Em julho de 1998, o lateral e zagueiro Lilian Thuram, nascido em Guadalupe, fez o que não se esperava dele: marcou dois gols e colocou a França na final da Copa do Mundo pela primeira vez na história.
Vinte anos depois, em julho de 2018, o defensor Samuel Umtiti, filho de Iaundé, capital de Camarões, foi ao ataque e, com uma cabeçada, voltou a colocar a seleção francesa na decisão do Mundial.
Foi o lance que definiu a vitória por 1 a 0 sobre a Bélgica, pela semifinal, nesta terça-feira (10), em São Petersburgo.
“Eu não tenho pinta de artilheiro, mas tive conselhos, inclusive do treinador. O importante é a determinação e o desejo de chegar na frente do meu adversário”, disse Umtiti, que espera agora apagar a decepção da Eurocopa de 2016, quando a França foi derrotada em casa por Portugal.
“Estou muito feliz com o que fizemos. Quero levar a taça de volta para a França”, completou o autor do gol.
A campeã de 1998 espera agora o vencedor do confronto entre Inglaterra e Croácia, que fazem a outra semifinal. A partida será nesta quarta (11), em Moscou, cidade que também receberá o último jogo do torneio, no domingo (15).
A decisão será a terceira dos franceses. Após vencer o título na primeira final que disputou, em 1998, contra o Brasil, a equipe foi derrotada pela Itália na final de 2006 e agora tentará o bicampeonato.
Nenhum outro país esteve tão presente em decisões nos últimos 20 anos. Brasil -finalista em 1998 e 2002- e Alemanha -em 2002 e 2014- ficam atrás dos franceses.
O jogo que garantiu a terceira final em duas décadas teve velocidade, disputas e nervosismo. Mas apenas dentro de campo. Com pequeno número de torcedores nas cadeiras da arena de São Petersburgo, torcedores belgas e franceses pouco foram ouvidos.
Em determinado momento do segundo tempo, a única torcida ouvida foi a brasileira, que tinha ingressos para a partida na esperança de que a seleção de Tite estivesse presente. A Bélgica não deixou que isso acontecesse.
Como a Copa do Mundo é de futebol, não de torcidas, os belgas tinham melhor toque e tentavam sair mais para o jogo. Com liberdade de movimentação, Eden Hazard criava problemas todas as vezes em que pegava na bola.
Duas vezes poderia ter aberto o placar, mas errou o alvo na finalização. Os belgas perceberam que havia um problema de marcação no setor direito da defesa francesa e tentaram explorá-lo.
Não havia cobertura para Pavard. Mas o lateral francês, quando foi à frente, quase fez o gol aos 39 minutos do primeiro tempo. Saiu de frente para o goleiro Courtois, que fez grande defesa.
Quando notou que a Bélgica tinha domínio no meio-campo, Griezmann saiu da ponta direita e começou a jogar como meia. Deu uma opção na saída de jogo para sua equipe, já que Pogba, a principal fonte de criatividade francesa, era marcado de perto por Fellaini no meio.
Nenhum dos dois técnicos tentou surpreender o outro. Roberto Martínez não repetiu a fórmula que apanhou Tite desprevenido nas quartas de final. Lukaku, embora tenha saído do centro do ataque em alguns momentos, não foi um ponta, como aconteceu contra a seleção brasileira.
De Bruyne foi mais armador do que um falso 9. A França fazia de tudo para obter um lançamento para Mbappé em velocidade.
Deu certo uma vez antes do intervalo. O atacante cruzou para Giroud, que ainda não fez gols na Copa do Mundo. Ficou explicado o motivo. O centroavante finalizou fraco, mal e sem direção.
A França precisou de apenas uma jogada no segundo tempo para colocar a Bélgica em estado de desespero.
Aos cinco minutos, Umtiti se antecipou à zaga adversária na cobrança de escanteio e fez o 1 a 0, que definiu o jogo.
Foi a senha para a equipe de Didier Deschamps recuar, deixar apenas Griezmann ou Mbappé no ataque e esperar para sair em velocidade.
Aconteceu três vezes, mas em todas Mbappé tentou o passe em vez do lance individual e nada aconteceu.
A Bélgica precisava cada vez mais de Hazard, e ele buscava a bola e se deslocava. Armada na defesa e pronta para o bote decisivo, a França não dava espaço. A solução belga era tentar os chutes de fora da área (Witsel e De Bruyne arriscaram três vezes) e fazer cruzamentos para aproveitar as alturas de Fellaini e Lukaku. Para ter mais jogadas de linha de fundo, entrou Mertens.
Era questão de tempo. Não havia resposta que a equipe de Roberto Martínez pudesse dar para conseguir o empate.
A França deixou o jogo correr e sua torcida encarou a vitória com ar blasé. Dava a impressão de que pouco importava. Tal qual Thuram há 20 anos, Umtiti foi outro defensor a colocar sua seleção mais uma vez na final da Copa do Mundo. Tolisso ainda desperdiçou uma grande oportunidade para anotar o segundo, nos acréscimos.
FRANÇA
Lloris; Pavard, Varane, Umtiti, Lucas Hernandez; Pogba, Kanté, Matuidi (Tolisso); Mbappé, Griezmann, Giroud (N’Zonzi). T.: Didier Deschamps
BÉLGICA
Courtois; Alderweireld, Kompany, Vertonghen; Witsel, Dembele (Mertens), Fellaini (Carrasco), Chadli (Batshuayi), De Bruyne; Lukaku, Hazard. T.: Roberto Martinez
Local: São Petersburgo
Juiz: Andres Cunha (URU)
Cartões amarelos: Kanté, Mbappé (França); Hazard, Alderweireld, Vertonghen (Bélgica)
Gol: Umtiti (F), aos 5min do segundo tempo
