Era para ser lindo, mas as festas movidas a espumante, vinho e coquetel com espuma, para marcar a estreia da seleção de Tite na Copa do Mundo da Rússia, acabaram com um gostinho amargo de limonada suíça. Sem açúcar ou adoçante.
Antes das 13h, a torcida, animadíssima, já lotava arquibancadas e mesas da Arena Renaissance, montada com telão e barraquinhas gourmet, numa área de 450 m², ao lado do luxuoso hotel nos Jardins, área nobre de São Paulo.
O chef-executivo do hotel, Gayber Silveira, 54, e sua equipe de 30 funcionários elaboraram um menu especial para o evento: galinhada, queijo coalho com melaço, pasta com ragu de linguiça, tábua de frios, com preços que variavam entre R$ 20 e R$ 35, a porção.
Para beber, caipirinha de frutas vermelhas ou carambola (R$ 20), além de vinhos argentinos, chilenos, franceses e africanos, R$ 25, a taça.
Todos os preços ali podem ser considerados honestos para uma cidade tão cara como São Paulo. Melhor ainda, o acesso ao local era gratuito.
Quem esperava a entrada em campo de Neymar e cia. em grande estilo apostava logo de cara R$ 250 em uma garrafa de Joseph Faiveley Chablis. Branco, fresco, no melhor estilo dos vinhos franceses dessa subregião na Borgonha.
Vinho, por sinal, era a bebida da advogada Andréia Fistarol, 29, paraense de Uruará, há três meses vivendo em São Paulo. De salto alto -“rasteirinha é só para ir ao supermercado”-, usava calça jeans e uma blusa verde, única referência às cores da seleção brasileira.
“Camiseta oficial não dá. O verde-amarelo ficou exposto demais. Acabou ligado a movimentos dos quais não compactuo”, foi logo dizendo.
Andréia estava confiante na vitória do Brasil contra a Suíça por 2 a 1. Não rolou.
Com colete de pelos, shortinho jeans, blusa de tricoline branca, cinto de corda dourada (“comprado em Los Angeles”, frisou) e botas pretas, tipo coturno, a biomédica Jennifer Antonietti, 26, estava na festa para celebrar, independentemente do resultado.
“Um lugar assim só existe em São Paulo. Aqui, a gente pode se produzir, se vestir bem e se arrumar para sair”, defendeu a moça, que mora em Sinop, em Mato Grosso, um dos maiores municípios produtores do soja do país.
Ela veio a São Paulo participar de um congresso em sua área: estética. Depois do empate sem graça do Brasil, embarcou de volta para MT.
O empresário Gilberto Faria, 44, não conseguiu lugar nas mesinhas nem nas arquibancadas. Melhor para ele. Sentou-se em frente ao bar. Pediu duas garrafas de espumante e começou a torcer.
Minutos após o gol de Philippe Coutinho, recarregou o balde com gelo e mais duas garrafas, na esperança de assistir a um segundo tempo mais empolgante. Que nada.
Para a secretária Eva Garcia, 32, que vestia azul do chapéu às botas de couro, cachecol verde de bolinhas amarelas, o entusiasmo da população em relação à seleção brasileira virá no decorrer dos jogos.
“Nossa desesperança com a política e a economia do país não pode ser transferida para o time”, defendeu. “A seleção ainda pode nos proporcionar alguma alegria, por mais efêmera que ela seja.”
Se ainda no primeiro tempo, o Sol ensaiava dar as caras, o segundo foi marcado por nuvens carregadas e frio mais intenso em São Paulo.
No Itaim Bibi, zona oeste da capital, os frequentadores do Tessen Lounge, restaurante de culinária contemporânea com sushi bar, estavam todos quentinhos, apesar do clima.
No rooftop, um telão de 3 m x 4 m, ao fundo de um espelho d’água, exibiu a disputa. Oito potentes aquecedores permaneceram ligados o tempo todo. Um garçom passava pela área distribuindo mantas com a logomarca do Tessen.
Para os jogos da seleção, o espaço, que ocupa três andares de um edifício com fachada em concreto aparente, irá cobrar um valor de entrada que varia de R$ 50 (mulheres) a R$ 100 (homens), explica o gerente de terno impecável Jhun Maeda, 36, fone discretamente ligado ao ouvido.
Um dos drinques que casou bem com a partida foi o Wasabi Sour: saquê, Tanqueray, famosa marca de gin inglês, pasta de wasabi, limão e espuma de gengibre, R$ 32.
Para beliscar, Nori Taco (salmão, atum spicy ou siri mole) -afinal, o México tirou de leve o gostinho azedo da nossa garganta ao superar a Alemanha por um simples 1 a 0, mas, como a gente sabe, o importante no futebol é vencer.
Dentro do restaurante, quatro TVs de 60 polegadas estavam espalhadas pelo amplo salão com pé-direito de 9 m.
Só faltou a vitória!