A finalíssima entre França e Croácia levará a Moscou dois dos chefes de Estado mais pops da Europa, os jovens presidentes Emmanuel Macron, 40, e Kolinda Grabar-Kitarovic, 50.
Enquanto os charmes do francês são conhecidos desde sua ascensão meteórica ao Eliseu, em 2017, a croata tem roubado a cena na Copa com um bem elaborado plano de exposição pública.
No dia 1º, ela embarcou num avião comercial, na classe econômica, e rumou a Nijni Novgorod para assistir seu time derrotar a Dinamarca das arquibancadas.
No caminho, selfie com passageiros, envergando a camisa da seleção. Depois do jogo, uma visita ao vestiário com atletas surpresos ao ver, alguns de cueca, a presidente.
“Sou uma fã como qualquer outra”, disse ao site russo Sportbox. Ganhou as redes sociais, particularmente as contenciosas do Brasil, como exemplo de moralidade no uso do dinheiro público.
Pode ser, mas nem sempre foi assim e um episódio talvez explique a preocupação dela.
Em 2010, quando Kolinda era embaixadora croata nos EUA, ela e seu marido foram pegos usando carros oficiais para fins privativos.
A croata disse que era impossível separar trabalho de vida social na sua função, mas reembolsou os gastos do marido, Jakov, com quem se casou em 1996 e tem uma filha e um filho adolescentes.
No jogo seguinte, estava ao lado do premiê Dmitri Medvedev em Samara quando a Rússia foi derrotada nos pênaltis pelos croatas, nas quartas de final do Mundial. Usando xadrez vermelho e branco, como o brasão do país e a camisa número 1 da seleção, fez até dancinha da vitória.
Na semifinal, de novo em Moscou, enviou o seu primeiro-ministro para ver a Croácia derrotar a Inglaterra. Estava na cúpula da Otan, aliança militar ocidental, mas não perdeu tempo: deu uma camisa da seleção para o americano Donald Trump.
A carreira de Kolinda se confunde com a história recente da Croácia. Aos 17 anos, ela saiu da então Iugoslávia para estudar nos EUA. Voltou e formou-se em inglês e espanhol -fala também português fluente.
Voltou a estudar fora e especializou-se em política externa. Entrou no governo recém-criado do país um ano após a independência, com a guerra civil em curso, em 1992.
No ano seguinte, filiou-se à conservadora HDZ (União Democrática Croata). O partido tem em suas franjas elementos de extrema-direita, na nacionalista Croácia quase sempre associada ao regime do Ustase -grupo fascista que governou o país na Segunda Guerra Mundial.
Kolinda sempre buscou apresentar-se como uma nacionalista moderada. Presidente, se recusou a introduzir nas Forças Armadas a saudação fascista que vem pipocando nas arquibancadas da Copa (“Za dom, srpemni!”, ou “Pela terra, pronto!”).
Voltou dos EUA e, pró-ocidental, trabalhou no governo pela entrada do país na União Europeia, em 2013. Depois, assumiu um cargo na Otan.
Ela foi eleita a quarta presidente da Croácia, num apertado segundo turno em 2015. É a primeira mulher e a mais jovem, então com 46 anos, ocupante do cargo -deixou o HDZ, já que no país presidente não pode ter partido.
Católica como a maioria de seus compatriotas, ela é contra o casamento religioso entre gays, mas a favor da união civil homossexual. Em outra oposição ao Vaticano, defende o direito ao aborto, que é liberado na Croácia.
Kolinda já teve problemas com as mesmas redes sociais. Em 2016, correram o mundo fotos que seriam dela em biquíni, com os devidos comentários machistas. Não era ela, e sim uma modelo americana parecida com a presidente.