Quando Croácia e Inglaterra se enfrentarem nesta quarta (11), às 15h, em Moscou, a semifinal da Copa será palco de um embate inédito em contrastes. O time mais antigo do mundo, com 146 anos de futebol, terá como rival o de história mais recente presente na Rússia, com 28 anos.

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Tradicional e com 67 jogos, a Inglaterra entrará em campo com uma geração nova e talentosa, liderada pelo goleador da Copa, Harry Kane, 24.

Do outro lado, um grupo experiente e crepuscular, com destaques provavelmente em sua última Copa, como o capitão Luka Modric, 32. A Croácia disputou na história 21 jogos de Mundial, menos da metade do total do rival.

Como ponto de confluência na trajetória das duas seleções está o ano de 1990. Na Itália, a Inglaterra chegou pela última vez a uma semifinal de Mundial. Falhou diante da rival de sempre, a Alemanha.

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A agonia inglesa remonta, contudo, a 1966, o ano em que os inventores do esporte sediaram a Copa e a venceram, de forma polêmica em uma prorrogação com lances duvidosos, contra a Alemanha.

Não é casual a reedição do hit da Eurocopa que os ingleses perderam em casa em 1996, também na semi contra os alemães, como música-tema do time na Rússia.

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“Three Lions”, entre uma desilusão e outra, diz que “o futebol está voltando para casa”.

Para o grupo do técnico Gareth Southgate, ele mesmo um vilão por ter perdido um pênalti decisivo na derrota de 1996, é uma espera de 52 anos.

Ele evitou comparações. “Nem posso me lembrar daquilo bem [ele nasceu em 1970]”, disse. Sobre a equipe de 1996, “o sentimento dos jogadores é parecido, mas aquele time era mais experiente”, afirmou.

Voltando a 1990, em outubro daquele ano a Croácia usava o futebol para reafirmar sua identidade nacional em meio ao desmoronamento da antiga Iugoslávia, estreando em um amistoso.

Só foi reconhecida pela Fifa como seleção em 1993, ficando fora da Copa do ano seguinte e estreando de forma cintilante com o terceiro lugar obtido na França em 1998.

“[A atual] é uma geração que chega perto da de 1998. Ver o que conseguimos e a estrutura de nosso país é algo inconcebível. A vontade, o sentimento de nacionalismo, é o que nos motiva, é nosso combustível”, disse o técnico croata, Zlatko Dalic.

Desde então, os caminhos dos dois times se cruzaram de forma decisiva duas vezes.

Em 2007, a Croácia venceu a Inglaterra por 3 a 2, eliminando a adversária da Eurocopa do ano seguinte. Estavam em campo, do grupo atual, Modric e Rakitic. Corluka estava no banco. Dois anos depois, o troco da Inglaterra veio num destruidor 5 a 1 sobre os croatas, garantindo a vaga para a Copa de 2010.

Modric não pôde jogar, mas estavam em campo dois titulares do jogo desta quarta: Mandzukic e Rakitic. No banco, o goleiro Subasic -que é dúvida para o jogo desta quarta, assim como Vrsaljko.

No geral, foram sete jogos entre os times desde 1996: quatro vitórias inglesas, duas croatas e um empate.

Times ingleses sempre foram famosos por seus sistemas defensivos, mas Kane rompe esse padrão. Atacante do Tottenham Hostpur, ele já anotou seis gols na Rússia.

Do lado croata, Modric tem sido o maior destaque de uma Croácia que tenta chegar à sua primeira final na história.

Final da Copa terá adversário político da Rússia em campo

O presidente Vladimir Putin não pôde contar com a presença da seleção de seu país na final da Copa, como seria previsível apesar da excelente campanha do time. Mas talvez não esperasse também que, em troca, teria de assistir a um adversário político em campo na final no domingo (15) contra a França.

Se os ingleses vencerem, o constrangimento político de Putin será maior. O governo britânico lidera uma campanha internacional contra ele desde março, quando um ex-espião russo e sua filha foram envenenados numa cidadezinha inglesa.

O governo de Theresa May acusou o Kremlin e promoveu a expulsão de diplomatas russos, com resposta igual de Moscou. Diversos países ocidentais seguiram Londres, gerando o maior expurgo diplomático mútuo da história: 342 afetados. O Kremlin nega envolvimento no crime.

Uma mulher morreu nesta semana supostamente por ter manuseado algo contaminado com o mesmo veneno na região do ataque. A Rússia suspeita de que tudo seja uma armação para prejudicar a imagem de Putin em ano de Copa.

Se a Croácia for à final, o clima não será muito melhor. Além de ter expulso um diplomata russo na crise, Zagreb é antagonista dos interesses de Moscou nos Bálcãs desde o fim da antiga Iugoslávia.

É a maior rival da Sérvia, que por sua vez é considerada pela Rússia como um país irmão por dividir etnia, a religião ortodoxa e o uso do cirílico.

Na Segunda Guerra, fascistas croatas apoiados pela Alemanha nazista promoveram massacres de até 600 mil sérvios.

Na Iugoslávia do pós-guerra, o domínio de Belgrado era ressentido em Zagreb, e o caldo entornou na guerra pela independência croata, em 1991.

Para piorar, um jogador e um auxiliar técnico da Croácia comemoraram a vitória sobre a Rússia de Putin, nas quartas de final, dedicando o feito à Ucrânia.

O país vive grave crise com a Rússia desde 2014, quando um golpe derrubou o governo simpático a Putin em Kiev. O Kremlin retaliou anexando a Crimeia e apoiando separatistas no leste do país.

O funcionário croata foi expulso da Copa. Já o jogador, Domagoj Vida, se desculpou, mas voltou a ser investigado pela Fifa após a revelação de um segundo vídeo, em que diz “queime, Belgrado”.

Do outro lado do campo, a situação é menos complicada. A França tem relações bem mais amenas com a Rússia. Os países estão envolvidos em projetos econômicos, como a exploração do gás no Ártico.

O presidente francês, Emmanuel Macron, esteve no estádio nesta terça (10). Não se encontrou com Putin, mas certamente o fará na final de domingo.