Enquanto policiais prendiam um manifestante solitário, que denunciava a violência contra os gays na Tchetchênia em plena Praça Vermelha, no coração de Moscou, uma espécie de oásis para torcedores homossexuais da Copa russa abria as suas portas ali perto.
Batizado Casa da Diversidade, projeto de uma ONG britânica em parceria com ativistas russos, o espaço é uma pequena sala no centro moscovita onde as partidas do torneio são projetadas num telão.
Na abertura, marcada para coincidir com a partida inicial da Copa, entre Rússia e Arábia Saudita, a ideia era que torcedores desses dois países com histórico de opressão contra homossexuais pudessem ver o jogo sem medo de violência.
Mas poucos se aventuraram. Quando o meio-campista Yuri Gazinski fez o primeiro gol da Copa pela seleção russa, os gritos de gol foram bem tímidos não mais de cinco torcedores ocupavam os pufes com estampa de bola de futebol espalhados pelo gramado sintético na Casa da Diversidade.
No segundo gol russo, de Denis Tcherichev, os seguranças da casa gritaram mais alto que convidados ali, embora eles também já parecessem mais soltos e à vontade nessa hora.
Suas reações mais eufóricas, no entanto, foram ao ver no Twitter a imagem de um ativista russo agitando uma bandeira do arco-íris em plena arquibancada do estádio Lujniki a uns poucos quilômetros dali.
Há sempre um risco de essa casa ser fechada, dizia Mariana Linhan, da Fare, ONG responsável pelo projeto, mostrando a fotografia na tela do celular. Isso só foi possível porque fizemos vários acordos com autoridades e temos guardas na nossa porta aqui.
Mais cedo, no coquetel de abertura do espaço, o responsável por políticas antidiscriminação da Fifa, Federico Addiechi, lembrava que a liberdade de expressão está garantida nos estádios dessa Copa.
É claro que havia uma expectativa muito negativa em relação a um Mundial na Rússia, dizia ele. Mas estamos vendo que conseguimos deixar a comunidade gay internacional muito mais tranquila.
Um ativista gay que assistia à partida de estreia da Copa na Casa da Diversidade, Konstantin Iablotcky contava que havia trabalhado pela criação de um espaço seguro para fãs gays durante eventos esportivos na Rússia durante os Jogos Olímpicos de Inverno, há quatro anos, em Sochi, mas não conseguiu levar a proposta adiante porque faltou apoio.
Em Sochi, aqueles que tentaram mostrar a bandeira do arco-íris foram presos, ele lembra. Aqui agora demos um grande passo rumo à igualdade no universo esportivo.