Foi um urro coletivo de mais de 20 mil argentinos presentes no estádio em São Petersburgo. Um misto de euforia e incredulidade com a maneira como a seleção de Lionel Messi saiu do sufoco e se classificou para as oitavas de final da Copa.

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Uma equipe recheada de atacantes famosos, astros do futebol europeu, capitaneada pelo camisa 10 eleito cinco vezes o melhor do mundo, foi salva por Marcos Rojo, 28, zagueiro que jogou tão mal na estreia contra a Islândia que foi sacado para o confronto seguinte, diante da Croácia. Ele fez o gol que deu à Argentina o 2 a 1 sobre a Nigéria, aos 41 minutos do segundo tempo.

Rojo manteve não só a Argentina viva, como acendeu a esperança de que, a partir das oitavas de final, esta realmente possa ser “a Copa de Messi”, como o técnico Jorge Sampaoli repetiu tantas vezes. No sábado (30), a seleção enfrenta a França, em Kazan.

Foi um instante que levou a torcida do desespero à euforia. Os jogadores ficaram quase dez minutos após o apito final saudando os que viajaram à Rússia.

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Tanta emoção que fez Diego Maradona passar mal. O campeão mundial de 1986 chegou animado, dançou com uma torcedora, comemorou, se afligiu e fez gestos ofensivos quando saiu o segundo gol que mandou a Argentina para o mata-mata. Saiu amparado com amigos e foi atendido por médicos dentro do estádio.

Maradona foi a imagem do torcedor argentino, como já havia acontecido na época em que era jogador. Ele é o maior crítico de Jorge Sampaoli, vaiado estrepitosamente quando seu nome foi anunciado pelo sistema de som.

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Disse em seu programa na TV venezuelana Telesur que o time depende de Messi, o que ficou ainda mais comprovado quando o atacante dominou com a coxa lançamento de Banega e chutou cruzado.

Depois de dias de especulações, rumores de que os jogadores não queriam mais trabalhar com Sampaoli e até fofocas sobre sua vida conjugal, o camisa 10 não desabafou, como seria seu direito.

Correu para a bandeira de escanteio e apontou para o céu, gesto que faz em todos os gols, em homenagem a avó Celia, já morta. Ela a levava para os jogos quando era criança.

Uma celebração como se fosse uma partida qualquer, mas não era. Tratava-se de um dos jogos mais importantes da carreira de um atleta que se acostumou a decisões.

O clima no estádio era elétrico, e a Argentina se comportava de acordo graças à entrada de Banega, um meia que conseguiu dar à sua seleção o que ela não havia tido nos primeiros dois jogos do Mundial. Alguém para trocar passes curtos com Messi e que o desobrigasse de voltar ao campo de defesa para buscar a bola.

Além da vitória argentina, a Islândia não conseguia ganhar da Croácia. O que poderia dar errado?

A Nigéria tem atletas fortes, velozes e um atacante perigoso que levou vantagem todas as vezes que partiu para cima da marcação. Precisava apenas conseguir sair para o jogo, o que aconteceu na etapa final. Foi aí que os sul-americanos começaram a se complicar.

A Argentina nesta Copa é um boxeador com queixo de vidro. Quando leva um golpe, é quase sempre fatal. Não se recupera. Não conseguiu dar a volta por cima após Messi perder pênalti contra a Islândia. Desmanchou-se em campo quando Caballero errou a saída de bola e deu de presente à Croácia o primeiro gol em Nijni Novgorod.

Parecia que sucederia o mesmo em Kazan quando o árbitro turco Cuneyt Çakir viu puxão de Mascherano sobre Balogun dentro da área. Moses empatou.

Sampaoli entrou no perfil destrutivo que o tem caracterizado desde que assumiu o cargo, em junho do ano passado. Mandou Pavón a campo, mas em vez de tirar o mais uma vez apagado Di María, sacou Enzo Pérez, que também não estava bem, mas conseguia ajudar a marcação pelo meio. A Argentina se desequilibrou.

A Nigéria ficou mais próxima do segundo gol. Os gritos contra o treinador ficaram ainda mais fortes.

Cada vez que a torcida tentava empurrar os jogadores argentinos à vitória, com cantos tradicionais ou o “sabes que yo te quiero” (sabes que te quero, em espanhol), o hit da seleção na Rússia, alguém errava um passe e matava o começo de empolgação. Poderia ser Mascherano, poderia ser Mercado, poderia ser Meza (que entrou enfim na vaga de Di María) e poderia até ser Messi, que já não sabia o que fazer para classificar a seleção.

Mais uma vez, faltava à Argentina senso de conjunto. A organização do primeiro tempo havia ido para o ralo e, em situação desesperadora, o treinador agiu de maneira desesperada: colocou Aguero em campo. Com qualquer formação, a rotina era a mesma.

O jogador que pegava a bola no campo de ataque imediatamente levantava a cabeça para ver onde estava Messi. Mesmo que houvesse outro jogador livre, a preferência era do capitão e camisa 10.

O empate classificava a Nigéria e, como a Islândia cismava em perder chances contra a Croácia (acabaria perdendo por 2 a 1), os africanos perceberam que o melhor era esperar. Seria a primeira vez que não perderiam para a Argentina na Copa. Haviam sido derrotados quatro vezes. A última delas em 2014, no Brasil, com um gol de Marcos Rojo.

Claro que o zagueiro contestado, reserva no Manchester United (ING) e que quase não foi chamado, não repetiria a dose. Ou repetiria?

Repetiu em uma finalização de centroavante, que fez Messi montar em suas costas para comemorar. Com um dos maiores atacantes da história na equipe, a Argentina foi salva do vexame por Marcos Rojo.

Foi tanta emoção que fez até a pressão de Diego Maradona desabar.

NIGÉRIA

Uzoho; Balogun, Ekong, Omeruo (Iwobi); Etebo, Mikel, Ndidi, Moses, Idowu; Musa (Nwankwo), Iheanacho (Ighalo). T.: Gernot Rohr

ARGENTINA

Armani; Mercado, Otamendi, Marcos Rojo, Tagliafico (Aguero); Mascherano, Banega, Pérez (Pavón), Di María (Meza); Messi e Higuain. T.: Jorge Sampaoli

Local: São Petersburgo

Juiz: Cuneyt Cakir (TUR)

Cartões amarelos: Balogun (N); Mascherano, Banega (A)

Gols: Messi (A), aos 14min do 1º tempo; Moses (N), aos 5min, e Rojo (A), aos 41min do 2º