mesmos) vai levar a Copa].

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Os jogadores já conheciam a letra da música. O zagueiro Nicolás Otamendi filmou os companheiros a cantando no ônibus saindo do estádio de São Petersburgo logo após o jogo contra a Nigéria.

É uma tradição da Argentina. A cada mundial, um grupo de atletas das categorias de base acompanha o time profissional na Copa do Mundo. Pode servir como primeira experiência no torneio para quem anos depois talvez esteja na equipe principal.

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Dos 23 convocados por Sampaoli, cinco foram sparrings no passado: Mascherano (2002), Di María, Fazio e Mercado (2006) e Tagliafico (2010).

Um dos exemplos de tristeza que Mascherano usa para dizer estar “cansado de comer merda” (se referindo à sequência de frustrações pela seleção) é desse tempo.

Há imagens dele na arquibancada do jogo contra a Suécia na Copa do Mundo sediada por Coreia do Sul e Japão. Todos ao redor comemoram o gol de empate de Crespo, anotado nos acréscimos. Menos o volante. Ele sabia que não seria suficiente para evitar a eliminação. A Argentina necessitaria da vitória que não chegou.

“É uma experiência boa para ter o primeiro contato sobre o que representa a seleção argentina e o nível que se espera em um Mundial”, afirma Di María.

Nos treinos em Bronnitsi, Sampaoli usa os garotos especialmente como adversários dos titulares, nas situações em que tenta espelhar o que o próximo rival argentino fará em campo, mas alguns deles podem ser colocados no mesmo time de Lionel Messi.

É o caso de Thiago Almada, 17, meia-atacante  do Vélez Sarsfield. Entre os sparrings na Rússia, ele é o maior candidato a estar no próximo Mundial, no Catar, em 2022, já com a seleção principal.

Almada é comparado a Carlos Tevez pelo estilo que o atacante tinha quando apareceu no Boca Juniors, mas também por ser de Fuerte Apache, o perigoso e pobre bairro da periferia de Buenos Aires de onde saiu o jogador que foi campeão brasileiro de 2005 pelo Corinthians e que hoje está de volta ao Boca depois de jogar na Europa e na China.

“Aprendo muito com eles e os admiro. Cada vez que treinam trato de escutá-los, de olhar o que fazem. Eles me tratam muito bem, com respeito, e me cumprimentam quando nos vemos. Javier Mascherano sempre me pergunta como estou, como me sinto. Sou um pouco tímido e tenho vergonha de falar com eles e pedir conselhos”, disse Almada antes da Copa do Mundo ao diário argentino La Nación.

A ideia dos sparrings nasceu de um clube de Rosário chamado Renato Cesarini, que se dedica apenas a revelar jogadores nas categorias de base. A agremiação costumava levar seus atletas para acompanhar a seleção principal nos Mundiais.

No grupo de garotos que acompanha a seleção de Sampaoli na Rússia há três jogadores do Boca Juniors, equipe mais representada entre os sparrings de 2018.